| 7.0 |

117 16 2
                                    

AURORA SCUDERI
— ATUAL 2039 —

Dizem que quando você está apaixonado, é capaz de fazer e aceitar qualquer coisa que venha do outro

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Dizem que quando você está apaixonado, é capaz de fazer e aceitar qualquer coisa que venha do outro. Não por que você é dependente, ou que não tem amor próprio, mas sim que você entende a outra pessoa.
                      Ao contrário do que a maioria tende a achar, o mundo não é preto no branco.
                      Não existe somente sim e não.
                 Certo ou errado.
                     No meio de tudo isso, existem várias incógnitas que dificultam a vida do ser humano de formas inexplicáveis.
                 Por isso que, enquanto para uma pessoa uma decisão pode ser extremamente fácil, para a outra pode ser difícil de decidir.
                 O mundo não é feito de cores suaves, como nas cores pasteis.
                    Ele é feito de correr quentes e fortes, do tipo que te machucam muito ou te fazem muito feliz.
                    É como o vermelho, que muitas vezes pode remeter ao amor, mas também à desgraça.
                 A vida é oito ou oitenta, mas em alguns momentos ela para aos quarenta quilômetros e nos faz surtar com tudo que acontece e pode acontecer.
                    É como uma canção, que começa sempre de um jeito melódico, quase sereno, antes de finalmente chegar ao ápice - refrão -, e nos mostrar tudo que ela estava nos reservando.
                    Estar apaixonado é como estar jogando poker ou qualquer jogo de azar. As chances sempre estarão contra você, não importa o que você faça, por tanto nesses momentos você deve usar o que tem de mais importante na vida.
                 Sua inteligência.
                    Tudo pode te abandonar em determinado momento, entretanto se você tiver isso, nada pode te impedir de conseguir chegar ao seu objetivo.
                 Quando digo que amor deve ser tratado como um jogo de azar, não estou dizendo que devemos tratá-lo como menos do que ele realmente é.
                    Só por que se trata de um jogo, não significa que não seja importante ou não tenha significado. Na verdade, a maioria das coisas tratadas como jogos, no fundo tem significados.
                 De algum modo elas se tornam importantes para nós, mesmo que demoremos para admitir tal fato.
                    Existem dois tipos de pessoas nesse mundo. As que amam demais, e as que não sabem como amam.
                    Contudo, mesmo que sejam opostas, ambas estão jogando o mesmo jogo.
                    Todos estamos à procura de alguém, mesmo que inconscientemente. Todos estamos sempre apostando nossas fichas em oportunidades que podem nos levar ao céu, ou ao inferno rapidamente.
                    Se tivermos sorte, subimos.
                    Se por algum motivo damos azar, nós caímos...
                    É um jogo perigoso, no entanto é quase impossível não ser ludibriado por ele, e resistir a jogá-lo. É um jogo que, para algumas pessoas, pode lhe causar vício, ao ponto de as deixar totalmente dependentes nele, e para outras varrer sua vida a tal ponto, que a esperança é perdida.
                    Mas aí está a questão do amor.
                    Até quando você perde, ainda sim ganha alguma coisa.
                    Dentre elas os ganhos são: experiência e astúcia.
                    Como eu disse antes, esse é um jogo oito ou oitenta. Ou você se importa muito, ou não se importa nada.
                    Mas aí é que está, será que é mesmo possível alguém não se importar com nada nem ninguém?
                    Um fato curioso sobre as pessoas que parecem não se importar, é que no fundo elas se importam, só são incapazes de demonstrar isso.
                    Talvez porque achem que isso os torna fracos, ou talvez porque foram condicionados a esse comportamento, de qualquer forma isso só mostra o quanto somos influenciados, e como no final das contas temos a tendência de sempre esconder uma carta na manga.
                    A atitude de Nevio algumas noites atrás é o que me faz pensar assim. Mesmo depois dele me atacar com palavras no hospital, tentando me afastar a todo custo, demonstrando o quanto parecia não se importar, ele ainda se importava.
                    Eu não sou psiquiatra, mas cresci com tio Nino e quando tinha quinze anos e pedi que ele me ensinasse sobre os comportamentos de Nevio e sobre sua condição, aprendi muito.
                    Sim, Nevio tem todos os comportamentos e atitudes de uma pessoa com personalidade antisocial.
                    Ele muitas vezes demonstra não se importar com nada, e tem uma grande tendência a torturar e estripar tudo que se move próximo a ele. O Falcone é arrogante, orgulhoso e narcisista. E com toda certeza não sente remorso com as vidas que destrói.
                    Mas ele também é leal. Amoroso e afetuoso com sua família e amigos, mesmo que ele não reconheça. Ele é capaz de morrer pelas pessoas que ama, e tem a capacidade de respeitar alguém se fizer por merecer.
                    Nevio é, sem dúvida, o homem mais indecifrável que eu já conheci, e tenho certeza que será assim para sempre, porque apesar de conhecê-lo desde que nasci, sinto que sempre terei mais a descobrir.
                    Aquela noite me serviu para isso, para lembrar que por mais que suas palavras me peçam para desistir dele, no fundo eu não devo.
                    Agora sim eu entendo Greta.
                    Naquela noite eu demorei a dormir, e quando acordei no meio da madrugada encontrei a cama vazia.
