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— Vamos embora, Grazi, você já está bêbada — digo, segurando o braço dela enquanto ela se apoia em mim, rindo sem parar. A noite já estava passando dos limites para ela, e minha preocupação só aumentava a cada minuto.

— Não, Safira! — Grazi responde, balançando a cabeça com teimosia. — Eu vi um gatinho lindo olhando pra cá, olha ali... — Ela aponta com um dedo trêmulo, os olhos arregalados de entusiasmo. — Aquele asiático ali, com cara de mal.

Sigo o olhar dela, tentando encontrar a pessoa de quem ela está falando, mas meus olhos só veem a multidão comum do bar. Luzes piscando, rostos desconhecidos, um mar de gente se movendo. Tento enxergar para onde Grazi aponta, mas não vejo ninguém que corresponda à descrição dela. Talvez seja o álcool, talvez seja Grazi simplesmente fantasiando, como ela costuma fazer quando bebe um pouco demais.

— Não consigo ver ninguém, Grazi — digo, minha voz um pouco mais firme agora, tentando trazê-la de volta para a realidade. — Vamos, acho que já tivemos o suficiente por hoje.

Ela faz uma careta, ainda relutante, mas ao ver meu olhar sério, finalmente cede com um suspiro dramático. Seguro sua mão com firmeza, guiando-a em meio à multidão, enquanto tento ignorar a sensação desconfortável que cresce no meu estômago. Talvez seja apenas uma noite comum, talvez seja só Grazi vendo o que não está lá. Mas não consigo afastar completamente a sensação de que algo está fora do lugar.

—Melhor a gente ir antes que as coisas fiquem mais complicadas — Ela me olha com uma expressão confusa, mas finalmente concorda, soltando um suspiro derrotado.

— Tá bom, mas me espera aqui, pode ser? Vou até o banheiro — digo, esperando que ela não vá se meter em mais confusão enquanto eu me ausento.

Grazi acena com a cabeça e se acomoda no banco do bar, ainda com aquele olhar distraído, e eu me viro, indo em direção ao corredor lateral que leva ao banheiro. O lugar está um pouco escuro, iluminado apenas por algumas luzes fracas, e o som abafado da música do bar parece distante conforme eu me aproximo da porta.

Enquanto sigo pelo corredor, ouço vozes, abafadas e intensas, misturadas com o som de algo... um gemido de dor. Paro por um momento, franzindo a testa. Será que tem alguém transando ali? Penso, meio incomodada com a ideia, mas decido continuar. As vozes parecem se intensificar, e meu coração acelera um pouco, a curiosidade misturada com uma sensação estranha de que algo não está certo.

Eu deveria voltar, deveria sair dali e buscar Grazi, mas algo me impede. Cada passo faz com que os sons se tornem mais claros, e a dúvida dentro de mim cresce. Tento convencer a mim mesma de que não é nada, que estou apenas imaginando coisas. Mas a sensação de que algo está errado não me deixa em paz.

Não estava preparada para a cena que vejo.

Meu coração quase para no peito quando, ao virar a esquina do corredor, me deparo com algo que nunca poderia ter imaginado. A princípio, meus olhos não acreditam no que estão vendo. O corredor, que antes parecia apenas mal iluminado, agora se transforma em um cenário de horror que me faz querer desviar o olhar, mas não consigo.

Ali, à minha frente, um homem segura uma jovem contra a parede. Ela parece estar em choque, com os olhos arregalados, e há um pavor silencioso em seu rosto. O gemido de dor que ouvi antes agora faz sentido. Ele não estava apenas a incomodando, ele pressionava uma faca contra sua barriga. Meu estômago revira, e sinto as pernas tremerem ao ver o sangue escorrendo pelas pernas da garota.

A cena é grotesca, uma mistura de violência e desespero que me faz congelar no lugar. O homem, que parece totalmente alheio ao mundo ao redor, está focado unicamente nela, como se estivesse dominado por uma raiva fria e metódica. O som abafado da música do bar continua ao fundo, mas aqui, nesse corredor, o tempo parece ter parado.

Set Me FreeOnde histórias criam vida. Descubra agora