cap 09

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Kay sentia o ar pesado do lado de fora, como se o ambiente ao redor estivesse esperando por algo sombrio. O silêncio perturbador da noite só era interrompido pelo farfalhar das folhas sob seus pés enquanto ele avançava furtivamente ao redor da casa. Cada movimento calculado, o coração acelerado e as mãos suando, ele sabia que havia algo à espreita. Precisava confirmar se alguém os estava vigiando.

Ao se aproximar da borda da floresta que circundava a propriedade, Kay viu três figuras. Elas estavam paradas no limite da escuridão, suas silhuetas deformadas, esqueléticas e alongadas, contrastando com a fraca luz da lua. Eram claramente de Sete Além, e Kay percebeu imediatamente o perigo que representavam. Ele sempre soube que uma hora chegaria o momento em que seriam descobertos. Erin era uma humana, e a presença dela em Sete Além os tornava alvos inevitáveis.

Ele cerrou os punhos, sentindo a familiar raiva fervilhar dentro dele, mas manteve-se quieto. Observava, sem ser notado, ou pelo menos, era o que ele pensava. O líder das criaturas, o maior dos três, virou lentamente a cabeça em sua direção, seus olhos brilhando como se fossem feitos de metal incandescente.

–Sabemos que você está aí - disse uma voz áspera e distorcida, rasgando o silêncio da noite.

Kay apertou os dentes, e seus músculos se enrijeceram. Estava em desvantagem, mas não poderia mostrar fraqueza.

–A humana–continuou outra criatura,
avançando um passo. Sua pele parecia se esticar sobre ossos finos e pontiagudos, e um sorriso sinistro se formou em seu rosto. –Sabemos que está aqui. Podemos sentir o cheiro dela. Carne humana. - Ela lambeu os lábios com uma língua bifurcada e encharcada de saliva. - Nós a queremos.

Kay ergueu a cabeça, suas mãos tremendo levemente enquanto se preparava para o pior.

– Vocês não vão tocá-la - ele disse, a voz carregada de uma determinação fria, mas o medo ainda ali, palpitando.

A terceira criatura, menor e disforme, gargalhou, uma risada insana que ecoava como o som de vidro estilhaçando.

–Não precisamos de sua permissão, garoto. Vamos tomar o que é nosso. Vamos devorá-la. Dilacerá-la. Ela será apenas ossos quando terminarmos– disse a criatura, suas garras cintilando à luz da lua.

Kay sabia que não poderia permitir que essas coisas se aproximassem de Erin. Ele estava sozinho, sem nenhuma saída fácil. Seu instinto lhe dizia para correr, mas ele permaneceu firme. Erin estava lá dentro, e ele precisava ser a barreira entre ela e o terror do lado de fora.

–Se vocês se aproximarem mais, eu juro que não saem daqui vivos– Kay rosnou, sacando uma adaga fina e prateada que sempre carregava consigo, uma arma especial, feita para combater as aberrações de Sete Além.

As criaturas riram, as risadas grotescas enchendo a noite com uma sensação de inevitabilidade sombria. O líder deu mais um passo à frente, erguendo a mão como se fosse dar a ordem para atacar.

Kay agiu antes que pudessem avançar mais. Ele investiu contra a criatura mais próxima, o braço forte e preciso, cravando a lâmina em sua barriga pútrida. A criatura soltou um grito estridente e recuou, mas Kay não hesitou. Ele girou a adaga em sua carne, abrindo um rasgo profundo. O cheiro de podridão e sangue encheu o ar. O monstro caiu no chão, seus gritos agonizantes ecoando.

O líder não pareceu abalado com a morte de seu comparsa. Em vez disso, sorriu, mostrando dentes afiados e desiguais.

–Isso foi um erro, garoto. Agora você será o próximo.

Kay mal teve tempo de reagir antes que o líder avançasse com uma velocidade impressionante. O monstro o empurrou para o chão, cravando as garras em seu ombro. A dor foi instantânea e brutal, mas Kay não desistiu. Ele usou a perna para derrubar o monstro, empurrando-o para longe antes que pudesse rasgá-lo ainda mais.

O segundo monstro, no entanto, já estava avançando por trás. Kay virou-se a tempo de se esquivar de um golpe mortal, sentindo o vento cortante passar ao lado de sua cabeça. Ele se levantou rapidamente e correu em direção à adaga que havia caído, pegando-a no último segundo antes de girar e cravá-la no pescoço da segunda criatura. Esta balançou por um momento antes de desabar, os olhos opacos e sem vida.

Agora só restava o líder. Ele rosnou e avançou novamente, mas desta vez Kay estava pronto. Com um movimento ágil, desviou do ataque e enfiou a adaga diretamente no peito do monstro. O líder urrou, tentando se livrar, mas Kay pressionou a lâmina com toda a sua força, sentindo o corpo do monstro tremer antes de cair morto ao chão.

O ar ficou pesado, e Kay estava ofegante, suado e ensanguentado. Seus ombros doíam, e o corpo tremia de adrenalina. Ele olhou ao redor, certificando-se de que não havia mais nenhum perigo iminente. O chão ao seu redor estava encharcado de sangue das criaturas, e o silêncio que se seguiu foi esmagador.

O que Kay não sabia era que Erin havia visto tudo. Pela janela do segundo andar, ela o observava, o coração acelerado ea mente em pânico. Ela não havia feito barulho, apenas se manteve escondida atrás da cortina, com medo de que as criaturas a descobrissem.

Quando Kay finalmente se afastou dos corpos e se embrenhou na escuridão da floresta para garantir que não havia mais nada espreitando, Erin recuou lentamente da janela, o corpo tremendo. Ela tinha visto o quanto ele era capaz de lutar, o quanto estava disposto a arriscar para protegê-la, mesmo sem que ela pedisse.

Mas, ao mesmo tempo, ela percebeu o quanto estava vulnerável ali, e o quanto Kay estava disposto a sacrificar para mantê-la segura.

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