Em uma noite quando Roberto veio nos visitar, ele ficou sentado na cadeira, enquanto me olhava e tentava adivinhar o que estava acontecendo de errado. E olhava para a minha mão, para o meu corte na sobrancelha e depois diretamente para os meus olhos
- Semana passada um sujeito chamado Edson, com quase cinquenta anos e agindo como uma vítima, disse que você socou a cara dele, seu nariz estava quebrado, ele quis prestar queixa, mas eu pedi para ele voltar depois, disse que era um procedimento novo . . . Bom, eu inventei uma desculpa.
Dei os ombros, eu não me importava mais.
- O que quer que eu diga ? - Eu olhei para ele, que me lançou um olhar relutante, ele tirou os óculos para coçar os olhos.
- Por favor, eu quero te ajudar da maneira certa, não saia por aí estourando o nariz das pessoas.
- O que quer que eu faça agora ? Eu tô fazendo tudo que me pedem, trabalho com o meu irmão, moro aqui porque você pediu que eu morasse, transei com a Alice porque ela pediu e quase deixei aquele maldito encostar a boca em mim só porque ele queria.
Ele começou a falar sem parar, fingir que ouvia era melhor do que tentar ignorá-lo, enquanto ele falava e falava, eu lembrava que ouvia muitos caras falarem sobre as mães deles, e que se a minha era tão ruim assim, era porque queria me ver bem. Até tentei acreditar nisso e quando eu saí, eu a procurei, porque queria agradecer a ela por ter me deixado viver. Só que a mãe que eles tinham não era igual a minha. Eu nem sabia como definir o que a Tatiane era, e Alex, ao contrário, ele teve sua mãe até os doze anos. Eu tive inveja do que ele teve.
Até certo ponto eu não poderia ser tão egoísta, eu tive a minha avó e ela era a mais próxima de uma mãe que eu já pude ter.
Aquele dinheiro não adiantava. Eu fui falar com o Alex e ele me olhava de um jeito estranho como se não me conhecesse. Pedi a ele que me mandasse fazer alguma coisa, eu faria qualquer coisa para voltar a ter dinheiro, sair da casa do meu tio e me afastar do Roberto, fazer tudo de novo até me livrar da culpa de ter feito mal ao Ariel e me dar conta de que eu era ruim e aquilo nunca iria mudar.
- Não - ele me disse, e não havia mais conversa, eu sabia que depois daquela briga as coisas não voltariam ao normal.
Eu me incomodava com o quanto Edson fez eu me sentir ridículo, bem mais do que o Richard, acho que o motivo era porque eu já tinha vinte anos e tinha deixado ele me iludir daquele jeito. Tudo começou com algumas perguntas que tinham um grande poder em me incomodar.
- E sua namorada ? - ele perguntava, e cada vez mais ele queria saber com quem eu me relacionava.
Eu dava de ombros, Edson ria, depois começava a tentar me dar conselhos, como se fosse o meu pai. As perguntas começaram a ser mais íntimas, em poucas semanas ele queria saber como era dividir o banheiro, tomar banho e se trocar na frente de tantos caras.
- Eu me acostumei - eu falava, um pouco envergonhado, eu não queria ser tão ignorante quanto eu costumava ser, eu não queria que ele também se afastasse já que eu não tinha mais ninguém, e além do mais, ele tinha me oferecido alguns empregos.
- Bem . . . e quanto aqui fora ? Você se acostumaria ? Se não gostasse, conseguiria pelo menos se acostumar ?
Eu não respondia, apenas ria e fingia não entender, por que eu deveria tentar me acostumar com isso ? E com quem ?
E a paciência dele foi se esgotando, até que quando estávamos no apartamento sozinhos, ele perguntou se podíamos ao menos tentar dormir juntos uma única vez e que eu já era um adulto e não era tão burro para fingir que não entendia o que ele tanto queria.
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Lados Opostos - Parte 2
RomanceDurante sua jornada de arrependimento, Matheus cruza com Alex, um jovem que iniciou sua vida cedo no crime, e por outro caminho, se vê diante de Ariel, um rapaz que foi marcado por um roubo violento. A segunda parte conta uma pequena história da vid...