"O verdadeiro arrependimento é a busca por uma vida santa, obedecendo aos mandamentos de Deus"
Vincenzo Santoro
Acordo no meio da noite, no quarto escuro, o silêncio é interrompido apenas pela minha respiração pesada. Eleonor dorme ao meu lado, sua mão descansa suavemente sobre meu peito. Por um instante, me perdi no calor de seu toque, na paz que sua presença me proporciona. Mas a realidade recai sobre mim como uma marreta, esmagando o resquício de serenidade que ouso sentir.
O que eu fiz? Meu coração bate num ritmo insano. Eu, um servo de Deus, um padre, quebrei meus votos de castidade e, pior, permiti que, o desejo dominasse minha fé. Eleonor suspira baixinho, se mexendo no sono, e, esse gesto inocente, me faz ver o reflexo do pecado que cometemos juntos.
Não é culpa dela. Nao pode ser. Eu sou fraco. Eu devia ter me afastado, resistido. Minhas mãos tremem enquanto afasto a mão dela, com cuidado para não acordar ela. Eu preciso sair daqui, fugir desse quarto que agora se tornou um altar de vergonha.
📿
Me levanto devagar, meus pés descalços quase não fazem barulho no chão frio. Visto minha roupa, o tecido pesado da batina parece se enrolar ao meu redor, me prendendo, como se soubesse da minha traição. Olho para ela uma última vez. Eleonor. Aquela que acendeu em mim sentimentos que eu não devia ter alimentado. Aquela que, sem saber, me fez quebrar minha promessa mais sagrada.
Eu não posso ficar. Não posso enfrentar o olhar dela pela manhã. Não posso permitir que essa loucura continue. Pego um pedaço de papel na mesa do lado da cama e, ainda com mãos trêmulas, rabisco algumas palavras:
" Tudo isso foi um erro. Não deveria ter acontecido. Eu renego tudo que aconteceu entre nós em nome da batina. Me perdoe. Vincenzo."
Deixo o bilhete ao lado dela, preso sob a base de um abajur, e saio. A cada passo que dou para longe do quarto, o peso da culpa cresce sobre meus ombros, como se uma mão invisível me puxasse de volta. Mas continuo. A grande porta de madeira se fecha atrás de mim, e me vejo na rua escura, o ar da madrugada frio bate em meu rosto se misturando com o suor que escorre da minha testa.
📿
Enquanto caminho pela cidade vazia, a sensação de desespero cresce dentro de mim. Eu me sinto sujo, impuro, como se uma camada de escuridão estivesse agora se agarrado à minha alma. A batina parece pesar mais a cada passo, como se fosse feita de chumbo, e não de tecido. Começo a murmurar orações, implorando a Deus por perdão, por um sinal de que exista alguma redenção para mim.
Mas o silêncio é a única resposta.
📿
Volto para a igreja antes do amanhecer. O cheiro familiar de incenso e madeira velha que geralmente me trazem conforto agora parece sufocante. Caminho até o altar, onde uma vez senti a presença divina com tanto vigor, e me ajoelho, fechando os olhos.
- Senhor, eu pequei... - As palavras saem em um sussurro, quase inaudível.
Um peso pressiona meu peito, tornando minha respiração difícil.
- Eu falhei com o Senhor, falhei com a minha vocação. Pequei contra ti, contra o meu chamado, contra... ela.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto sem que eu perceba. A culpa me inunda como uma maré impossível de controlar.
Como permiti que isso acontecesse? Como pude me afastar tanto do meu caminho?
Cada vez que fecho os olhos, vejo o rosto de Eleonor, sinto seu toque, ouço seu riso, e um misto de sentimentos me golpeia com força.
Culpa e desejo se misturam numa dança cruel em meu peito. Eu ainda desejo ela. É insano, é pecado, mas é a verdade. No entanto, cada vez que lembro do que fizemos, do prazer que compartilhei com ela, sinto como se algo se tivesse quebrado dentro de mim. Algo que não pode ser consertado.
Por que Deus permitiu que eu a conhecesse, que esses sentimentos surgissem em meu coração? Eu sempre fui fiel, sempre segui o caminho que traçou para mim. Então, por que agora me deixa nesse desespero, nesse abismo de incerteza?
📿
As horas passam, e continuo aqui, prostrado diante do altar, com a alma presa entre o amor profano e o amor divino, entre a culpa e o desejo. Eu não sei se posso me redimir. Não sei se consigo enfrentar Eleonor novamente, ou se ela vai me perdoar por tê-la abandonado daquela forma, no meio da noite, igual a um covarde. Mas acima de tudo, eu não sei se Deus vai me perdoar.
Por enquanto, o único consolo que tenho é o silêncio da igreja ao meu redor e a esperança, por mais tênue que seja, de que, de alguma forma, tenha uma maneira de consertar tudo isso. Mesmo que, no fundo, eu saiba que algumas coisas, uma vez quebradas, nunca podem ser consertadas.
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Meu doce Pecado 📿
RomanceSinopse. 📿 O que um homem de Deus é capaz de fazer quando o diabo em pessoa entra em sua vida, testando sua fé, fazendo-o duvidar de sua crença? A fé supera o desejo? Um homem de Deus é capaz de suportar a luxúria que insiste em bater à sua porta...