Capítulo 8

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- Ae, chega aqui - ele chamou a Marina, me apresentou para ela e eu a cumprimentei como se não a conhecesse. Ele saiu de perto com um sorriso no rosto para mim, como se eu fosse alguém que só agora iria descobrir alguns prazeres da vida.

Ela estava envergonhada, encostou-se no muro.

- Quem é você agora ? - ela perguntou, eu esperava ouvir sua voz doce e calma, por um momento isso me confortou.

- O mesmo de sempre, eu acho, e você ?

Ela deu e ombros.

- Alguém que foi muito magoada e deixada para trás, eu superei quando você não permitiu que eu fosse visitá-lo, eu te entendia, mas o fato de não ter me procurado quando saiu acabou comigo.

- Eu não queria que você passasse por aquilo de novo.

Era injusto. Eu sentia saudades, seria fácil com ela, eu contaria tudo que estava acontecendo, só que as coisas não eram como eu imaginava.

- A outra com quem você estava saindo passaria numa boa ?

Franzindo a testa, seu olhar cruzou com o meu mais uma vez. Eu não sabia o que falar.

- Bem, essa é a minha vida agora, se quiser alguma coisa, vai ter que pagar.

Ela riu.

- E trepar com traficante foi a sua única escolha ?

Eu não buscava um olhar diferente, era sempre mágoa ou raiva, mas ela me olhava dos dois jeitos, e de repente aquilo se transformou em angústia, seus olhos encheram-se de lágrimas.

Fingir que não me importava não adiantava mais já que eu passava a noite toda me remoendo de raiva e não saia do perfil dela, e o Felipe me perturbava pedindo o celular dele de volta já que era o único com internet, Marina também trabalhava em uma loja durante o dia, e todas as vezes em que eu saia de manhã, ela estava no ponto de ônibus. Demorou algum tempo até eu decidir superar.

. . .

O Marcelo jurava que Alex iria querer de volta, mas eu não liguei, ele me deu o dinheiro que eu pedi e eu queria arrumar um jeito de entregar. Acho que eu me senti desesperado e no final de semana fui até a casa da minha mãe. Para a minha surpresa, Edson estava lá, sentado à mesa, comendo.

Eu estava com pressa, mas ela insistiu para que eu entrasse e almoçasse com ela.

- Pensei que nunca mais veria você - eu detestava quando ela tentava tocar o meu rosto, eu desviei.

Eu já tinha me sentado, Edson estava ao meu lado, ele sempre a chamava de meu bem quando pedia algo, e ela fazia o favor retribuindo um sorriso. Aquilo me deu ânsia.

Eu sentia raiva da minha mãe, aquele sentimento de pena não existia mais e cada vez que eu entrava aqui, eu tinha medo de nunca mais conseguir sair, de um modo estranho, eu me sentia ameaçado.

- Eu vou embora - eu falei, aquele enjoo não me deixou comer, e eu tinha que sair.

- Mas você acabou de chegar, pelo menos coma a sua comida.

Eu me sentei novamente, a sua voz calma e a tentativa de ser simpática não colava mais comigo. Houve silêncio entre a gente, o único barulho era o da TV e Edson ria, voltava a comer e vez ou outra olhava para mim.

- Eu vi o seu irmão indo para a escola.

- Falou com ele ? - eu perguntei, ela fez que não e falou que não poderia se aproximar dele. Estava sentada no sofá, talvez com a distância ela deixasse Edson se aproximar de mim de novo, fingiria que não viu, e isso me incomodava tanto que eu fechei o punho. - Eu não vou mais voltar aqui.

Lados Opostos - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora