O amanhecer chegou e, com ele, a pressa de me arrumar para encontrar os meninos. Meu avô tinha partido na noite anterior para uma cidade vizinha, resolvendo assuntos de trabalho, o que me permitiu ir ao bosque sem preocupações.Avistando um piquenique à distância, notei a ausência dos meninos e suspeitei de uma possível surpresa. Com um sorriso travesso, aproximei-me do local com cuidado.
- Adivinha quem é! - Uma presença forte me envolveu por trás, tapando meus olhos com suas mãos. A voz era inconfundível.
- Alan! Me solte - ri, reconhecendo-o imediatamente.
- Como você é rápida! - fala me soltando e rindo da situação
- Não é difícil te reconhecer. Aliás, onde estão os meninos? - procuro informações para não ser pega de surpresa novamente.
- Estão no rio aqui perto. Vamos encontrá-los. - fala correndo
**Alan narrando:**
Natália ainda não tem ideia de que uma guerra está prestes a eclodir, provavelmente em menos de dois anos, e muitos povos serão afetados. Estou elaborando um plano para ajudar essas pessoas, mas preciso de aliados habilidosos para concretizá-lo. Além disso, ter Natália ao meu lado é como receber uma resposta divina. Sempre a amei, desde a infância, mesmo quando éramos muito jovens para compreender o que sentíamos. Nunca consegui me envolver com outras garotas, pois meus pensamentos retornam constantemente àquela menina peculiar, que sempre foi vista como diferente. Não quero vê-la sofrer com a guerra iminente. Meu único desejo é protegê-la.
- Naty, preciso te contar algo - me aproximei, mas os meninos chegaram no momento exato, e eu perdi a coragem de me declarar.
- O que você ia dizer? - pergunta aparentemente distraída enquanto saboreia uma fruta.
- Ah, nada, não era nada demais... - falo fugindo do assunto.
- Você sabe que seu pai quer que você abandone os estudos, não é? - Eduard fala chegando ofegante
~ parece uma criança ~
- Eduard, não me preocupo com isso. Meu pai não pode mais me impedir de estudar! - fala determinada
- E se seu avô apoiar seu pai? - David perguntou meio desengonçado.
- Então eu obedecerei, mas o vovô jamais faria algo assim comigo! — fala de forma engraçada.
Enquanto discutiam sobre estudos e a possível carreira militar de Natália, eu observava, sabendo que ainda não podia tê-la, mas desejando profundamente o melhor para ela.
- Você sabe que Amnon não desistirá de você, né? - Eduard comentou, provocando uma onda de raiva em mim.
- Se ele tentar qualquer coisa contra você, Naty, que se considere um homem morto! - falo e tenho certeza que estou vermelho feito um pimentão.
- Alan, não se preocupe. Nada vai acontecer comigo, afinal, tenho dois guardiões aqui - ela sorriu, referindo-se a nós.
Conversamos por horas até que o almoço se aproximava. Acompanhamos Natália até sua mansão e voltamos para casa. David partiu cavalgando, e eu e Eduard conversamos sobre o piquenique.
- Ela nem imagina o quanto a amo! — falo frustrado
- Irmão, entenda que ela esteve longe por anos. Não será fácil conquistá-la de imediato. Ter paciência é essencial. — parece tão sábio, mas é apenas um menino!
Chegamos em casa e passamos o resto do fim de semana entediados, evitando o bosque para não levantar suspeitas.
**Natália narrando:**
Finalmente, segunda-feira chegou. Meu avô retornou no domingo à tarde e me levou a uma praia próxima, que me trouxe lembranças, mas essas memórias não me confortavam, me faziam sentir o gosto amargo do passado.
- Srta., já está acordada? - Maria entrou no meu quarto, vendo-me pronta e o ambiente impecavelmente arrumado.
- Bom dia, Maria! Vou tomar café na faculdade. Preciso chegar cedo para encontrar as salas.
- Tudo bem, mas antes de sair, passe pelo escritório do Coronel.
Beijei Maria na bochecha e fui até o escritório do meu avô, carregando cadernos e livros. Ao chegar, encontrei a porta aberta e ele em pé à entrada da varanda.
- Bom dia, minha querida!
- Bom dia, vovô - respondi, abraçando-o.
- Vai para a faculdade? Tome cuidado com os rapazes. Não confie em ninguém e, se precisar de algo, mande me chamar.— fala com aparente preocupação e insegurança.
- Não se preocupe, vovô. Vai estar tudo bem. — tento tranquilizar.
Após a conversa, segui para a faculdade sozinha, o que me deu tempo para refletir. Embora meu avô tivesse boas intenções ao me levar à praia, as memórias dolorosas que ela despertava ainda me assombravam. O medo de reviver o passado era constante, e eu desejava fervorosamente não enfrentar aquelas lembranças novamente.
Ao sair dos meus pensamentos, percebi que já estava em frente à academia. Havia muitos homens fardados, mas não encontrei os meninos. De repente, ouvi uma voz ordenando que todos se dirigissem ao salão principal para formação. Segui a multidão e me posicionei em uma das fileiras.
Logo, um homem surgiu que, para minha surpresa, eu já conhecia.
- Para começarmos nosso período letivo, todos os presentes deverão passar por uma inspeção de saúde - anunciou ele. - Faremos isso para garantir que todos estejam aptos.
Meu coração acelerou e minhas mãos começaram a tremer. Estava incerta sobre como lidar com a situação. Enquanto os homens se preparavam para a inspeção, eu permanecia inerte ao que ele tinha ordenado, o que logo chamou a atenção do Comandante Ralph.
- O que significa isso, soldado? Olhe para mim e siga minhas ordens - ordenou ele. Ao notar quem eu era, um sorriso malicioso se formou em seu rosto. - Vamos, obedeça!
- Não posso, senhor! Não consigo! — falo entre sentimentos atordoados.
Enquanto ele se aproximava, uma sensação de desamparo me dominava. No entanto, a chegada inesperada de meu avô e dos meus amigos Alan e Eduard trouxe alívio.
- Largue-a imediatamente! - gritou meu avô, enquanto Alan rapidamente cobria meus ombros com seu sobretudo. - Como você ousa desrespeitar minha neta, Comandante? Termine seu trabalho e deixe-a em paz! E avise a todos que ela está sob minha proteção! E se ousar tocar nela mais uma vez vai se ver comigo! — fala ameaçando.
- Cadete, você está bem? - Alan perguntou, mas eu estava em choque, percebendo que as memórias dolorosas do passado ainda estavam presentes e bem vivas.
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Corações Em Tempestades ( Concluída )
RomanceNatália, entrelaçada entre o Brasil vibrante e a Alemanha em guerra, busca seu lugar em Genebra sob a proteção de seu avô coronel. Em meio a um mundo de opulência e críticas, ela enfrenta o desafio de se afirmar e encontrar sua identidade. O elegant...