Lavínia é uma menina nada afetuosa que também não recebe afeto nenhum dos pais. Ela faz de tudo pra se sentir importante, se sentir alguém e nem sempre são coisas boas.
André é um anjinho, só mais um dos 7 filhos de uma família numerosa.
No f...
_ Lavínia! Por favor, não escuta o que eles disseram!- André gritou, as folhas de outono chacoalhando sob suas cabeças.
A menina continuou, passos firmes, os lábios apertados.
_ Ei...- ele segurou o braço dela fazendo-a virar.
Aquela foi a gota d'água. Quando seus olhos se encontraram com os dele, Lavínia não teve outra opção a não ser deixar que todas aquelas lágrimas idiotas saíssem.
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Sentiu-se tão frágil e boba.
Suas pernas estavam bambas. Ela agachou-se no chão e passou os braços sobre a cabeça se escondendo do mundo ao seu redor como uma bolha.
_ Não faz isso...- ele abaixou-se do lado dela.
A garota choramingou, seus murmúrios abafados pelo vestido.
_ Você não entende...
Uma outra onda de soluços tomou conta de seu peito.
André colocou a mão em suas costas, sem saber direito o que fazer.
_Eu sei o quanto sua reputação é importante pra você,Lavínia, e eu juro que eles não vão te zoar mais por isso.
A menina chacoalhou a cabeça ainda coberta.
_ Eu não mereço seu carinho, André. Só me deixa em paz. Eles todos tem razão...
_ Do que você tá falando?- André franziu a testa.
Lavínia finalmente levantou a cabeça, revelando os olhos inchados e o nariz vermelho.
_ Eu coloquei aquela prova na sua mesa.- ela disparou, a voz embargada e profunda como um poço escuro.
André arregalou os olhos e recolheu a mão.
_ E-eu- gaguejou- Eu não acredito nisso, Lavínia, me diz que está mentindo.
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Sentiu-se sendo puxado para baixo, o peso da mão de seu pai agindo como a gravidade em seus ombros. Ele levantou-se, vendo apenas borrões ao seu redor.
Lavínia fez o mesmo, a cabeça baixa.
_ Eu...
André limpou o suor da testa.
_ Merda- ele xingou.
André tinha xingado, Lavínia nunca imaginou algo assim saindo da boca dele, mas saiu, e por culpa dela.
_ Eu podia ter perdido minha bolsa.
_ Eu, eu sei...
_ Não!- ele deu alguns passos pra trás- Você não sabe de nada porque é uma riquinha mimada.
O menino fez uma pausa, colocou a mão no peito. A mesma menina que tinha feito seu coração bater tão leve alguns dias atrás estava agora lhe causando um colapso.
Era incrível o poder que Lavínia tinha sobre ele.
_ Você não entende o quanto eu me esforço pra ser bom. Pra agradar os meus pais e não acabar como o meu irmão.- ele a olhou, os olhos sérios, os lábios comprimidos- E você, você nem ao menos tenta.
Lavínia deu alguns passos para trás, só queria sair dali e fingir que nada daquilo aconteceu. Suas pernas estavam tremendo.
_ Eu... eu achei que você. tinha. con...ah...
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Um silêncio desconfortável recaiu sobre eles. O som do riacho que passava ali ecoando no ouvido dos dois.
_ Sabe o que eu tinha contado pra eles, Lavínia?- o menino começou, a voz carregada de decepção.
Ela balançou a cabeça nervosa.
_ Do dia eu que cumpri o desafio dos luíses de ajudar o "inimigo"... contei a eles que o meu desafio... eu cumpri com você.
_ Eu sinto muito, eu confundi as coisas e...
_ O Moisés estava entrando no grupo- ele interrompeu- ,ia fazer o desafio de obedecer uma menina o dia todo e então eu contei a eles sobre o meu.
Mais uma lágrima caiu do rosto de Lavínia. Ela andou pra trás de novo, tropeçou e caiu, sujando toda a sua meia-calça.
_ Eu... e-eu sinto muito.
_ Não Lavínia, você não sente.- era horrível a forma como a voz de André era calma e triste ao mesmo tempo.
Doía, doía muito.
André se afastou um pouco, como se ela fosse um daqueles bichos nojentos que preferem ficar longe.
_ Na primeira desculpa que você teve, você me fez mal. Eu vivo com você a 3 anos nessa escola e tenho motivos o suficiente pra criar uma revolução contra a sua existência. A SUA EXISTÊNCIA!- reforçou- Tem noção disso?.
Lavínia fez que sim. E tentou limpar as lágrimas, mas suas mãos sujas de terra sujaram seu rosto e a deixaram mais repulsiva.
_ Mas bondade tem limite, Lavínia- André disse, a voz calma e arrastada- E a não ser aquela sua amiguinha submissa, Flora, todos aqui te odeiam. E agora... Eu sou um deles.
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Virou-se e foi embora.
Deixando para trás um serzinho afundado no chão, atolado em sua própria desgraça.
