"Desculpa por ter aparecido na sua vida, acho que estraguei tudo"
LEVI BRAGA
Morro do Rivera, Rio de Janeiro, Março de 2019.
Primeira noite na comunidade do Rivera, e ao invés de estar em casa trabalhando, fui beber umas cervejas na casa da Ingrid.
Voltando pra casa um pouco alterado pelo álcool, descendo a rua principal dos comércios, vejo várias pessoas em direções contrárias, era noite de baile funk na favela ao lado.
Peguei um atalho que aprendi nesta manhã, entrando em um dos becos da favela, descendo nas escadarias, e devido a hora na madrugada o silêncio era permanente em vários momentos.
Diferente da rua acima, não passei por ninguém, já próximo a minha casa, escuto um burburinho, parei olhando para ambos os lados, e segui a conversa.
A cada passo ouvia mais nítido, até ter a visão de dois homens conversando,
estavam muito próximos, em um tipo de discussão, não entendi muito bem.- (...) Já falei com ele, vai liberar a prata em breve, só terminar o corre.
- Netinho, já era maluco, sabe o que acontece... - Nem percebi a arma entre seus corpos.
Netinho segurava a mão do outro garoto que apontava a pistola em sua barriga, tentando esconder ela.
A conversa foi interrompida por um tiro de trinta e oito.
Netinho caiu no chão gritando e o outro saiu correndo. Engoli em seco, me aproximando rápido e bem ligado, pois poderia ter mais pessoas ali.
- Caralho! PORRA! - Ele grita quando me aproximo.
Vejo sua pistola na cintura, tirei a arma dele colocando em punho e conferindo se estava seguro, enquanto ele gritava.
- Me ajuda mano, socorro!
Coloquei a pistola na cintura, atrás da calça jeans, "por força do hábito", retornei em Netinho no chão, com as mãos cheias de sangue e desesperado.
- Isso está pegando fogo porra, eu vou morrer maluco! - Ele segura em meu braço.
- Calma! - Falei analisando o local do tiro.
Um disparo fatal não lhe daria tanta força para desespero, tirei minha camiseta pressionando o lugar, e vejo muito sangue já no chão.
- Se liga, a bala não está em você, e não vai morrer, mas precisa ir para o
hospital mano. - Olhei em seus olhos.- Não vou para hospital algum, fumou 1? Me ajuda! - Ele tentou levantar.
Nesse momento um morador abre a janela, e fala:
- Netinho?
- Gilberto? Seu Gilberto me ajuda! - Ele pede desesperado.
- Tem uma toalha limpa? - Perguntei.
- Sim, sim. - Ele desaparece.
Minha camiseta estava encharcada, joguei fora ali mesmo, Gilberto trouxe
toalhas, coloquei uma na altura de sua cintura, e a outra pressionando o ferimento.Por Netinho ser magro e não tão alto, isso ajudou.
- Temos que levar ele pro Greg. - Gilberto olha.
Seguimos até a rua principal, com Netinho reclamando de dores sem parar, e perdendo as forças. Gilberto ajudou a colocar ele em seu carro e subimos o morro, passando por locais que até então desconhecia.
Praticamente no local mais alto do morro do Rivera, ele parou em frente a um posto de saúde.
- Vou atrás do Greg, você fica com ele aqui. - Gilberto ajuda a tirar Netinho
do carro.
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Códinome Favela 1
RomanceEm meio a uma crise de identidade, o policial Levi Braga aceita uma "missão suicida": infiltrar-se em uma das favelas mais perigosas do Rio de Janeiro para coletar informações sobre um criminoso que a polícia acredita conhecer. Conforme Levi conquis...