A manhã se erguia lentamente sobre Solheim, e com ela, a luz suave do amanhecer penetrava as janelas do apartamento de Emma e Lucas. Eles não haviam dormido bem. A conversa da noite anterior ainda ecoava nas paredes silenciosas do quarto, cada palavra vibrando com um peso que nenhum dos dois sabia como aliviar.
Emma: Um Despertar de Incertezas
Emma acordou cedo, o corpo rígido e os olhos pesados, como se o cansaço fosse mais uma sombra do que uma sensação. Enquanto preparava o café, sua mente voltava aos trechos mais dolorosos da discussão. Lucas, tenso e vulnerável, tentava expressar uma necessidade que ela não sabia como atender. Em que ponto haviam se perdido um do outro?
No caminho para o trabalho, a cidade ainda estava despertando; as calçadas molhadas refletiam o céu pálido, e o ar fresco trazia o cheiro das árvores úmidas misturado com o café recém-passado dos pequenos cafés da rua. Emma notou um homem encostado em um poste de luz, os ombros curvados, o olhar fixo no chão, com uma sacola vazia nas mãos. Ele parecia carregar um fardo invisível, uma dor silenciosa que ecoava a sua própria. Por um instante, Emma se viu nele, perdida em pensamentos, com a sensação de que não estava sozinha na sua solidão.
Ao chegar ao escritório, o barulho ritmado das teclas de computador e as conversas abafadas se misturavam ao som da chuva suave que começava a cair. Ela tentou mergulhar nos projetos que tinha à sua frente, mas sua mente vagueava, repleta de "e se...?". Olhou para o telefone algumas vezes, considerando ligar para Lucas, mas o medo de mais uma conversa cheia de incertezas a deteve.
Enquanto se sentava à sua mesa, seu telefone vibrou, trazendo-a de volta. Era Clara. A familiaridade do nome trouxe uma sensação de conforto, mas também um aperto de apreensão. Ao atender, ela tentou esconder o cansaço na voz.
— Ei, Clara.
A voz de Clara transbordava sua habitual energia contagiante, mas havia um tom sutil de preocupação.
— E aí, Emma? Eu notei que você estava meio distante ontem. O que está pegando?
Emma hesitou. Sentia o peso da franqueza de Clara, algo que tanto apreciava quanto temia.
— Tivemos uma conversa... complicada, eu e Lucas. Estamos num ponto em que nada parece fazer sentido. — Ela respirou fundo. — Eu só... não sei como entender o que estou sentindo ou o que ele realmente quer.
Clara ficou em silêncio por um momento, e quando respondeu, havia um leve tremor na sua voz que Emma nunca havia percebido antes.
— Às vezes, ficar só dentro da própria cabeça é o que nos afunda. Talvez sair um pouco ajude... não pra distrair, mas pra olhar tudo de outra perspectiva — Clara sugeriu, com uma leve pausa antes de continuar, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
— Às vezes, estar em um lugar novo pode nos fazer enxergar o que realmente está acontecendo aqui — disse Clara, e Emma sentiu a tensão subentendida na pausa, como se Clara estivesse dizendo mais do que apenas o óbvio.
Emma percebeu uma hesitação incomum na voz de Clara, um momento em que a sugestão parecia ter mais peso do que apenas um conselho amigável. Ela sentiu o olhar de Clara atravessar a linha telefônica, como se estivesse ali, presente, estudando suas reações.
— Talvez... vou pensar nisso. Obrigada por se importar.
Houve uma pausa, e Emma podia jurar que sentiu a respiração de Clara se aprofundar antes de responder.
— Emma, qualquer coisa, você sabe onde me encontrar. — Clara fez uma pausa que parecia durar um segundo a mais do que o necessário. — E lembra: você merece mais do que estar presa a algo que não te faz bem.
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A Dança do Desejo
Teen FictionEmma e Lucas, ambos com 23 anos, vivem em uma cidade cosmopolita vibrante chamada Solheim, situada em um país fictício inspirado nas paisagens da Escandinávia. Eles se conheceram na faculdade e se casaram jovens, encantados pelo amor que sentiam um...