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Nós nos entregamos totalmente ao tempo, e ele passa tão rápido que se meia piscada existisse ele estaria lá entre elas.
São as 24 horas largados em um iate, revezando entre pular no mar e provar do gosto da pele salgada um do outro. A gente tenta de tudo, posições, regiões, mãos aqui e ali, mas nunca tão fundo para aquilo.
É sexo e é bom, muito bom.
Porém em instantes de colapso minha mente volta aquele momento, e é quase impossível conter a rigidez muscular, o frame embolando no meio da secção cinema.
— Tudo bem? — Zoe sussurra no meu pescoço, suas coxas se afrouxando do meu corpo.
Não respondo. Porque sei que não está nada bem e sei que ela percebe, pois lentamente se desfaz do meu colo, sem fugir pra longe, apenas me olhando com aqueles grandes olhos preocupados.
E olhando assim de perto meu único desejo é mantê-la perto, porém sinto que em cada passo que dou para quase a tocar, são três pra trás. Tão perto mas ao mesmo tempo tão longe.
Minha mente me bomberdeia com pequenas imagens, questionamentos: isso é real?
Minha vida me diz: Não é certo ter tanto apego por coisas passageiras.
Minha razão fala muito mais alto: Você tem que acabar com isso, logo e rápido. Nenhum ser humano no mundo deveria fazer alguém sofrer por ausência.
Então eu penso. Penso em como eu simplesmente deixei as mãos daquela garota me tocarem, em como decepcionei meus pais, em como fodi com tudo com a Zoe.
Como a sujei todas essas horas, como estraguei tudo. Como eu deixei isso acontecer? Como eu pude foder a coisa mais bela e intocada que ainda existisse na minha vida?
Eu sou culpado por isso, sujo e nojento. E não posso fazer isso com ela mais, não posso estragar a vida que ela possa ter com alguém bom e intacto.
Ela merece algo bom, merece alguém melhor que eu e sei que posso revogar minha felicidade para deixá-la ter a dela.
— Você lembra daquela aposta?
Assim, com diversos trincos, estilhaça. Meu coração, o resto das minhas esperanças, palavras verdadeiras que viram mentira. Para o bem maior.
Deixo apenas o vislumbre de uma tatuagem no pulso e lágrimas brilhantes sobre o luar no caiz.
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