Capítulo 10

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                   Emma Martínez

Olho para o espelho e vejo as marcas das minhas unhas em meu pescoço. Eu não deveria ter bebido tanto; sempre esqueço tudo o que faço quando estou sobre o efeito do álcool. Por que ele resolveu ficar? Era só ele me deixar dormir e ir embora, e agora estou ainda mais confusa.

Pego um remédio para a dor de cabeça na mesinha ao lado da minha cama e tomo, pois meu cérebro está prestes a explodir.
Preciso falar com a Sarah; ela deve lembrar de algo e pode me ajudar. Ligo para ela e marcamos um encontro. Como não estou com meu carro, vou ter que ir a pé.

__Oi, Sarah__ Vejo-a sentada tomando um suco e me esperando, e me junto a ela.

__Como você está?__ Ela empurra uma rosquinha para mim. Pego uma com cobertura de morango, com granulados.

__Minha cabeça está prestes a explodir. Você pode me ajudar? Por que ele acordou na minha cama e ao meu lado? Isso está me matando, Sarah. Não sei o que fizemos.__ Mordo um pedaço e saboreio o gosto daquela rosquinha que estava deliciosa. Rosquinha é minha comida favorita; eu comeria cinco delas sem reclamar.

__Eu também não lembro, apenas algumas lembranças vagas. Lembro que ele disse que eu deveria pegar seu carro, mas eu também não tinha condições . O mais sóbrio era Rafael, então pedi para que ele levasse seu carro.__ Coloco os braços sobre a mesa e inclino minha cabeça, resmungando. Nunca mais vou beber assim.

__Ele me disse que não fizemos nada e que ficou comigo porque estava preocupado. Eu devo acreditar nele?__ Levanto a cabeça e mordo mais um pedaço daquela rosquinha deliciosa, apontando para meu pescoço e mostrando as marcas das minhas unhas.

__Você fez isso de novo? Então é por isso que ele ficou com você. Deixa eu ver.__ Sarah se aproxima de mim, preocupada. __Você se feriu! Você disse que não faria isso com você mesma.

__Eu sei, mas não consigo explicar por que fiz isso. Eu acordei me sentindo bem, como se não tivesse tido pesadelos. Você não se lembra de mais nada?__ Pergunto com esperança.

__Lembro que ele surtou na festa porque Lucius estava dando em cima de você. Depois, ele não te deixou sozinha e você começou a beber ainda mais.__ Enquanto Sarah fala, algumas memórias confusas voltam à minha mente. O que ele disse é verdade; lembrei que ele me ajudou a entrar em casa, me ajudou a tomar banho e depois me levou para a cama. Pela primeira vez, após a morte dos meus pais, não tive um pesadelo. Deve ter sido a bebida.

__Um maluco, ele não tinha esse direito.__ Cruzo os braços, irritada.

__Acho que o ódio que você sente por Andrew é tensão acumulada.__ Sarah me observa com um sorriso safado no rosto.

__Claro que não.__ Eu nego. __As outras pessoas desistiam no primeiro "não", mas Andrew não aceita isso.

__Isso só prova que ele realmente quer você.__ Não respondo para Sarah e continuo saboreando minha rosquinha.

__Vou falar com Rafa para ele pegar meu carro.__ Mudo de assunto e continuamos conversando.

Depois de algum tempo com Sarah, fui para casa a fim de encontrar meu belo carro e o Rafael. Ao chegar, encontro meu carro estacionado e o Rafa saindo, provavelmente ele estava me esperando. Sorrio, dando um abraço nele e o convidando para entrar.

__Obrigada por cuidar do meu carro.__ Agradeço.

__Não foi nada. E como você está? Você saiu só porre ontem.__ Rafa se senta em meu sofá, que não é tão aconchegante. Já está velho e com manchas que cubro com alguns panos. Infelizmente, quando me mudei, meu dinheiro não foi suficiente para comprar um sofá; mal consegui comprar os móveis. Alguns foram doados pela Sarah e outros eu trouxe da casa dos meus pais, que também não tinham boas condições, e isso acabou passando pra mim.

__Estou bem, foi só uma vez e não vai se repetir.__ Sorrio. __E você, como está com o Ethan? Ele tem te tratado bem?

__É...não temos nada, só estamos de papo

__Vocês podem enganar todo mundo, menos eu.__ Aponto para mim. __A química que vocês têm dá para cortar no ar com uma tesoura.

