Capítulo 6

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                Emma Martínez

Ouço o som do alarme; por que ainda o coloco? Sempre estou acordada antes mesmo dele tocar. Levanto, deixando o pano pelo chão e me olho no espelho, me perguntando o quanto estou destruída. Meus olhos estão marcados, meus lábios, secos; há manchas roxas em minha pele, e meu coração só carrega a culpa: a culpa por ter perdido meus pais. Se eu não tivesse gritado, eles não teriam saído de casa, eles ainda estariam aqui. E se eu não tivesse me afastado da Sarah no dia da luta? Eu não teria sido violada. É tudo minha culpa.

Vou até a sala; há sacos de salgadinhos espalhados pelo sofá e cartelas de remédios sobre a mesa. A falta de vontade de limpar minha própria casa me consume. Fui até a cozinha, onde preparei uma xícara de café. Enquanto o café passava, olho pela janela e vejo o céu claro começando a ganhar cores suaves com o nascer do sol, enquanto minha casa permanece em uma bagunça sem fim. Volto para o quarto e entro no banheiro, pego uma calça e uma blusa preta que cobre meu braço, onde as manchas estão mais visíveis. Passo corretivo e base para esconder minhas sardas e marcas. Saio pegando minhas coisas.

Desço do carro ao chegar na faculdade. Os universitários conversam alto, parecendo um bando de adolescentes no ensino médio.

__Emma__Ethan aparece na minha frente, me dando um leve susto.

__Oi Ethan__ Meu sorriso desaparece ao ver Andrew. Ele tem quanto de altura? Dois metros? Fico minúscula perto dele.

__Olá, sardenta__ Por que ele insiste em me chamar assim? O odeio, e isso só aumenta a cada vez que me chama por esse apelido.

Reviro os olhos. __Oi__ Falo de forma indiferente, cruzando os braços. Afinal, o que ele está fazendo aqui?

__Vai ser um prazer te ver todos os dias__ Sua voz rouca soa sarcástica. Então ele se mudou para esta universidade. Pelo pouco tempo que o conheço, isso não me surpreende.

__Parece que está me perseguindo__ Provoco, ele acha que não percebo que ele está em todo lugar onde eu estou. Eu não sou burra.

__É isso que parece? Bom, você acertou__ Como ele ainda pode admitir isso? Que ridículo. O jeito dele de ter todas as respostas me irrita. De certa forma, sinto que não posso ter a última palavra, pois ele sempre tem uma resposta para tudo.

Retiro-me, indo até minha sala e deixando ele e Ethan para trás. Alguns dos alunos estão sentados, mas a maioria espera a aula começar. Sento na cadeira na terceira fileira.

__Emma?__ Uma voz doce chama minha atenção.

__Sim__ Respondo, olhando para o rapaz que está sentado atrás de mim. Aluno novo? Não me lembro de tê-lo visto por aqui; na verdade, não presto atenção em ninguém.

__Prazer, sou o Rafael__ Ele fala sorrindo. Seu jeito me parece afeminado; ele tem um piercing no final da sobrancelha e seus lábios parece ter um gloss

__É... sou Emma, pelo visto você já sabe__ Respondo. __Você é novo?

__Não, estudo aqui desde o ano passado__ Ele esteve aqui esse tempo todo e eu nunca o vi? Preciso prestar mais atenção nas pessoas.

__Me desculpe, eu não sou muito de conhecer as pessoas__ Falo sem jeito, pego meu celular para olhar a hora e encontro uma mensagem.

Número desconhecido.

Saia de perto dele.

Quem é você?

Você não precisa saber, só saia de perto dele.

Que brincadeira é essa?

Me diga quem é você.

Eu não obtive resposta. Achei que tinha bloqueado esse número. As vezes esses trotes passam dos limites.

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