                    Meu coração teria se partido, se não tivesse visto Nevio sentado em frente à janela, olhando para fora como se tivesse patrulhando e esperando o perigo vir de algum lugar.
                    Quando perguntei o que ele estava fazendo ali, ele simplesmente respondeu:
                    "Não posso deixar pegarem você também."
                    Isso deveria ter me feito sentir bem, como se eu fosse importante para ele, mas eu apenas senti pena e fiquei triste.
                    O quão profundas podem ser as cicatrizes que o ataque deixou na psiquê de Nevio? E quanto tempo demoraria para ele cair em uma espiral de fundo do poço sem fim?
                    Mesmo com sono, eu peguei um puff gigante roxo que tinha em meu quarto, e coloquei em sua frente, sentando ainda enrolada com a coberta no mesmo. Mas em pouco tempo, eu caí no sono.
                    Quando acordei novamente pela manhã, ele não estava mais lá.
                Tio Sávio e tia Gemma levaram a mim e Carlotta para visitar Greta sempre depois da escola. Nós duas tivemos a tarefa de entreter Greta, e aos poucos eu sentia que estávamos conseguindo nos aproximar, como deveríamos ter feito quando éramos pequenas.
                    Nevio ficava com sua irmã durante o dia inteiro, não saindo do seu lado nem quando os médicos estavam lá, ou quando eu e Lotta estávamos lhe fazendo alguma visita.
                    O único momento que ele saia era no meio da noite, quando seu pai assumia seu posto, e enquanto ao invés de ir para a mansão Falcone, ele vinha até o meu quarto.
                    Por incrível que pareça, nenhum dos dois nunca ultrapassou o limite. No começo eu fiquei nervosa, mas com o tempo Nevio me passou tranquilidade.
                    Nós conversávamos baixinho, deitados um de frente para o outro. Jogávamos xadrez até a hora de o sono finalmente me levar. Existiu até algumas vezes que assistimos filmes na televisão do meu quarto.
                    Nevio foi totalmente contra assistir a minha ideia de fazermos uma maratona de romances, então fizemos um trato.
                    Ele escolhia o filme de uma noite, e eu o da próxima. Até chegamos a assistir a série Friends para descontrair um pouco, e por mais que ele tivesse ficado de cara emburrada durante todo o momento, eu sabia que ele tinha gostado.
                    Conseguia vê-lo querer sorrir.
                    Mas o sonho sempre chegava ao fim quando eu caia no sono, e quando acordava na manhã seguinte, ele já havia sumido.
                Ficamos assim durante um mês, ele indo e vindo do hospital para o meu quarto, mas Greta finalmente recebeu alta hoje e voltou para casa.
                    Todas as famílias jantaram juntas, do jeito que sempre fazemos, a comida de tia Kiara e tia Gemma ficando ainda mais saborosa com a volta de Greta para casa. Ela estava feliz, eu podia ver isso, mas havia um lampejo de tristeza em um face quando ela achava que ninguém estava olhando.
                    Assim que todos foram para sala, eu dei uma desculpa esfarrapada para papai dizendo que precisava de um acessório emprestado de Greta e logo os acompanharia.
                    Eles acreditaram, e eu segui meu caminho para o quarto da irmã de Nevio.
                    O acidente tinha deixado Greta frágil no primeiro instante, mas agora ela estava bem melhor que do início, podendo até andar e se trocar sozinha. Bati na porta de seu quarto e a mesma disse que eu poderia entrar, e assim eu o fiz, vendo-a abrir um sorriso ao me ver.
— Aurora, está tudo bem?
— Eu tenho menos de dez minutos, mas queria lhe perguntar uma coisa.
— Diga.
— Sei que você está feliz por estar em casa, mas eu posso ver que está triste. Está com saudades de Amo, não está? — eu me aproximei da mesma, sentando ao seu lado na cama.
                    Greta sustentou o seu sorriso por mais alguns segundos, antes de uma lágrima solitária deslizar por sua bochecha, me dando toda a resposta que eu precisava.
— Sei que sobrevivi, mas sem ele sinto como se estivesse morta. — ela diz, desviando o olhar do meu. — Me sinto oca.
— Eu sinto muito, Greta. — me aproximei da mesma, tomando cuidado para abraça-la sem lhe machucar. — Confie em mim, vamos resolver isso.
— Minha família nunca vai permitir. — ela se afastou e eu limpei a água de seu rosto. — Nevio nunca permitirá.
— Nevio te ama. — dei um sorriso. — Pode não parecer, mas ele sempre faz o certo, mesmo que seja de um jeito torto.
                    Ela acenou com a cabeça, me abraçando novamente antes que eu me levantasse e saísse de seu quarto. Corri para minha casa, dando um beijo em meus pais e puxando a orelha do meu irmão e saindo de seu alcance antes que ele pudesse me pegar.
                    Tomei meu banho e me troquei, olhando pela janela, exatamente o mesmo lugar onde tinha visto Nevio do jardim fumando e me observando. Parte de mim estava triste, pois com a volta de Greta era óbvio que ele não viria mais ao meu quarto durante a noite, mas a outra parte ficava feliz por ele ter sua irmã gêmea de volta.
                    Sendo assim eu não o esperei, apaguei as luzes e deitei em minha cama, torcendo para ser pega logo pelo sono, algo que aconteceu rapidamente.
                    Eu não sei em que momento da noite senti alguém deitar ao meu lado, mas quando alguém acariciou meu rosto, meus olhos se abriram minimamente para ver quem era.
— Nevio? — eu perguntei, minha voz sonolenta. — O que você está fazendo aqui?
— Você achou mesmo que eu iria faltar ao nosso encontro, logo na minha vez de escolher o filme? — Ele arqueou a sobrancelha, sorrindo para mim e deus, meu coração quase parou.

❝◆⃘᳝࣪࣪❛͓𝕭ᵧ ⅅ⍺ɾḳ O⨏ Rυ¡ⴖ (+18)❜┆❫ ۪Onde histórias criam vida. Descubra agora