The Story of Us

I used to think one day we'd tell the story of us
Eu costumava pensar que um dia contaríamos a história de nós dois

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Junho 2023

No meio do inverno de São Paulo era raro ter um dia de sol pra aproveitar um fim de semana fora de casa, mas assim que Carol acordou naquele sábado e viu a previsão do tempo, ela não demorou muito pra ligar pra sua namorada e planejar um dia juntas sem ser com um balde de pipoca no seu sofá e um filme irrelevante enquanto elas se beijavam e nem prestavam atenção na tela.

Provavelmente metade da cidade teve a mesma ideia que ela e o parque Ibirapuera estava lotado. O clima estava agradável, nada mais alto que 20°, o céu ensolarado contrastando o frio, era o dia mais perfeito do ano, Carol pensou quando saiu de casa. Pra ela era ainda mais perfeito porque tinha a melhor companhia do mundo. Rosa ainda estava incerta sobre fazer um picnic no meio da cidade mais caótica do país, na concepção dela elas iriam ser assaltadas com certeza. Mas ela se deixou ser guiada pelo parque por sua namorada entusiasmada e falante, ela ficava ainda mais linda assim, Rosa observou.

"Ali, aquela família tá saindo!" Carol esqueceu sua educação e apontou diretamente pras pessoas em questão, Rosa soltou sua outra mão pra baixar seu braço como sua mãe sempre a ensinou. "Desculpa." Carol riu sem graça. Rosamaria revirou os olhos mas um sorriso ficou presente em seus lábios, a inocência de Carol era uma das partes preferidas dela, sua alegria exagerada nas pequenas coisas da vida, que passariam despercebidas por Rosa se não fosse ela.

Elas estenderam uma canga de praia que Carol levou, extravagante como a própria dona, tinha a bandeira LGBT estampada e cobria grama suficiente pras duas sentarem e colocar a bolsa térmica que Rosa trouxe com lanches pra elas. Se não fosse isso, Carol teria comprado dois pacotes de salgadinho e duas cocas pra ser o almoço delas.

Carol notou as florzinhas amarelas que nasciam na grama e foi rápida em arrancar uma enquanto Rosa estava distraída com os lanches. Colocou a flor na frente do rosto da namorada e sorriu "como um golden" como Rosa costumava dizer, a arquiteta recém formada riu jogando a cabeça pra trás mas logo se recompôs pra pegar a flor da mão de Carol.

"Você esquece que eu sei muito sobre planta, isso aqui é uma praga que nasce na grama." Ela informou sem ter muito tato pra simplesmente ser grata pelo ato de amor de Carol, que ficou sem graça e deu de ombros. "Mas obrigada." Ofereceu a Carol seu melhor sorriso que levou a mulher às nuvens. Rosa olhou em volta do parque. "Imagina projetar um parque desse tamanho, ver todo mundo aproveitar esse espaço, conviver com a natureza... um dia, Carol." Ela sonhou em voz alta.

"Um dia muito próximo, meu amor. Lembra de colocar flor de verdade pra ninguém mais presentear a namorada com pragas." De novo, ela fez Rosa rir e aquilo ia se repetir milhares de vezes no dia.

Diferente de 90% da sua classe de formandos, Rosamaria não queria nada com prédios de concreto, sua vibe era urbanismo, a beleza da natureza implementada numa selva de concreto que era São Paulo, seu sonho sempre envolvia áreas verdes, plantas tropicais e muitas cores. Ela era uma na multidão como Carol costumava dizer, tinha uma estrela dentro dela que ela não sabia colocar pra fora. Mesmo sendo alta e chamativa por sua beleza, ela gostava de passar despercebida nos lugares, não gostava de como suas bochechas e peito esquentavam quando precisava conversar com outras pessoas.

Carol era totalmente o contrário, sua escolha em estudar serviços sociais já lhe dizia que ela tinha um dom diferente em se socializar. Ela era sempre o evento de uma festa, a palhacinha entre os amigos, a parte conquistadora de um relacionamento, mulherenga quando estava solteira. Carol era a definição de extrovertida, no seu aniversário, fizeram um bolo uma frase como se tivesse sido retirada de um dicionário. Extrovertido(a) : voltado para fora; expansivo, caloroso, divertido; Carol Gattaz.