Capítulo 4

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Eu nem sequer poderia pensar em me envolver em alguma encrenca. Quando o pai de Isis me pediu para ficar longe dela, eu só fiquei e não retruquei, por mais que ele tenha se desculpado pelo jeito que me tratou, eu ignorava as mensagens dela pedindo para me ver.

No final da tarde, Marcelo conversava com Alex, e ele me olhava de canto, como se suspeitasse de algo.

- Veio aqui porque um velhote meteu a mão em você ? - ele perguntou e riu.

- Não, o velhote tá falando que eu meti a mão nele - eu joguei o cigarro fora, acho que passei muito tempo sem fumar, e o gosto e o cheiro começava a me deixar enjoado.

- Ninguém me falou merda nenhuma de você ou dele.  Tô pouco me fodendo, se eu souber de alguma coisa, vou chamar vocês dois pra conversar.

Ele devia ter acabado de fazer dezoito anos, ainda era um moleque, e depois meu pai e ele conversaram como se nada tivesse acontecido. Eu ainda estava no meio deles, sentado e escutando, eles riam, contavam histórias um para o outro e falavam de alguns conhecidos, eu o conhecia quando ele era menor mas depois ele simplesmente sumiu.

- Conheceu aquele mano lá . . . - Alexsander perguntava ao meu pai, ele conhecia todo mundo, não é atoa que tinha sido traficante, e depois que falou que eu era filho dele, Alex me olhou de outro jeito. - Por que não me disse nada que ele era teu filho ?

As vezes ele me olhava, me oferecia cigarro e eu aceitava.

- O cara tem o pavio curto, melhor ir na onda dele - meu pai murmurou, estávamos no segundo andar da casa dele no meio da favela, e eu não sabia como deixaram um moleque chegar nesse nível, eu teria ficado no lugar dele se eu não tivesse sido preso.

- Vou dar um jeito no cara - ele falou pra mim depois de um tempo, estávamos numa sacada, eu olhava a vista, e tentava não pensar que o meu tio já estava me procurando a essa hora, ainda era terça e tinha uma festa rolando na casa.

Ele não tinha limite nenhum, todos da favela o conhecia em tão pouco tempo. Ele era dono do lugar e eu tentava me conformar e baixar a bola pra um moleque.

Por mais que eu quisesse ir embora, eu tinha que resolver e sair dali sem dever nada, e muito menos sair estranhando o cara.

E eu odiava o jeito que o Roberto tentava resolver as coisas, ir numa delegacia e denunciar o Edson ? Era uma idiotice e pensariam que era mentira minha, e ele me ligou dizendo que me esperava lá, e eu não fui. Depois disso, evitamos falar do assunto, e aquilo acabou ali.

Para ele, porque para mim, estava me afetando de outra maneira. Quando eu finalmente quis me encontrar com Isis, eu a levei para a cama, mas dessa vez não deu certo, por mais que eu tentasse, o problema não era ela, toda vez que eu era tocado, eu lembrava da mão dele em mim. Eu sentia raiva o tempo todo, eu teria feito diferente se não quisesse fazer as pazes com a minha família.

- Vamos de outro jeito . . . Sobe em cima de mim - eu falei, numa outra tentativa frustrada de tentar transar com a garota que todo mundo queria. Eu me sentia um idiota.

- Acho que é você que não quer.

Ela saiu um pouco ressentida, mas não era sua culpa e eu não conseguia explicar.

E quando o tempo passou, eu não queria falar com a polícia e muito menos chegar em Alex de novo e pedir que fizesse algo com Edson. Pela primeira vez eu deixava um cara igual a ele me derrotar.

Por mais que eu tentasse entender o que estava me fazendo tão mal, eu cheguei a um ponto que entendi que não era só Edson, ter sido o agressor de alguém era muito pior para mim, eu descontei a raiva que eu sentia nele, e eu nem o conhecia.

Ele me olhava as vezes, olhava para as tatuagens das minhas mãos e tentava não cruzar comigo em qualquer lugar que eu estivesse. Eu nunca tentei me aproximar, nem dele e nem do meu irmão, e eu queria arrumar um jeito de me livrar da prisão que era ter que encará-lo todos os dias.

Lados Opostos - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora