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As mãos de Kari se moviam mecanicamente, cortando vegetais ao lado de Merow na cozinha comunitária anexa ao grande salão. A luz do fim da tarde filtrava-se pelas janelas, lançando longas sombras pela sala enquanto os preparativos noturnos começavam, mas ela mal notou o zumbido da atividade.

Sua mente estava em outro lugar, focada no comportamento recente de Wulf. Ele havia retornado tarde naquela primeira noite, puxando-a para seus braços como de costume, mas quando ela acordou, ele havia sumido novamente. O padrão havia se repetido nas últimas duas noites, deixando-a confusa e incerta.

"O que te incomoda, criança?" Merow perguntou.

Ela hesitou, sentindo o calor subir às suas bochechas.

"Wulf tem agido tão distante desde que nós..."

Ela parou de falar, incapaz de terminar a frase, e Merow lançou-lhe um olhar pensativo.

"Ele carrega muita coisa nos ombros - o peso do nosso povo, suas expectativas. Isso o faz se sentir responsável, mesmo por coisas além do seu controle."

Ela franziu a testa para a mulher mais velha.

"Mas por que agora? Estávamos tão perto, e então de repente..."

Merow suspirou, largando a faca.

"Suspeito que a felicidade que ele encontrou com você o lembra do que os outros não têm."

"Você quer dizer, por causa da maldição?" ela perguntou baixinho e Merow assentiu.

"Ele se sente culpado por sua própria alegria enquanto outros sofrem. Não é certo, mas é quem ele é."

Seu coração doeu com o pensamento. Ela tinha visto vislumbres do peso que ele carregava, mas não tinha percebido o quão profundamente isso o afetava. A ideia de que ele poderia negar a si mesmo a alegria por causa disso não lhe ocorreu. Uma onda de empatia tomou conta dela, junto com uma pitada de frustração.

"Mas ele merece ser feliz também", ela murmurou, mais para si mesma do que para Merow. Assim como eu, ela acrescentou silenciosamente, surpresa pela força de seus próprios sentimentos.

Ela pegou sua faca novamente, retomando sua tarefa com vigor renovado enquanto refletia sobre a situação. A maldição, o peso da liderança, as expectativas de um povo inteiro - era muito para qualquer um suportar. No entanto, Wulf parecia tão contente naqueles momentos que eles compartilharam juntos. A lembrança de seu sorriso, raro e precioso, brilhou em sua mente.

Kari sentiu uma determinação crescendo dentro dela. Ela ainda podia estar aprendendo sobre este mundo e seus costumes, mas ela entendia a importância do apoio e da companhia. Se Wulf achava que tinha que enfrentar esses desafios sozinho, ela lhe mostraria o contrário.

"Há algo que eu possa fazer para ajudá-lo?" Kari perguntou a Merow, sua voz firme apesar da incerteza que a agitava. "Para ajudar todos vocês?"

"Não sei. É difícil acreditar que uma mulher pode fazer a diferença." Merow fez uma pausa e suspirou. "Não é só Wulf — todos nós que lutamos com esse destino. Precisamos de esperança, e ele precisa sentir alegria para lutar contra essa escuridão."

"Como posso dar-lhe alegria se ele está me evitando?"

Merow deu um tapinha na mão dela, seu toque era quente e reconfortante.

"Você tem o poder de alcançá-lo. O amor pode ser uma luz nos momentos mais sombrios. Fale com ele — ajude-o a entender que ele também merece felicidade."

Seu estômago revirou nervosamente.

"Amor? Você acha que ele me ama?"

As palavras saíram num sussurro, como se dizê-las muito alto pudesse fazê-las desaparecer.

Merow bufou, o som era ao mesmo tempo divertido e exasperado.

"Claro que sim. Assim como você o ama. Você terá que mostrar a ele que ele não precisa carregar esse fardo sozinho."

Ela sorriu para a mulher mais velha, subitamente cheia de felicidade.

"Eu encontrarei um jeito", ela prometeu.

Tarde da noite, ela ficou deitada na cama, observando preguiçosamente os padrões que o luar projetava no teto. Os sons das atividades noturnas do clã já tinham silenciado há muito tempo, mas ela estava bem acordada, com a adrenalina correndo em suas veias.

Ela esperou ansiosamente por Wulf, seu coração disparado ao pensar no que planejava fazer. Conforme as horas passavam, ela lutava contra seus nervos, ensaiando suas palavras em sua mente. A língua orc ainda parecia desajeitada em sua língua, mas ela estava determinada a se fazer entender.

"Ele precisa ver meu coração", ela sussurrou para si mesma enquanto o tempo passava, a determinação fortalecendo sua determinação.

Os olhos de Kari iam rapidamente para a porta a cada poucos minutos, esperando que Wulf entrasse. Mas a porta permanecia teimosamente fechada. Ela torceu o cobertor entre os dedos, lutando contra a vontade de ir procurá-lo. E se ele não voltasse esta noite? E se ela perdesse a coragem pela manhã?

Ela respirou fundo, tentando acalmar seus pensamentos acelerados. As palavras de Merow ecoaram em sua mente, lembrando-a do fardo que Wulf carregava. Doía-lhe pensar nele em algum lugar, carregando sozinho o peso do sofrimento de seu povo.

Conforme a noite avançava, sua determinação só ficava mais forte. Ela o faria entender que ele não tinha que enfrentar isso sozinho. Que o amor deles — a palavra ainda a arrepiava — poderia ser uma fonte de força, não uma distração de seus deveres.

O coração dela disparou quando ele finalmente entrou no quarto, seu cansaço evidente na queda de seus ombros. Ela observou com admiração enquanto ele se despia, seus olhos traçando os contornos de sua forma musculosa. Reunindo coragem, ela se sentou, permitindo que os lençóis deslizassem para longe.

"Eu estava esperando por você", ela disse, esperando que sua voz soasse mais sedutora do que ansiosa. Ela estendeu a mão, convidando-o para mais perto.

Seus olhos se aqueceram quando ele se aproximou dela, mas então ele hesitou, o desejo se misturando à confusão em seu rosto.

"Kari, eu..." ele começou, mas ela o interrompeu.

"Você me trouxe aqui, lembra? Você não pode se afastar disso. Nós temos um ao outro", ela acrescentou firmemente. "Não vou deixar você me rejeitar agora."

"Eu nunca te rejeitaria."

O choque no rosto dele ajudou a aliviar sua ansiedade enquanto ela esperava pacientemente que ele decidisse. Ela podia ver a luta interna se desenrolando em suas feições. Seu coração batia forte no peito enquanto ela esperava, torcendo para que suas palavras o tivessem alcançado.

Por um momento, ela temeu que ele pudesse se virar, mas então um gemido baixo escapou dele. Uma onda de alívio e excitação tomou conta dela quando ele se juntou a ela na cama e a puxou para seus braços.

A Noiva Roubada do OrcOnde histórias criam vida. Descubra agora