Caridade e conflito 📿

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“ Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições.”

Vincenzo Santoro

O salão da paróquia está repleto de pessoas. O evento de caridade anual, organizado pela igreja, é um dos momentos mais aguardados pela comunidade.  —  É meu primeiro evento pela Basílica di San Francesco, e estou simplesmente impressionado pelo cuidado e a beleza da decoração, flores e luzes suaves deixam o ambiente um tanto acolhedor.

Me mantenho envolvido em conversas com alguns paroquianos, fazendo o possível para esconder minha inquietação.  — A presença de Eleonor paira sobre mim, mesmo quando ela está longe, mas hoje sei que ela estará aqui, é um evento importante e sei que Eleanor virá, e essa certeza me deixou com expectativas durante todo o dia.

E então, quando menos espero, eu a vejo.  —  Eleonor entra no salão, irradiando uma elegância natural que imediatamente chamou a atenção dos presentes. Ela está mais deslumbrante que nunca, com um vestido branco e longo que marcava cada parte do seu corpo com maestria. Mas o que fez meu coração pulsar, foi ver quem estava ao seu lado, Francesco.  —  Raiva, é isso que sinto.

O mesmo homem que vi com ela na praça, o mesmo que me despertou uma fúria e ciúmes que mal pude controlar.

Francesco parece à vontade ao lado de Eleonor, cumprimentando as pessoas com aquele sorriso confiante, como se fizesse parte desta comunidade há anos.

Eleonor, por sua vez, também parece confortável e segura. Ela fala com todos, sorrindo com uma tranquilidade que apenas intensifica sua beleza.  —  Mas percebo seus olhos buscando os meus, como se quisesse ver minha reação. E toda vez que seus olhos me encontram, um arrepio percorre meu corpo, uma mistura de desejo reprimido e angústia me dominam.

Tento evitar contato direto, me concentro em atividades do evento, falo com convidados, organizo a distribuição dos donativos

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Tento evitar contato direto, me concentro em atividades do evento, falo com convidados, organizo a distribuição dos donativos. Mas é impossível ignorar o fato de que Eleonor está aqui, a poucos metros de distância, e que parece que ela está determinada a não me deixar em paz.

Finalmente, o inevitável acontece, enquanto tento me ocupar de algo, Eleonor se aproxima, Francesco estava ocupado conversando com alguns senhores, a deixando livre para se mover pelo salão.  —  Ela para do meu lado, pegando uma taça de suco antes de se virar para mim.

— Está tudo lindo, padre Vincenzo  — Diz sorrindo, e um brilho perverso nos olhos  — A comunidade realmente se empenhou este ano.

— Realmente está tudo muito bonito, mas por favor Eleonor me chame apenas de Vincenzo  — Respondo tentando parecer neutro.

— É sempre bom ver tantas pessoas reunidas por uma boa causa  — Ela continua falando enquanto seus olhos vagueiam pelo salão  — Eu estava conversando com Francesco sobre como a caridade pode unir as pessoas de maneiras inesperadas.

O nome Francesco cai sobre nós como uma pedra no silêncio, o ciúmes volta a me queima por dentro. mas faço o máximo para não desmoronar, sei que ela está jogando comigo, testando meus limites.  —  E a última coisa que vou dar a Eleonor é a satisfação de ver que ela está conseguindo.

— A caridade é um valor fundamental para todos nós  —Respondo, tentando manter a calma — É bom ver que Francesco se interessa por isso.

Um sorriso, nasce em seu rosto ao ouvir a última parte, como se estivesse satisfeita com a resposta.

— Ah, sim, ele tem se interessado muito mais por tudo que acontece aqui  — Diz, se aproximando mais  — Mas acho que é por causa das boas companhias  — Sussurra próximo ao meu ouvido.

Sua insinuação é clara, meu rosto esquenta. Preciso sair daqui antes que diga ou faça algo que me arrependa depois, mas Eleonor parece ter o talento especial de me segurar exatamente onde ela quer.

Antes que tivesse a chance de responder, Francesco se aproxima, sorrindo para mim. Ele coloca a mão no ombro de Eleonor, um gesto que parece casual, mas que me faz sentir novamente o ciúmes queimando em mim.

—  Padre Vincenzo, espero que não se importe que esteja acompanhando Eleonor esta noite  — Francesco diz com uma naturalidade impressionante   — Eu realmente estou apreciando o trabalho de sua paróquia. 

Respiro fundo tentando manter o controle, forçando um sorriso.

— Fico feliz que esteja gostando, Francesco  —  Respondo com um sorriso forçado  — A caridade é um trabalho importante, e todos são bem-vindos a contribuir.

— Com certeza  —  Ele responde, ainda sorrindo, voltando sua atenção a Eleonor  — Devo dizer que você foi a melhor companhia que eu podia pedir.

Eleonor sorri, olhando para mim com um brilho diferente nos olhos. É um jogo perigoso e ela está jogando com maestria.

Me sinto encurralado, lutando contra a vontade de sair correndo deste salão e, ao mesmo tempo, contra a vontade de dizer algo, qualquer coisa que marque meu território. Mas sei que não posso, sou um padre, e qualquer passo em falso pode destruir não apenas minha carreira, mas também tudo o que já conquistei em minha vida.

— Se me derem licença, preciso cuidar de alguns assuntos do evento  — Digo arrumando uma maneira de sair de perto deles.

Com um aceno educado, me viro caminhando para longe, sentindo os olhar de ambos queimando em minhas costas. O conflito interno me acompanha a cada passo, como uma sombra impossível de escapar.  —  Sei que essa noite será longa, e que a batalha entre o dever e o desejo está longe de terminar.

Meu doce Pecado 📿Onde histórias criam vida. Descubra agora