The Story of Us

crowded room

Now I'm standing alone in a crowded room
Agora estou sozinha em lugar lotado

...

Agosto 2024

Rosamaria POV

Quantas vezes eu ia me pegar admirando aquele sorriso dela, mesmo que mais contido, continuava o mesmo, lindo, alegre e contagiante. Ela olhava no olho de todo mundo, menos no meu, é claro, mas falava rindo com todos, como se aquele fosse o dia mais feliz da sua vida. A medida que ela foi bebendo mais, a Carol que eu conhecia começou a aparecer e daí foi ladeira abaixo com a saudade. Eu queria chutar a Roberta da cadeira ao lado dela e sentar ali, segurar sua mão, fechar os olhos e fingir que nunca nos machucamos daquela forma.

Ainda a amo, e é difícil admitir isso quando eu sei que ela não sente o mesmo, eu sei que tenho que superar mas é complicado. Ela se decepcionou comigo e eu não espero que ela volte atrás, sei que deixei todos os meus problemas atrapalharem nós duas e nunca nem lhe dei a chance de entender o motivo. Ela também me magoou com suas palavras e atitudes mas eu já me coloquei em seu lugar e eu teria sentido que tinha levado uma rasteira de olhos fechados, sem nem saber de onde veio.

A admiro por ter aceitado que eu viesse, ela poderia ter me mandando pra aquele lugar ali mesmo no auditório mas foi educada. E está sendo maravilhosa com os amigos que fez através do nosso namoro, fico feliz que ela não os culpa ou tem ressentimento deles.

"Não, sério, Fê, cê precisava ver, eu nunca vi um bode daquele tamanho, enorme." Ela falava animada de algum acontecimento da fazenda dos seus pais, falava com tanto ânimo que eu, de novo, me peguei sorrindo pra ela. Por dois segundos esqueci quem eu era pra ela, soltei uma gargalhada com sua história. "A Roberta é muito tonta, eu falei pra ela, o Seu Antônio vai te pegar, não fica perto." Todo mundo riu com o nome do bode. "Ela deu dois passos, o bicho deu uma cipoada nela que ela voou igual papel. Tadinha da minha prima ficou segurando ele pelos chifres pra ele não ir nela de novo e eu me mijando de rir, né?!"

"E ele não atacou vocês?" Perguntei curiosa com a história, saiu tão naturalmente que eu nem percebi que foi minha primeira interação com ela em um ano. Ela me olhou por breves segundos e ficou em silêncio, ela ia me fazer passar essa vergonha de me ignorar na frente de todo mundo?

"Não, Rosa, ele não ataca a Júlia, e a Carol tava fora do cercado rindo da minha cara." Ela empurrou o ombro de Carol que continuou rindo e contando a história.

Me desconectei do momento, fiquei me culpando por ter falado sem ter sido chamada. Eu nunca faço isso, e agora que fiz, recebo um tratamento frio. Por mais brega que seja, é ela que me faz sentir assim, mais livre, o momento da minha vida que mais fui sociável foi quando namorei Carol, ela é contagiante, além de sempre me ajudar a melhorar minha postura em público.

Flashback

Novembro 2022

"... pra melhorar a arquitetura urbana... na cidade." Eu gaguejei falando meu texto ensaiado.

"Na cidade não, urbana já é na cidade." Carol me corrigiu pela milésima vez, eu assenti fechando os olhos pra tentar lembrar disso. "Vai de novo desde o começo, fala mais alto, tem hora que eu nem consigo te escutar."

Ela sentou no sofá de novo. Faltavam alguns dias até eu apresentar meu TCC e eu estava querendo sair da minha própria pele de tão nervosa, ela tentava me acalmar saindo comigo, assistindo filmes, mas não funcionava. Até que hoje ela me colocou em pé no meio da sala, ligou a TV com uma foto hilária de uma plateia bem numerosa de um teatro e me mandou apresentar como se fosse pros meus professores.