Capítulo Trinta e Oito

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   Consegui me acalmar um pouco com o abraço de Phil. O médico apareceu pouco depois com um sedativo para que eu voltasse a dormir, disse que eu estava muito fragilizada para ficar passando por emoções fortes e que isso poderia ser um empecilho para o retorno das minhas memórias,que ainda não estava cem porcento.

   Acordei horas depois no quarto escuro e não me surpreendi ao ver Lily dormindo na poltrona desconfortável com um livro no colo. Provavelmente passou o dia todo ao meu lado garantindo que eu estava bem depois que viu o meu estado ao acordar.

   Olhei para a minha amiga e sorri. Me sentei na cama com dificuldade procurando algum recipiente com água ao lado da minha cama. Hospitais sempre costumam deixar uma jarra para pacientes que estão adormecidos há muito tempo.

– April? – a voz mansa me chama atenção.

– Oi, não queria te acordar – sorrio fraco.

– Acha mesmo que consigo ter uma noite de sono decente com você aqui? – revira os olhos.

   A garganta seca continua a me incomodar e eu volto a procurar água pelo quarto.

– O que foi?

– Estou morrendo de sede – bufo.

   Ela se levanta e vai até o lugar onde a jarra estava. Em uma cômoda no canto do quarto, distante da minha cama.

   Duas coisas que não fazem sentido: Por que aqui tem uma cômoda? E por que a água está tão longe da cama?

   Ela me traz um copo com canudo e eu agradeço internamente por isso. Meus braços estão parecendo duas gelatinas, tenho certeza de que derramaria água por todo o quarto.

– Então, você é amiguinha chata da minha irmã. – ela sorri e cruza os braços.

– Sou. E você é a irmãzinha irritante que nunca quis nem olhar na minha cara.

   Rimos juntas nos encarando.

   Numa coisa Hannah tinha razão, eu e Lily fomos feitas para sermos boas amigas.

(...)

   Já estava entediada de ficar no hospital, Dormi dois dias, de acordo com meus amigos, acordei ontem e só poderei ser liberada amanhã. Um saco.

   Quero meu apartamento com Lily, minha cama quentinha, quero voltar a trabalhar no bar com Phil para distrair a cabeça das coisas que vem acontecendo.

   Todos tem sido muito atenciosos, não fizeram perguntas, não me olharam estranho depois de descobrir meu passado com Hannah, Amy e Richy, e continuam agindo como se tudo estivesse normal, ou pelo menos tentam. A verdade é que vejo os olhos deles faiscando de curiosidade para me fazer certas perguntas, vejo eles evitando tocar em certos assuntos e sei que todos querem que eu conte sobre a noite que vi o suposto Homem Sem Rosto pela primeira vez a três anos.

   A verdade é que minha memória pode ter voltado, mas ela não é confiável, ainda não. Tem coisas que ficam perturbando minha mente e, como eu disse, passado e presente ainda colidem, principalmente com os três anos em branco em que eu estava fora daqui e vivia praticamente no modo automático.

   As coisas são tão estranhas que até certos sentimentos e emoções que tenho sobre Hannah, Richy, Amy, Thomas e Jessy estão em conflito. Tem a Hannah que era meu porto-seguro, me jogou da escada por acidente e tem a Hannah que eu gosto e me apeguei porque ajudei a encontrar. Tem o Thomas imbecil que eu conheci e o fofo que eu via com Hannah a três anos. Tem o Richy que eu detestava e o meu amigo que me traiu. A Jessy irmãzinha irritante do meu ex-namorado e minha amiga com quem estou brigada. E o que está me destruindo, tem a minha irmã, com quem eu mal conversava e a garota misteriosa morta na floresta ao lado de Jennifer Hanson.

Sombras No Presente - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora