Capítulo 12: O Silêncio Entre Nós

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O apartamento estava imerso em um silêncio esmagador, tão denso que parecia preencher cada canto, amplificando a distância invisível entre Lucas e Emma. O ar carregava o peso de palavras não ditas, de mágoas sufocadas e verdades recém-reveladas. Lucas segurava um porta-retrato com força, seus dedos pressionando o vidro até os nós ficarem brancos. Ele encarava a imagem congelada de um tempo que parecia pertencer a outra vida - um piquenique sob o sol, onde ele e Emma sorriam despreocupados, ignorando o que o futuro lhes reservava. Naquele dia, o mundo parecia simples. Agora, tudo havia se tornado uma espiral de incertezas e dor.

Enquanto Lucas se perdia entre a nostalgia e o tormento, ouviu passos hesitantes ressoando pelo ambiente. Emma entrou, os ombros caídos, a cabeça baixa, como se carregasse um fardo invisível que ameaçava esmagá-la. O som de seus passos era suave, mas o bastante para perfurar o silêncio opressivo, cada movimento acompanhado pela inquietação que transparecia no gesto de seus dedos, que deslizavam nervosamente ao redor do anel de casamento.

Ela parou a alguns metros de distância, as palavras presas na garganta, como se fossem espinhos. "Lucas..." Sua voz era um sussurro hesitante, como se estivesse testando a profundidade de um abismo antes de se jogar.

Lucas virou-se lentamente, ainda segurando o porta-retrato. Seu olhar, carregado de uma tristeza sufocante, encontrou o de Emma por um breve momento antes de desviar para a imagem no vidro. Ele deixou o silêncio pairar por um instante, tentando processar o turbilhão de pensamentos que o consumiam. "Essa foto... você se lembra?" Ele finalmente quebrou o silêncio, a voz rouca, como se as palavras custassem a sair. "Foi quando ainda estávamos namorando. Naquele dia, apesar de todas as minhas inseguranças, eu realmente pensei que poderíamos ser felizes, que eu poderia ser o que você precisava."

Ele fez uma pausa, apertando o porta-retrato com mais força, lutando para controlar as emoções que ameaçavam transbordar. As lembranças eram uma faca de dois gumes - ao mesmo tempo que traziam conforto, também ampliavam o abismo que agora os separava.

Emma permaneceu imóvel, os olhos fixos no chão, como se estivesse com medo de encará-lo. Seus dedos ainda giravam o anel em seu dedo, um gesto repetitivo, quase desesperado. "Eu me lembro..." Sua voz estava embargada de arrependimento, as palavras saíam entrecortadas, como se ela lutasse para mantê-las controladas.

Por dentro, porém, seus pensamentos eram um caos absoluto. As palavras de Lucas ecoavam em sua mente, ampliando sua culpa. Ela revisitou cada escolha errada, cada momento de fraqueza que a levou até aquele ponto. Aquele dia da foto... claro que se lembrava. As risadas, a leveza... parecia uma vida distante, quando tudo fazia sentido. Agora, tudo escapava por entre seus dedos, como areia fina. Ela se sentia uma estranha em sua própria vida, desconectada de si mesma e de quem um dia foi.

Lucas desviou o olhar, sentindo a frustração e a decepção crescerem dentro dele. Respirou fundo, lutando para manter o controle antes de falar novamente. "Clara esteve aqui. Ela me contou tudo." As palavras caíram como pedras no silêncio, pesadas, quase insuportáveis. Seus olhos, antes pacíficos, endureceram, e sua voz adquiriu um tom de amargura. "Você tem ideia do que isso significa? Do que você fez?"

Emma fechou os olhos brevemente, sentindo um frio se espalhar por seu corpo, como se cada palavra de Lucas fosse uma lâmina cortando-a profundamente. Quando ela os abriu, as lágrimas ameaçavam escorrer, mas ela as conteve.

Havia um vazio esmagador dentro dela, uma lacuna que se ampliava a cada segundo. Como explicar a ele? Como justificar o injustificável? Clara havia sido um refúgio temporário, mas agora tudo parecia tão insignificante, tão devastadoramente pequeno diante da imensidão da dor que ela estava causando. No fundo, Emma sabia que não era apenas a solidão que a havia levado a Clara, mas algo mais profundo, algo que ela mal conseguia articular para si mesma. Talvez fosse a sensação de estar se afogando em sua própria vida, de estar perdida no papel de esposa, de mulher... como se tivesse se desconectado da essência de quem era.

A Dança do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora