The stories that you never told to me

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Com a chegada de III, eles foram dispensados das adorações programadas daquela semana, podendo se dedicar exclusivamente aos ensaios e a fase de adaptação do caçula, mas quando o fim de semana chegasse, eles sabiam que tinham um compromisso, eles teriam o primeiro culto com a nova formação e por mais que todos se mostrassem tranquilos quanto a isso, Vessel podia sentir o nervosismo velado de III, que a cada dia que se passava, ficava menos falante, era visto com seu baixo ensaiando sozinho no estúdio, tentando se manter concentrado nos ensaios em conjunto, mas isso claramente lhe despendia um grande esforço e quando Vessel levou a máscara que ele deveria usar em público, ele por fim confessou:

-Tenho medo, nunca recebi Sleep no meu corpo, ele só conversava comigo, era diferente... E se doer? E se eu me perder e não conseguir voltar?

Vessel entendia, ele própria lembrava da primeira vez que foi instrumento da comunhão com seu Deus, algo que nunca aliviou, pelo contrário, era cada vez mais intenso, mais brutal, mais insano. Não, não era confortável, aquele formigamento se estendendo por seus membros, sua mente em um turbilhão que não lhe pertencia, seu sangue fervendo, como se pudesse derretê-lo de dentro para fora, cada órgão e víscera sua em um conflito, seu corpo rejeitando a si mesmo, para que sua carne fosse apenas um mero instrumento purificado para aquela alma, mas ele sabia que a violência de Sleep era apenas contra ele, que Sleep se entregava por completo apenas com ele, com os outros os efeitos eram muito mais leves e assim seriam também com III, afinal, os outros apenas recebiam a vazão do que escorria por Vessel, que continha o máximo possível, Vessel era o líder e faria tudo para que os outros não passassem por aquela sensação. Era uma honra, mas ainda assim era atroz.

-Não me sinto pronto, Ves, não sei nem se sou digno disso. O que eu sou? Só um garoto esquisito.

Eles estavam sentados no jardim, ainda era meio de tarde, o céu levemente nublado, III fitando aquele tecido negro que em breve cobriria seu rosto diante do altar, a marca de Sleep em branco diante de todo seu rosto, marcando-o como seu, seu território, sua oferenda, seu servo, seu fiel. Ele era temente a seu Deus, mas isso não o impedia de estar intimidado.

-Eu farei o possível para ser gentil com você, III, prometo. Pense que o que estará recebendo sou eu e tudo o que eu quero é seu bem, espero que já saiba disso. Tenho certeza que Sleep permitirá que eu controle o fluxo para você até que você esteja pronto. Prometo, não vai doer, ao menos farei tudo para isso, mas você precisa permitir, precisa ter certeza que quer isso. Sleep não te escolheu a toa, ele confia em você, sabe que você o idolatra e se entrega por completo. E se ele acredita em você, eu também acredito.

-Mas e se a congregação não me aceitar, Vessel? Isso não pode prejudicar os planos de Sleep? Não pode prejudicar vocês? Você? Você sabe que eu nunca fui o queridinho deles, nem todos aceitaram quando eu fui chamado.

-Eu não tenho interesse em fieis incapazes de amar a um dos meus receptáculos. Se não te aceitarem, terão que se reportar a mim e a Sleep.

A voz do vocalista era firme, ele não aceitaria nenhum tipo de injuria contra III, mesmo que se conhecessem a tão pouco tempo. III podia ser extravagante e transparecer uma grande confiança na maior parte do tempo, mas ele também parecia uma criança em busca de proteção e Vessel seria essa proteção se fosse necessário.

-Vem, Bassy, precisamos começar a nos arrumar se queremos a fazer isso com calma.

-Uma vez você me disse que a sensação era terrível, era como engolir lava, como devorar estrelas, como se perder e se achar fora de si. Como se desfazer, derreter, desalinhar. Como eu poderia sobreviver a isso? Eu não sou como você!

Sim, era exatamente essa a sensação. Como ele poderia saber?

-De onde você acha que me conhece, III? Parece ter tanta certeza disso.

The Apparition (Sleep Token)Onde histórias criam vida. Descubra agora