A Dança do Desejo

Capítulo 6: Entre o Desejo e a Dúvida

Emma sentia o coração acelerar no peito enquanto a música pulsava ao seu redor, como se o som reverberasse diretamente dentro de seu corpo. A pista de dança do clube estava lotada, mas o mundo parecia se estreitar ao seu redor, concentrando-se em Clara, cujas mãos estavam firmemente entrelaçadas nas suas. Emma tentava respirar, mas a intensidade daquele momento a deixava sem fôlego. Era como se seus sentidos estivessem amplificados, cada batida da música ressoando como um eco da tensão que crescia dentro dela.

Quando Clara puxou Emma para mais perto, seus corpos se movendo em perfeita sintonia, uma onda de calor subiu pelo pescoço de Emma. Ela podia sentir o perfume de Clara, uma mistura suave de cítrico e flores, que agora se misturava com o cheiro de suor e de desejo presente no ar. Ela não sabia dizer se o arrepio que sentia era por causa do toque de Clara ou pela adrenalina que corria em suas veias, mas estava ciente de que cada movimento que faziam estava carregado de um significado que não ousava colocar em palavras.

"Emma," Clara sussurrou, sua voz vibrando perto do ouvido de Emma, "o que você está sentindo agora?"

Emma hesitou, sua mente em um turbilhão. "Eu... eu não sei," respondeu, quase inaudível. Era uma verdade desconcertante. Parte dela queria se entregar completamente ao momento, esquecer tudo, esquecer Lucas, esquecer quem deveria ser. Mas outra parte sentia um nó de culpa e confusão apertando em seu peito.

Enquanto dançavam, Emma fechou os olhos por um breve instante, buscando alguma clareza. Foi quando uma memória emergiu como um relâmpago em sua mente. Ela e Lucas, no início do namoro, dançando juntos em uma pequena festa na casa de um amigo. Eles riam, completamente à vontade, os corpos próximos, em sintonia. Ela se lembrava de como Lucas a olhou naquela noite - como se ela fosse a única pessoa no mundo.

A sensação de segurança, de ser amada sem reservas, a fez abrir os olhos de novo, retornando ao presente. Mas ao sentir o toque de Clara, Emma percebeu que havia algo diferente. Algo que a atraía e, ao mesmo tempo, a assustava. Não era apenas a novidade; era um desejo há muito reprimido, uma parte de si que nunca teve coragem de explorar. O conflito entre o conhecido e o desconhecido a fazia se sentir dividida, como se estivesse à beira de um precipício.

Clara notou a mudança de expressão no rosto de Emma e, com um leve sorriso, aproximou ainda mais o corpo, seus rostos quase se tocando. "Não pense demais," disse Clara suavemente. "Só sinta."

As palavras de Clara ecoaram na mente de Emma. Só sinta. Mas como, quando havia tantas coisas a serem sentidas ao mesmo tempo? Como ela podia simplesmente se entregar quando sua mente insistia em trazer imagens de Lucas, do amor que eles construíram, das promessas silenciosas que haviam feito um ao outro? Ao mesmo tempo, o toque de Clara despertava algo profundo e primal nela, uma vontade de experimentar, de viver sem amarras, de sentir uma liberdade que nunca teve coragem de buscar.

"Eu não sei o que fazer, Clara," Emma murmurou, sua voz falhando ligeiramente. "Eu sinto... confusão. Sinto medo. Mas também... uma vontade de... de entender o que é isso."

Clara olhou para Emma, seus olhos cheios de compreensão, mas também de algo mais - uma vulnerabilidade oculta. "Você não precisa ter todas as respostas hoje, Emma. Às vezes, o que a gente precisa é de coragem para sentir e descobrir, sem medo do que pode vir depois." Clara parecia estar falando não só para Emma, mas também para si mesma, como se compartilhasse daquele mesmo medo e desejo.

Emma sentiu um aperto no peito, mas ao mesmo tempo, uma curiosa sensação de alívio. Ela sabia que essas palavras poderiam ser apenas uma desculpa para o que estava sentindo, uma forma de validar suas emoções confusas. Mas talvez fosse isso que ela precisava ouvir - que poderia haver um equilíbrio, um caminho onde ela não precisasse perder tudo o que tinha para descobrir quem ela poderia ser.