__Bom, está indo como deve ir. Não quero apressar as coisas, já sofri com isso, então quero ir devagar.__ Ele me olha com um sorriso tímido no rosto.

__Entendo.__ Vou até a cozinha pegar um suco para o Rafael.

__E você com o Andrew?__ Rafa pega o suco da minha mão.

__Ele é um idiota, só isso.__ Respondo.

__Não foi o que pareceu ontem depois daquela confusão. Nenhum cara faz isso por uma garota a não ser que esteja muito afim, e isso está bem claro, só você que não quer ver. Por que céus, aquele homem é um Deus grego.__ Rafa se afasta fingindo estar quente.

__Realmente.__ Admito. __Não posso negar que Andrew é um gostoso, e que mexeu um pouquinho comigo.__ Se você quiser, fique à vontade.__ Digo.

__Não, o Ethan já é ótimo para mim.__ Sorrimos. Rafa tem esse jeito simpático e divertido que conquista qualquer pessoa.

Rafa comenta algumas coisas das quais não presto muita atenção. Meu pensamento vagueia pela noite anterior e me pego pensando em Andrew e em como ele cuidou de mim. Ninguém nunca fez isso, mas ele fez.

__Emma.__ Rafael estala os dedos na minha frente, e eu piscando algumas vezes volto a prestar atenção nele.

__Desculpa, eu estava distraída.__ Sorrio sem jeito.

__Tudo bem. Bom, eu já vou indo. Até depois.__ Ele se levanta, e eu faço o mesmo, acompanhando-o até a porta.

Ele desaparece pelo caminho, e então fecho a porta e vou para o meu quarto, me jogando na cama. Quando estou quase dormindo, escuto alguém bater na porta, meu coração acelera, e me levanto rapidamente. Vou até a porta e a abro, vendo um peitoral bem na minha frente. Dou alguns passos para trás e tenho uma visão melhor de Andrew. Ele segura um pequeno buquê de rosas.

__O que faz aqui?__ Pergunto finalmente.

__Eu deixei minha jaqueta aqui.__ Sua rouquidão na voz me deixa arrepiada

Deixo-o entrar e pego sua jaqueta que estava na cadeira em frente à mesinha. Imediatamente sinto o cheiro do seu perfume ainda na jaqueta e volto para entregá-la a ele.

__Trouxe isso para você.__ Andrew me entrega as rosas, e eu recuo, um pouco surpresa com seu gesto. Pego as flores, que estão atadas por um pequeno laço, são lindas.

__Obrigada.__ Agradeço. __Você quer ficar e almoçar comigo?__ Pergunto um pouco sem jeito, preciso agradecer de alguma forma, e como não tenho dinheiro para pagar algo para ele, me disponho a preparar um almoço.

__Você quer que eu fique?__ Ele arqueia a sobrancelha, claramente duvidando do que acabei de dizer.

__Sim, eu quero te agradecer pelo que fez ontem.__ Respondo envergonhada.

__Ok, eu fico, Sardenta.

__Não me faça mudar de ideia.__ Lanço um olhar furioso para ele.

Vou até a cozinha tentar pensar em algo para fazer, pois não tinha planejado almoçar hoje. Olho para o armário, verificando o que tenho, além dos restos que sobraram.

__Eu tenho macarrão, molho e carne moída e restos de queijo. Vai querer? Você deve estar acostumado a comer coisas chiques.__ Falo encarando-o, um pouco envergonhada, já que ele provavelmente come pratos chiques em restaurantes enquanto eu estou apenas oferecendo um macarrão. Ridículo.

__Não me importo, Sardenta. Eu como o que você preparar, e com certeza vai estar delicioso.__ Ele se aproxima, e meu maldito coração começa a acelerar. Me afasto, mantendo uma distância segura.

Começo a esquentar a água do macarrão enquanto ferve, tempero a carne e faço bolinhas para colocar no molho. Minhas costas queimam com o olhar de Andrew, que não para de me olhar. Finalizo com queijo por cima do macarrão com molho de almôndegas.

__Humm, parece uma delícia.__ Andrew fala enquanto coloco o prato na mesa.

__Como está?__ Pergunto, querendo saber se realmente está bom. Andrew faz uma expressão de dúvida, mas logo sorri e diz que está delicioso. Nesse momento sinto na obrigação de agradecer pelo que ele fez. Isso não muda o fato de eu ainda não gostar dele, mas também não sou tão mal-educada ao ponto de ignorar o que ele fez.

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