Capítulo 3

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Matheus

– Eu tive pena dela - eu falei, Marcelo olhava para mim como se fosse uma surpresa, seria grosseria falar que ele comia feito um porco, quando eu olhava para ele, imaginava que ele quase destruiu a casa da minha avó quando era mais novo e quando ela conseguiu ajeitar a vida dela, ele destruiu de novo, e eu só soube agora de tudo sobre ele. Ele me mostrou várias fotos, até de uma mulher idêntica a que minha mãe me mostrou.

– Agora ela te acusa de ter passado a mão no marido dela, mas vamos resolver.

Para ele, tudo poderia ser resolvido facilmente, mas não seria fácil convencer um traficante que estava atrás de mim.

– Isso se aquele traficantezinho não começar a encher o meu saco.

Ele limpou a boca, estava magro e mais velho, apesar de ter passado pouco tempo, acredito que era para ele estar preso.

Eu tive que ir embora, e eu tive que lidar com dois problemas quando fui morar com o meu tio, o primeiro era esconder dele que eu via a minha mãe, e o segundo era esconder do Gustavo que eu estava sendo acusado de uma coisa que eu nunca faria. Mas se estavam atrás de mim, iriam procurar por ele primeiro para saber onde eu estava, e ele ficaria sabendo de qualquer jeito, e por sorte enquanto isso não acontecia, eu tentava encontrar um jeito de conseguir contar.

Mas quando comecei a trabalhar sem ter que olhar para a cara do meu irmão, percebi que não era só ele que me odiava, eu trabalhava com o cara que eu roubei, e em todas as vezes que ele me olhava, era como se quisesse me matar. Eu me sentia pior pela culpa e era impossível tentar fingir que nada aconteceu.

Apesar de poder ficar na minha mãe, eu não suportaria encarar o Edson, era como se eu tivesse que encarar o Richard.

Assim que ele voltou, ela pediu que eu fingisse que nada aconteceu. Ainda íamos à igreja, mas Edson me olhava como se quisesse algo, era fácil demais para ele fingir que não foi nada demais. Eu tentei seguir em frente, seria mais fácil fazer as pazes, mas quando o ameacei de novo por ter tentado mais uma vez, eu fui mandado embora.

Fingir que eu não sabia que era Ariel também me incomodava, talvez ainda tenha ficado alguma cicatriz de quando eu o joguei no chão e acertei seu rosto e ainda o ameacei com uma arma, eu conseguia lembrar de seu rosto desde aquela época, e só agora eu sei o que ele faz, nós dois sabíamos a verdade, mas eu tinha mentido na delegacia sobre a arma e ele não tinha provas suficiente contra mim, só o fato da moto ter sido roubada.

- Ele não sabe, né ? - eu perguntei uma vez quando estávamos sozinhos na cozinha, ele tinha acabado de entrar, fazia entregas junto com o Gustavo, e eu me sentia um pouco envergonhado, ele andava de cabeça baixa, procurava por alguma coisa, mas parou de repente e me encarou.

- Quem ?

- O meu irmão, ele sabe que a gente se conhece ?

- Eu não te conheço, você só me roubou, e ele não sabe de nada, ninguém sabe - Ariel desviou o olhar.

- Você vai contar ?

Ele estava impaciente.

- Não.

Eu fiquei aliviado, pensando em uma maneira de pedir desculpas. Ficamos em silêncio. Eu queria saber o motivo, mas não poderia mais perguntar.

- Fiquei com medo de ir trabalhar depois daquilo, tive que comprar outra moto e pagar a moto que foi roubada. Em segundos você sumiu com ela.

- Eu já paguei pelo o que eu fiz.

- Eu também já paguei pelo o que você fez.

E ele se afastou quando o meu irmão o chamou.

Lados Opostos - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora