Uma conversa inesperada 📿

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“ Alimente seu corpo com comida e água, seu espírito com sexo e música e sua mente com sabedoria ” 

Eleonor Ferrara

A luz suave do abajur banha o ambiente com um tom quente, mas isso não consegue aquecer a turbulência que se passa dentro de mim.  —  No silêncio da minha casa as palavras de Francesco ainda ecoam em minha mente, aquela revelação tão sincera.

Nem mesmo esse chá que fiz, consegue amenizar o peso que sinto no peito.  —  Um peso de culpa, por não  conseguir corresponder os sentimentos de Francesco da forma que ele merece.  —  Isso seria tão mais fácil, ele é um homem que posso ter, mas não quero.  —  Ele é perfeito, mas não posso entrar em uma relação sabendo que desejo outro homem.  —  Vincenzo, é ele que quero. Ainda lembro daquele "beijo", pude sentir seu desejo reprimido e a culpa.  —  Queria poder sentir o calor de Vincenzo, aquele simples toque que dei em sua mão, mesmo com sua hesitação, fez eu me sentir viva como nunca antes.  —  Merda.

— Por que você não sai da minha cabeça?  — Pergunto a mim mesma.

Tudo me puxa para Vincenzo, e a lembrança daquele "beijo".  —  Não posso estar me apaixonando.  —  Ele é apenas mais um jogo sádico meu, apenas isso.

As lembranças, a culpa, tudo parece me sufocar. Preciso de tempo para entender o que realmente quero.  —  Talvez me afaste de tudo, por um tempo.  —   Uma viagem, essa talvez seja a pausa que preciso para respirar, pensar e quem sabe encontrar alguma clareza.

Uma batida na porta me traz de volta a realidade.  — Quem pode ser?

Não consegui esconder a surpresa quando abri a porta e dei de cara com Vincenzo, vestido com sua batina.

— Padre Vincenzo…  — Falo, mas ele me interrompe com um gesto gentil.

— Eleonor, precisamos conversar  — Ele diz com firmeza.

Dei passagem para que ele entrasse, podendo assim sentir seu perfume amadeirado.  —  Seu olhar achou o meu, e era notável sua confusão.

— Eu vim porque preciso ser honesto com você… e comigo mesmo  — Disse, enquanto escolhia as palavras com cuidado.

Me aproximei dele, deixando a distância entre nós quase invisível.

— O que sinto por você, Eleonor, é algo que nunca pensei que sentiria, e isso me assusta. Mas também sei que fiz um compromisso, não só com Deus, mas com a vida que escolhi.

Te-lo parado na minha sala, tão próximo não está me deixando raciocinar direito, seu cheiro está me enfeitiçando.  —  Sem pensar o puxo para um beijo, Vincenzo parece assustado por um breve momento, mas em seguida retribui o beijo, afundando sua língua em minha boca, minha mão deslizou por sua nuca, e o sinto se arrepiar. 

Senti uma de suas mãos descer por minhas costas parando em minha cintura.  —  O mundo parecia ter acabado e apenas nós dois existimos aqui, um calor percorre meu corpo, e por impulso o empurro para o sofá, subindo em cima dele, Vincenzo estava queimando de desejo tanto quanto eu, nossas bocas se encontraram novamente, nossas línguas fazem uma dança quente.  —  Sinto sua excitação, quando seu membro duro roça em minha coxa.  —  Mas infelizmente essa foi a última coisa que sinto, já que em um movimento rápido Vincenzo me tira de cima dele, se levantando em seguida.

— Não posso continuar assim, dividido entre dois mundos  —  Disse tentando recuperar o fôlego  — Sei que você talvez não entenda, mas preciso seguir minha fé, meu chamado. E para isso, preciso que se afaste de mim  — Sua voz era firme , mas seus olhos o traem.

Levo um tempo para assimilar aquilo.

— Eu entendo, padre Vincenzo  — Disse com a voz firme  — E apesar de tudo, respeito sua decisão  — Digo ríspida.

Vincenzo assenti, indo em direção a porta.  — Mas antes de sair, seus olhos encontram os meus.

— Que Deus esteja com você, Eleonor  — Disse quase como uma prece.

— Dispenso, padre.

Então ele finalmente se vai.  — E com isso, com essa visita, ele me deu a certeza que precisava. Me afastar por um tempo é tudo que preciso.  — Amanhã resolverei tudo que preciso por aqui, e depois partirei para umas boas férias.

Como planejado, consegui deixar tudo em ordem na empresa, Francesco tomará conta de alguns projetos que não necessitam de tanta atenção no momento.  — Agora só preciso avisar a vovó, que ficarei fora alguns dias.


— Vovó  — Digo ao telefone

— Olá, minha querida, como está?

— Bem vovó e a senhora? 

— Muito bem, minha querida, aconteceu alguma coisa?  — Pergunta preocupada

— Não aconteceu nada demais vovó, apenas terei que me ausentar por alguns dias, e não poderei levá-la na missa  — Como sou covarde, liguei apenas para não encarar a cara de tristeza dela — Mas deixei um motorista responsável para levar e trazer a senhora todos os dias.

— Não precisa se preocupar com isso querida  — Fala com compreensão  — Mas me diga, o que aconteceu para ter que se ausentar, te conheço docinho  — E ela conhece mesmo.

— Alguns problemas pessoais vovó, nada que precise se preocupar  — Digo tranquilizando-a  — E por favor nem pense em não aceitar o motorista, eu instinto e serão apenas alguns dias.

— Tudo bem querida, mas quando voltar quero saber o que realmente está acontecendo  — Fala séria do outro lado da linha  — Espero que esteja de volta antes da festa de caridade da igreja, padre Vincenzo já deve ter lhe entregado um convite, não?

Então foi assim que ele descobriu meu endereço.

— Entregou sim vovó, mas não tive tempo de olhar com atenção  — Tento passar firmeza nas palavras  — Fiquei presa em um grande projeto, mas me diga quando será essa tal festa?

— No próximo mês, querida  — Diz animada.

— Estarei de volta antes disso vovó, ficarei apenas alguns dias fora.

— Ta Bom querida, boa viagem.

— Obrigada vovó, até breve  — Digo desligando.

Agora posso viajar tranquilamente.

Meu doce Pecado 📿Onde histórias criam vida. Descubra agora