“ Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa ”
Vincenzo Santoro
O sol já está alto quando saio da sacristia após mais uma manhã de missa e confissões. — O tempo continua se arrastando, mas ainda tento me manter ocupado para afastar os pensamentos sobre Eleonor. Embora sinta o vazio, estou começando a aceitar a ideia de que ela realmente se afastou, talvez seguiu sua vida e já esqueceu o que aconteceu entre nós.
No entardecer, decidi caminhar pela cidade, na esperança de clarear a mente. — O sol já começa a se pôr, tingindo o céu de tons dourados e laranja. Enquanto passo por uma praça movimentada, meus olhos captam uma figura familiar. Eleonor. Meu coração dá um salto, seguido por uma onda de emoções que não esperava sentir.
Ela está rindo, a cabeça inclinada para trás, os cabelos pretos brilhando sobre a luz do sol. — Mas o que realmente chamou minha atenção foi um homem ao lado dela, alto, bem vestido, com um sorriso que exala confiança. — Ele segura a mão de Eleonor com uma familiaridade que faz algo dentro de mim se contorcer.
Minhas pernas se prendem ao chão, uma sensação que nunca experimentei antes, toma conta de mim. — É ciúmes. — Puro, ardente e implacável, tento afastar o sentimento, dizendo a mim mesmo que não tinha o direito de sentir isso, que pedi para ela se afastar. — Mas é inútil, ver Eleonor tão feliz ao lado de outro homem é como uma faca enfiada em meu peito.Sem perceber, começo a caminhar em direção a eles, meus passos são rápidos e determinados. — Minha mente grita para parar, mas meu corpo está sendo movido por uma força que não posso controlar. Quando estou a poucos metros, Eleonor finalmente me vê. Seus olhos se arregalaram por um momento, surpresos. — E então um sorriso se forma em seu rosto.
Minha presença foi notada não apenas por Eleonor, mas também pelo homem que está acompanhando ela, que em um gesto protetor, coloca a mão em seu ombro, como se estivesse marcando seu território. — Isso foi a gota d’água para mim, todo o autocontrole que cultivei nas últimas semanas desmoronou.
— Eleonor — Minha voz saiu mais firme do que pretendia — Quem é este homem?
Ela recua ligeiramente, mas rapidamente recupera a compostura.
— Padre Vincenzo, este é Francesco, um grande amigo — Responde calmamente, por mais que note a inquietação em seus olhos.
— Amigo? — Cuspo a palavra, com os olhos fixos na mão do tal Francesco — E desde quando amigos andam assim, de mãos dadas?
Francesco solta o ombro de Eleonor e dá um passo à frente, se colocando entre mim e ela, sem perder a compostura.
— Padre, eu respeito o senhor e o que representa, mas não acho que tenha o direito de questionar a vida pessoal de Eleonor — Disse Francesco firmemente, mas ainda educado.
Suas palavras foram como um tapa na cara. Eu sei que ele está certo, sei que, como padre, não tenho nenhum direito sobre Eleonor, mas o ciúmes dentro de mim grita o contrário. — Meu peito sobe e desce rápido demais, o conflito entre a razão e minhas emoções está me consumindo.
Eleonor, percebendo a situação, dá um passo em minha direção, tentando aliviar a tensão que se formou.
— Padre Vincenzo — Disse com uma voz suave — Podemos conversar, por favor?
Francesco olha em direção a ela, entendendo a situação e se afasta.
— Vou te esperar no carro Elen — E com isso ele se afasta.
— Padre, o que foi isso? Eu me afastei como pediu, e estou seguindo em frente — Eleonor diz, com os olhos presos aos meus.
— Você seguiu em frente… — Repito sua última fala — Mas eu… eu..
As palavras ficam presas na minha garganta, não consigo completar a frase, porque sei que se fizer isso, estarei admitindo para mim mesmo algo que até agora estava tentando negar; eu não tinha conseguido seguir em frente, que o sentimento por Eleonor ainda queima dentro de mim, forte e incontrolável.
Me sinto incapaz de continuar, virei-me abruptamente saindo apressado, sem olhar para trás. — Preciso me afastar antes que faça algo que comprometa tudo o que eu represento. A voz de Eleonor chamando meu nome, me seguiu por alguns metros, mas não parei. — Cada passo é uma luta para manter a fachada, para não deixar que o turbilhão de emoções me destrua.
De volta a igreja, entro no pequeno confessionário vazio e caindo de joelhos, meu corpo treme. — O que aconteceu comigo? Como deixei meus sentimentos chegarem a esse ponto? Rezo, mas dessa vez as palavras não me trazem consolo. O ciúmes, a raiva, o desejo ainda pulsam dentro de mim. — A batalha interna que enfrento está longe de terminar.
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Meu doce Pecado 📿
RomanceSinopse. 📿 O que um homem de Deus é capaz de fazer quando o diabo em pessoa entra em sua vida, testando sua fé, fazendo-o duvidar de sua crença? A fé supera o desejo? Um homem de Deus é capaz de suportar a luxúria que insiste em bater à sua porta...