You know you hypnotize me, always (and you make it more)

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III estava com Vessel, a frente do altar, ajoelhado sobre o tapete sempre limpo, assim como tudo naquele quarto sagrado, sussurrando suas preces a tanto guardadas em sua própria alma, em um cântico constante, serene, quase hipnótico, enquanto o outro rezava silenciosamente ao seu lado, em pé, as mãos juntas frente ao corpo, ambos de olhos cerrados, suas mentes em total devoção ao seu Deus, em seus próprios pedidos, seus próprios agradecimentos, suas próprias súplicas.

Vessel podia sentir a consciência de III roçar a sua, flutuando displicente, quase como se pedisse permissão para adentrar pela janela, gentil, ainda que sempre tão agitada, mas diferente de IV, ele ainda não sentia-se confortável para deixar III senti-lo de forma tão íntima, tão sincera, tão despida de qualquer pudor, qualquer véu. Não, ele ainda preferia manter seu âmago preso a suas palavras, ao que ele estivesse disposto a revelar. E quando.

-Será que Sleep vai gostar dos meus biscoitos?

Vessel não conseguiu evitar deixar escapar um pequeno riso com a frase inesperada abaixo de si.

-Se é algo importante ou valioso para você, também o será para ele, Bassy, fique tranquilo.

III o espiava com apenas um olho, como se processasse suas palavras, antes de voltar a sua oferenda. Como ele poderia parecer tão inocente e doce mesmo depois de tudo que havia acontecido e lembrado no dia anterior? Depois do que souberam sobre seu passado, o desejo de proteção de todos para com ele estava no máximo, todos tomaram suas dores silenciosas, especialmente Vessel, que agora tinha medo de ter sido algo escuro em sua história. Ele queria ser um protetor em sua vida, mas e se antes tivesse sido o vilão? Mais um carrasco, abrindo-lhe feridas profundas?

Ele queria abordar o assunto, mas temia o que poderia vir. III havia sugerido um envolvimento romântico, talvez até carnal, mas até que ponto Vessel teria sido um bom homem para ele? Até que ponto fora diferente daquele ser que III encontrou no mercado? Quem ele foi para ele?

Quem?

O que ele fez?

-O que você costuma oferecer, Vess?

Vessel o encarou, sabia que o tempo de concentração do outro já havia acabado e sentou-se ao seu lado, de pernas cruzadas, vendo as diversas oferendas sobre a mesa. Cada uma vinda de um deles, em vários dias, vários momentos, cada uma acompanhada de um agradecimento, uma súplica, um pedido de perdão.

-Eu ofereço minha voz, minhas letras. Cada música escrita é meu regalo.

-E você acha que ele gosta?

Um sorriso quase presunçoso.

-Ele deixa claro que sim, especialmente no palco ou quando durmo, ou quando peço sua orientação, ou aqui, quando rezo.

-Sleep é muito presente com você...

-Sente falta que ele o seja com você, III?

O maior remexeu-se, como se quisesse acomodar-se além do físico.

-As vezes, eu me sinto perdido... e meio que ele é tudo que eu tenho.

Essa era a realidade de todos naquela casa, de todos os maiores acólitos, os sacerdotes daquela congregação. Eles deixavam tudo para trás para poderem servir ao seu Senhor maior, família, amigos, vida e alguns sequer tinham algo antes de ingressar nessa vida, mas outros tinham tudo. Vessel sentia-se sortudo por ainda ter II e IV ao seu lado, pelo fato dos três terem seguido o mesmo caminho, terem atendido ao mesmo chamado, servido ao mesmo propósito.

-Agora você tem a nós, III. Eu sei que não é muito, mas estamos aqui com você.

-Eu tenho medo de vocês partirem de novo. Tenho medo de me apegar de novo.

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⏰ Última atualização: Sep 05 ⏰

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The Apparition (Sleep Token)Onde histórias criam vida. Descubra agora