Capítulo 05: Entre O Dever e o Desejo.

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A volta à rotina depois de Paris tinha o gosto amargo da realidade. Billie olhava pela janela de seu carro, as ruas movimentadas da cidade passavam rápido, mas sua mente estava em um ritmo mais lento, absorvendo cada detalhe da viagem que tinham acabado de concluir. Paris foi um sucesso, sem dúvida. O reconhecimento que ela tanto almejava foi alcançado. Sua empresa estava no topo, mas havia algo mais que a incomodava.


Charli.


Sempre Charli.

A estilista provocadora havia feito o impossível: ela ainda estava sob o comando de Billie, desafiando todas as regras não escritas que a CEO impunha para si mesma. Nunca ficar com a mesma pessoa por muito tempo. Nunca deixar ninguém se aproximar demais. Mas com Charli, algo era diferente. Havia uma tensão, um jogo perigoso que Billie ainda não tinha decidido se queria continuar jogando ou encerrar de vez.

No entanto, antes de lidar com Charli, havia uma prioridade muito maior que Billie precisava enfrentar. Finneas.

Ele tinha sido relutante desde o começo. A reabilitação não estava funcionando como Billie esperava, mas ela não podia permitir que o irmão desistisse. Ele era tudo o que ela tinha. Seus pais morreram no auge de sua juventude, deixando a Billie o império familiar para administrar, mas o acidente de Finneas trouxe uma nova camada de responsabilidades, uma dor que ela carregava todos os dias. Ela faria qualquer coisa para vê-lo bem de novo.

Ao chegar em casa, antes de qualquer coisa, foi direto ao quarto de Finneas. Ele estava sentado, observando a janela com o olhar distante de quem já havia aceitado uma condição que Billie jamais permitiria. Com seu habitual tom autoritário, ela insistiu.

— Você precisa continuar com a reabilitação. Não podemos desistir agora. — A voz de Billie era firme, mas havia uma doçura quase imperceptível escondida entre as palavras, algo que apenas Finneas reconhecia.

— Não está funcionando, Billie. Não adianta forçar. — Ele evitou olhar para a irmã, os olhos fixos no mundo lá fora, como se, de alguma forma, aquilo pudesse distraí-lo de sua própria realidade.— Você sempre foi um lutador, não vai parar agora. — Ela se aproximou, o som dos saltos ecoando pelo quarto silencioso. — Nós não vamos parar. Eu não vou parar.

O silêncio se prolongou até que Finneas, derrotado, assentiu levemente. Billie sabia que ele odiava a situação, odiava depender dela, mas também sabia que ele não conseguiria dizer não quando ela insistia. Ele iria para a reabilitação, mesmo que contra sua vontade.


Além disso, havia Cláudia.


Finneas sempre foi apaixonado por ela, desde muito antes do acidente. Mas desde que ficou impossibilitado de andar, ele se afastou dela, convencido de que era um fardo. Billie tentava reaproximá-los, mas ele recusava, acreditando que Cláudia merecia alguém inteiro, e não alguém quebrado. E isso partia o coração de Billie, pois ela sabia que Finneas ainda a amava, só não conseguia aceitar o amor de volta. Ele se via como um peso, uma âncora que segurava Cláudia no fundo do poço.

Depois de se certificar que Finneas iria à reabilitação, Billie se preparou para mais um dia de trabalho. Havia uma reunião de agradecimento marcada, algo formal, apenas para reconhecer o esforço de todos no evento em Paris. Normalmente, reuniões assim não a interessavam tanto, mas essa tinha uma tensão extra.

O nome de Charli estava em jogo.

Todos sabiam que Billie não costumava manter a mesma pessoa em grandes projetos. Ela sempre procurava novos talentos, rostos frescos, perspectivas diferentes. Charli, por outro lado, já havia excedido esse prazo, e havia rumores de que seria substituída. Não que Billie se importasse com boatos, mas era verdade que ela não gostava de rotina, e Charli... bem, Charli era tudo menos previsível.

A reunião começou com os elogios habituais, congratulações que Billie respondia com um aceno mínimo de cabeça. Seu foco estava no que viria a seguir. A pergunta inevitável. Quem seria o estilista no próximo grande projeto? Uma assistente, tentando quebrar o gelo, fez a pergunta que todos queriam ouvir:

— Billie, sobre o próximo evento... Já temos alguém em mente para o papel de estilista? Continuamos com Charli ou gostaria de considerar novos candidatos?

O ambiente pareceu congelar por um segundo. Todos sabiam que a resposta de Billie definiria o futuro de Charli na empresa. A própria Charli, sentada do outro lado da sala, manteve uma expressão neutra, mas Billie sabia que ela estava atenta a cada palavra que saísse de sua boca.

— Charli continua — disse Billie, sem hesitação, com uma firmeza que fez com que todos na sala a olhassem com surpresa.

Charli piscou, talvez a única demonstração de choque que ela havia permitido. Era quase como se ela mesma tivesse esperado ser substituída, afinal, essa era a regra de Billie. Mas, de alguma forma, ela permaneceu.

— Mais alguma pergunta? — Billie acrescentou, sem dar espaço para discussões.O olhar de Charli, cheio de provocações mal contidas, encontrou o de Billie por um breve segundo antes que a reunião fosse encerrada. Ela tinha vencido mais uma vez, e as regras... bem, talvez estivessem mudando.

Com a reunião encerrada e as primeiras preparações para o próximo grande evento já em andamento, Billie se sentiu mais aliviada. Sua empresa estava no topo, seu irmão ainda estava lutando — mesmo que contra sua vontade — e Charli, com todas as suas provocações, ainda estava ali.

Mas por quanto tempo?

Essa era a pergunta que pairava na mente de Billie enquanto ela deixava a sala de reuniões. O que Charli realmente queria? E mais importante, o que Billie queria com Charli?

Enquanto essas questões permaneciam sem resposta, uma coisa era certa: o jogo estava longe de acabar.

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