Capítulo 02: As Correntes do Desejo

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O clube subterrâneo pulsava como um coração gigante. Luzes estroboscópicas piscavam em um ritmo frenético, lançando sombras dançantes nas paredes úmidas, cobertas de grafites. Emma sentia a batida da música em seu peito, um contrabaixo constante que ressoava até seus ossos. Ao seu redor, a noite vibrava como uma corrente de eletricidade, a energia inebriante dos corpos em movimento se entrelaçando com a dela. 

A pista de dança era um mar de euforia e sensualidade. A música eletrônica subia e descia como uma onda, e Emma, perdida no meio da multidão, deixou seu corpo fluir com o ritmo, seus movimentos se tornando uma extensão da batida. Foi então que ela o sentiu: um olhar queimando contra sua pele. Abrindo os olhos, viu o homem de olhos escuros se aproximando. Sua postura era ao mesmo tempo ousada e calculada, como um predador estudando sua presa.

Sem uma palavra, ele se inseriu na dança ao lado dela, seus movimentos sincronizando-se com os dela de forma assustadoramente natural. Emma sentiu um arrepio subir pela espinha, mas não era medo – era algo visceral e eletrizante. Ele se aproximou, quase a ponto de tocá-la, mas se manteve a uma distância mínima, criando um espaço carregado de expectativa. Ela podia sentir o calor de seu corpo, o cheiro amadeirado do perfume, a intensidade de seus olhos que não se desviavam dos dela.

A dança entre eles tornou-se um jogo de proximidade e recuo. Seus corpos se moviam em sincronia, como se ligados por uma tensão invisível, que apertava a cada passo. Emma não sabia se era a música que fazia seu coração bater mais rápido ou a presença daquele homem que parecia invadir seus sentidos. Quando ele finalmente a tocou, foi um toque leve – a mão roçando a curva de seu quadril, os dedos deixando um rastro de fogo. Ela sentiu o ar faltar, um tremor profundo que começou no estômago e subiu até o peito.

O olhar dele falava de algo mais profundo do que o momento, algo que Emma não conseguia decifrar, mas que a hipnotizava. Seus próprios movimentos mudaram, de casuais e leves para carregados de intenção. Suas mãos encontraram os ombros dele, e ela sentiu os músculos se flexionando sob seus dedos. A proximidade de seus rostos era íntima, tão próxima que ela podia sentir a respiração dele se misturando com a dela.

Por um breve instante, o mundo ao redor desapareceu. A música, as luzes, as outras pessoas – tudo se dissolveu em uma névoa de desejo e incerteza. Emma estava na borda de um precipício, e o homem era o convite para pular. Ele se inclinou mais perto, seus lábios quase tocando os dela. A tentação de se perder completamente, de se entregar àquele momento proibido e excitante, era avassaladora.

Mas então, como um estalo na mente, a imagem de Lucas surgiu – seus olhos gentis, sua voz calma. Uma onda de culpa misturada com confusão a invadiu. Ela se afastou abruptamente, quebrando o feitiço. O homem de olhos escuros sorriu, um sorriso lento, que parecia entender exatamente o que ela estava sentindo. Ele não insistiu; apenas recuou suavemente, desaparecendo na multidão como uma sombra.

Emma ficou parada por um momento, respirando pesadamente. Seu corpo ainda tremia, e o calor daquele toque fantasma permanecia em sua pele. Sentia um turbilhão de emoções: adrenalina, arrependimento, e algo que parecia perigosamente próximo da realização. Nunca havia se sentido tão exposta, tão desperta. Era como se aquela breve dança tivesse arrancado uma camada de sua pele, revelando algo cru e indomado por baixo. Como um encontro tão fugaz podia abalar suas certezas de forma tão profunda?

Enquanto tentava se recompor, Emma percebeu que algo havia mudado dentro dela. Sempre acreditou que se conhecia bem, que entendia seus limites e desejos, mas agora uma dúvida a consumia. A dança não foi apenas um flerte; foi uma revelação.

Sua mente voltou para Lucas: a quietude segura do amor que conhecia tão bem contra o tumulto dessa nova emoção que borbulhava dentro dela. A sensação de seus corpos próximos, o toque que a deixara em chamas, parecia um universo distante da ternura com que Lucas a segurava. "É isso que eu desejo? O que estou procurando realmente?", ela se perguntou. A segurança de seu casamento, que antes parecia um porto seguro, agora se comparava a uma âncora pesada, enquanto a intensidade daquele momento proibido parecia uma onda que a puxava para o mar aberto. A questão a deixou ainda mais perdida, como se estivesse tentando nadar contra uma corrente impossível de vencer. Algo dentro dela estava se despedaçando, e a dança, mais do que um simples flerte, parecia ter aberto um abismo de dúvidas sobre sua própria identidade e seus desejos.

A Dança do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora