Capítulo Vinte e Seis

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   Não demorou muito para que eu ouça o som de sirenes se aproximando do local sem que eu e Alan precisássemos ligar. Algum morador com certeza ouviu os tiros e ligou para a delegacia.

   Depois de matar um homem bem na nossa frente, o Homem Sem Rosto se aproveitou do choque e da preocupação de Alan comigo para fugir. Ele se enfiou na floresta nós nem perdemos tempo tentando segui-lo e eu sei que isso está corroendo Alan por dentro.

   Os policiais chegaram e ficaram preocupados com seu delegado. Jensen acabou aparecendo também e abraçou a nós dois com força.

   Alan foi obrigado a reabrir oficialmente o caso de Hannah Donfort e dar o suspeito principal como foragido.

   Em poucas horas os jornais de Duskwood e das outras pequenas cidades ao redor estavam tomados pela notícia e do rosto de Alan dando uma entrevista contando apenas uma meia verdade: que o agente Cooper descobriu o suspeito e acabou morto por motivos desconhecidos. No dia seguinte vários carros do FBI passeavam por Duskwood, e, eu soube por Hannah, agradeceram a Alan por não falar muito sobre o que realmente houve com ele. E antes de irem embora me ofereceram desculpas prometeram não incomodar mais com o caso de Jake e finalmente fecharam o caso, o dando como oficialmente morto.

   Nós mentimos pra cidade, para o FBI e eu descobri que Alan e Jake vinham mentindo para mim, mas pelo menos agora o governo está fora da jogada. A única coisa boa que resultou disso tudo.

- April, você está melhor? - Lily se aproxima cautelosa.

   Quando voltei para casa depois do "acidente" a dois dias estava completamente abalada, mal estava aguentando me manter de pé e só consegui chegar porque Jensen e Alan me ampararam durante todo o caminho. Lily teve que me ajudar a tomar um banho já que, mesmo mantendo uma distância segura, estávamos perto o bastante para que o sangue escorresse e sujasse minhas roupas enquanto eu estava ajoelhada.

- Estou bem, juro - dou a ela um sorriso tranquilizador. - Desculpe se te assustei, é só que... ver alguém morrer é demais - suspiro e coloco o rosto entre as mãos.

   Não era bem verdade, desde que tudo aquilo aconteceu eu tenho sentido um mal-estar bem incômodo.

- Seus pesadelos voltaram - Lily comentou.

- Sim.

   Meus pesadelos haviam ficado menos frequentes conforme o tempo estava passando, mas desde que o Homem Sem Rosto voltou eles voltaram com força. A cena do homem ruivo morrendo diante dos meus olhos apenas contribuiu para que meu cérebro incrivelmente criativo me perturbasse mais.

- Mas eles nunca foram embora de vez, então acho que está tudo bem - olho pra ela com um sorriso que tentei fazer brincalhão.

- Já pensou em fazer terapia, Ape? - Lily toca meu ombro com carinho.

- Eu faço terapia desde que apareci sem memória em um hospital, Lily.

   Lily franziu o cenho.

- Hospital? Por que você estava em um hospital? - pergunta preocupada.

- Eu sofri um acidente, dizem que é por isso que não me lembro de nada. Bati a cabeça e o trauma que eu sofri me fez apagar tudo. Falam que é tudo psicológico, só não sabem se apaguei tudo porque tinha algo no meu passado ou se eu só tentei apagar o acidente e minha cabeça não teve "tempo" de selecionar apenas o que eu queria apagar - dou de ombros. - O cérebro é complexo demais.

   Lembro vagamente do dia em que acordei no hospital. Minha perna estava apoiada em um travesseiro, minha cabeça doía como o inferno. Tinha um espelho perto da minha cama e quando o olhei vi que minha testa estava enfaixada assim como meu antebraço e meu queixo cortado. E o mais assustador era que eu não me lembrava de nada.

Sombras No Presente - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora