Capítulo 3

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"O que não demonstro, eu sinto em dobro."

GREGORY RIVERA

Morro do Rivera, Rio de Janeiro, Abril de 2019.

Essa manhã a nossa "Rua do Comércio", também conhecida como a principal da comunidade, estava bem movimentada, pessoas indo trabalhar, outras abrindo seus
negócios.

Estava com a minha "galera", havíamos acabado de deixar as motos no lava jato do fim da rua, e segui subindo até o bar do Gilberto, para comer algo.

Passando pela calçada cumprimentando as pessoas com um Bom dia, bom trabalho, passei frente ao salão da Ingrid, ela me vê e já grita lá de dentro:

- Senhor nunca te pedi nada, me dê um cria desse de aniversário.

Claramente comecei a rir, junto com os meninos, e parei frente a porta de vidro do salão.

- Porra Ingrid. Cria? Achei que tinha mais consideração.

- Ai amor é que com esses cachinhos parece um anjo.

- Estou mais para diabinho, acha não Brenda? - Falo com a garota sentada
fazendo as unhas.

- Você é o que quiser Greg.

- Mas amor, quando vamos fazer umas tranças, hein?

- Ingrid deixa crescer mais, até lá, está ligada que o Netinho está louco para trançar os dele. - Falei rindo.

- Netinho dá conta da mamãe não, sou gostosa demais para ele. - Ela tira com a cara dele, fazendo todo mundo rir.

- Vou nessa, bom te ver. - Saí mandando beijo.

Subimos mais algumas lojas com Felipe rindo e brincando com o Netinho, devido a Ingrid. Ela é a cabeleireira da comunidade, sabe da vida de todo mundo, é bem forte e baixinha.

Cheguei ao bar do Gilberto, havia dois senhores jogando sinuca, cumprimentei indo ao balcão.

- O de sempre Greg?

- Sim, senhor, como está aí? - Falo com cotovelos no balcão.

- Fim de mês é parado, mas tem baile em breve, sabe como fica a comunidade?

- Sei, sim. Hey! - Chamo atenção de Netinho e Felipe. - Vão querer comer
alguma coisa?

Eles recusam, e logo Gilberto entrega o melhor misto quente do Rio de Janeiro, em um prato de vidro cor "cobre", peguei o pão agradecendo.

- Bom dia Gilberto. - Falei saindo.

- Bom dia garoto.

Do outro lado da rua, a UPP de nossa comunidade. Bem, não é exatamente
como se vê na TV, eles estão hoje na Favela por autorização minha, pois cumprem as regras. Do contrário... bem eles sabem!

Atravessei a rua, seguindo até eles, o local era um tipo de contêiner empilhado, um sobre o outro, eles tinham os veículos deles, motos e carros, e todos ali armados, normalmente.

- Bom dia, bom dia. - Falei com os oficiais de guarda de fora. - Dantas está lá em cima? - Pergunto.

- Sim, chega aí.

Subi as escadas, já terminando meu pão, e bati na porta entrando:

- Gregório! - Ele fala tirando aquele cigarro da boca.

- Gregório é o caralho, porra. - Soltei uma risada.

Ele faz isso para provocar.

- Você sempre fica pilhado. - Dantas fala enquanto puxo a cadeira para sentar.

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