Capítulo 11: Fragmentos de Nós

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Após as últimas palavras de Clara, o apartamento mergulhou em um silêncio congelante, com o peso das revelações pairando no ar como uma tempestade prestes a desabar. Clara estava imóvel, seu corpo ainda afundado no sofá, as mãos cruzadas sobre o colo, como se estivesse tentando se segurar para não desmoronar.

O tic-tac do relógio reverberava como um lembrete cruel de que o tempo seguia impassível. Lucas ficou parado por alguns segundos, as palavras de Clara ainda ecoando em sua mente, acompanhando o ritmo do relógio, como se cada segundo tornasse o peso de suas emoções ainda mais insuportável.

Ele lançou um olhar para o ponteiro dos segundos avançando, perfurando seus ouvidos com cada movimento impassível, aumentando a sensação de desconforto, como se o tempo estivesse zombando dele. Aquele movimento constante parecia lembrá-lo de que, mesmo que estivesse perdido, o tempo não o esperaria.

A dor em seu peito parecia palpável, tornando suas mãos frias e trêmulas. O peso de suas emoções parecia finalmente encontrar expressão física, uma angústia que ele não sabia como controlar. Ele sabia que o que restava entre eles, apesar de dilacerado, ainda era verdadeiro. Lentamente, ele se levantou, os olhos vermelhos e marejados encontrando os de Clara por um breve momento. A tensão em seu peito apertava, o ar no ambiente parecia denso, quase sufocante.

"Eu... não te odeio, Clara," sua voz saiu frágil, quase rouca, mas sincera. "Eu só... estou perdido."

Clara fungou baixinho, enxugando as lágrimas com as costas da mão. O brilho de suas lágrimas refletia a luz fraca do abajur, criando uma cena quase melancólica. "Eu também não sei, Lucas. Mas eu queria que as coisas tivessem sido diferentes."

Ela começou a se levantar, mas hesitou, como se seus pés estivessem presos ao chão. "Eu vou sair... não quero te causar mais dor."

Lucas, em um impulso que nem ele mesmo compreendia completamente, estendeu a mão e tocou levemente o ombro dela. Sua palma sentiu o calor do corpo de Clara através da fina malha do suéter. O toque era leve, quase hesitante, como se ele não soubesse se deveria realmente fazer aquilo.

"Espera..."

Clara olhou para ele, surpresa, seus olhos inchados de tanto chorar. Lucas sentiu uma onda de hesitação o inundar, sua mente se dividia entre o desejo de distanciamento e a necessidade de proximidade.

Por um instante, ele não sabia o que fazer. As palavras pareciam inúteis. Então, sem pensar muito, ele agiu - um gesto que vinha direto do coração, sem passar pelo crivo da razão.

Ele deu um passo à frente, e então, quase sem perceber, envolveu Clara em um abraço firme. Por um momento, ele sentiu o cheiro doce e familiar do perfume dela misturado com o odor salgado das lágrimas. O calor do corpo dela contra o seu trouxe uma sensação agridoce. Sua respiração estava rápida e irregular, e ele se perguntava se ela podia sentir o mesmo caos interno que ele sentia.

Por um instante, ambos ficaram ali, em silêncio. O contato entre eles parecia ser a única coisa capaz de expressar o que as palavras não conseguiam. Lucas sentiu o corpo de Clara relaxar sob o seu, os músculos dela cedendo lentamente, como se ela estivesse se permitindo derreter naquele momento. Ele fechou os olhos, sentindo o calor que emanava do corpo dela e o som suave de sua respiração.

"Obrigado por ser honesta," ele murmurou, ainda segurando-a. Suas palavras saíram baixas, como se ele temesse quebrar aquele frágil momento. "Eu precisava ouvir isso."

Quando ele finalmente soltou Clara, sentiu o vazio imediato. Ela o olhou com um pequeno sorriso triste, o rosto ainda marcado pelas lágrimas. "Eu só queria que não fosse tão complicado."

Ela se afastou, agora definitivamente indo em direção à porta. Lucas a observou em silêncio, sem forças para dizer mais nada. O som de seus passos ecoou pelo apartamento enquanto ela caminhava em direção à saída. Quando Clara saiu, fechando a porta suavemente atrás de si, o som ecoou no apartamento vazio como o fim de um capítulo. O vazio que ficou era palpável.

A Dança do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora