Encontro com passado e o choque com o presente

0 0 0
                                    

No dia seguinte, após um dia aparentemente tranquilo, o sol começava a se despedir, pintando o céu com tons de laranja e rosa enquanto o sol se escondia no horizonte. A luz suave invadia o quarto de Eduardo, projetando sombras alongadas nas paredes e criando um ambiente quase nostálgico. Otávio, sentado na poltrona ao lado da janela, observava o ambiente ao seu redor com um olhar perdido.

Ele nunca tinha se dado conta de como o quarto de Eduardo refletia a personalidade dele: organizado, porém com toques de uma vida vivida intensamente. Livros dispostos em estantes, lembranças de viagens emolduradas, e entre esses objetos, um porta-retratos chamou sua atenção.

Era uma foto antiga, quase desbotada pelo tempo, mas ainda carregada de significados profundos. Otávio se levantou, pegando o porta-retratos com cuidado.

Na foto, dois garotos sorriam amplamente, seus rostos iluminados pela alegria inocente da infância. Eles estavam sujos, com as roupas amassadas, evidências de uma brincadeira que certamente envolveu correrias e travessuras. Era ele e Eduardo, há muitos anos, quando a vida era mais simples e os maiores problemas se limitavam a quem chegava primeiro no topo da árvore.

A imagem trouxe uma onda de lembranças, levando Otávio de volta àquela época, em que ele e Eduardo eram inseparáveis. Em sua mente, ele pôde ouvir o som de seus risos, sentir o vento em seu rosto enquanto corriam, apostando quem chegaria primeiro. Uma memória específica emergiu, clara como o dia. Ele se viu naquela velha escadaria da igreja, ofegante após a corrida que havia empatado com Eduardo.

Na memória, os dois se sentavam lado a lado, compartilhando uma garrafa de água que Eduardo havia trazido. Otávio, sempre competitivo, olhou para o amigo com uma curiosidade que só as crianças possuem.

- Como você sempre me alcança, Edu? Eu estava bem na frente, você estava bem lá atrás - Eduardo, ainda rindo, deu de ombros e respondeu com a simplicidade que só uma verdadeira amizade pode oferecer.

- Não importa o quão longe você chegue, Otávio. Eu sempre vou te alcançar. -Otávio na memória deu uma risada, aceitando a resposta como se fosse uma verdade universal. Aquela lembrança, tão simples, mas tão cheia de significado, ressoou no coração de Otávio, trazendo à tona sentimentos que ele preferia manter enterrados.

O som da porta se abrindo o trouxe de volta ao presente. Eduardo entrou no quarto, sua expressão mostrando uma leve surpresa ao ver Otávio ali, segurando o porta-retratos.

- Otávio? O que está fazendo aqui? - Otávio, ainda sentindo o peso das lembranças, colocou o porta-retratos de volta no lugar, tentando esconder o turbilhão de emoções que se agitou dentro dele. - algum problema?

- Eu vi um cara rondando a sua casa. não era um policial, mas tenho quase certeza de que foi enviado pelo delegado.

- Então ele já sabe?

- Sim, e como o policial Rafael disse...

- Não fala esse nome - retrucou Eduardo

- Aconteceu alguma coisa? - Otávio perguntou confuso

- O que você fez com ele? O cara que estava rondando por aqui? - Eduardo perguntou mudando de assunto

- Dei um susto nele, ele vai ficar longe por um tempo, mas você precisa ter cuidado, especialmente com a Fernanda, até que o delegado seja preso. - Eduardo franziu o cenho, absorvendo a informação. O clima no quarto ficou tenso, o peso da situação atual se sobrepondo às lembranças do passado. Mesmo assim, Eduardo não pôde deixar de sentir a velha camaradagem entre eles. Olhando profundamente nos olhos de Otávio

- E você, Otávio? Quão longe você chegou? - Otávio hesitou, sentindo a intensidade do momento. Ele sabia o que Eduardo queria dizer, e as palavras que vieram em resposta carregavam o peso de sua jornada solitária.

Recomeçar é PossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora