Desentendimento

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Meu pai fazia questão de se mostrar superior ao meu avô em tudo, buscando impressionar os convidados com a certeza de que ele iria "fazer e acontecer". Eu permanecia em um canto discreto, até que, inesperadamente, minha mãe se aproximou para conversar.

— Você ainda sente muita falta do meu avô, não é mesmo? — perguntou ela com um tom carinhoso, sua voz carregada de ternura e compreensão.

— Ele estava muito doente. Aproveitei cada instante com o vovô — quase disse algo errado, mas minha mãe não percebeu. Ela era a imagem da doçura e do cuidado, e isso me confortou um pouco, mesmo que a tristeza ainda estivesse presente em meu coração.

— E como foram esses anos? Muito difíceis? — perguntei, tentando disfarçar minha inquietação, com um misto de curiosidade e preocupação.

— Seu pai não é nada fácil, mas ele me ouve. Ah, quase casamos Larissa com um homem que queria destruir seu pai, mas, graças a Deus, não aconteceu nada! — Ela falou aliviada, um sorriso de alívio e um toque de preocupação em seus olhos.

— Então, Larissa ainda está solteira? Estranhei vê-la conversando com vários rapazes na festa. — Perguntei, com um toque de curiosidade e surpresa.

— Sim, mas… ela sonha em se casar com o General, o Primeiro General. — Quando minha mãe revelou isso, uma onda de raiva subiu por mim, mas tentei controlar meus sentimentos. O tom dela era de resignação, como se esperasse esse desejo da minha prima.

— Bom, esse é o sonho de todas, não é? — Tentei desviar o foco, tentando suavizar a tensão, embora a inquietação ainda estivesse presente.

Conversamos por um bom tempo até que chegou a hora do banquete. Todos estavam sentados à mesa quando meu pai se levantou para fazer um pronunciamento.

— Todos sabem que estar de volta a esta casa é uma alegria para mim! E como prova disso, tenho um anúncio a fazer — disse ele, com um sorriso de orgulho e um brilho triunfante nos olhos. — O senhor Benjamin — apontou para o comandante sentado à sua esquerda — me procurou para fazer uma aliança familiar. Ele me pediu a mão de uma das minhas meninas em casamento. Então, para mostrar o quanto me agrada, decidi entregar-lhe minha filha Natália. — Meu pai continuava falando, mas uma onda de ódio e repulsa me envolveu. Levantei-me abruptamente, interrompendo-o, com o rosto corado pela indignação.

— Eu não irei casar com ninguém! — exclamei, com uma voz firme e cheia de desespero. Todos ao redor ficaram em choque. — Sinto muito, senhores, mas não haverá casamento algum nesta casa! Aliás, se Larissa quiser casar com o Comandante, por mim tudo bem, mas não me inclua nesses planos! — A determinação em minha voz era evidente, misturada com um sentimento de revolta.

Observei a raiva no rosto de meu pai, mas ele se conteve e se sentou, o olhar fixo no chão. Podia ver os comentários circulando ao redor da mesa e meu velho amigo Eduard observava atentamente, com uma expressão de desapontamento.

— Então é assim que a senhorita trata seus pais e os convidados? Com escândalos e desrespeito! Sempre soube que seu avô a mimava, e aí está o resultado — afirmou o Comandante Ralph, com um tom de condenação e uma expressão de desaprovação.

— Senhor Comandante, se ousar desrespeitar meu falecido avô novamente, serei obrigada a convidá-lo a se retirar! — Minha voz estava carregada de raiva e defesa, meu olhar penetrante.

— NATÁLIA! JÁ CHEGA — meu pai explodiu com furor, a voz ecoando com a frustração e a autoridade de alguém que perdeu o controle.

O jantar terminou em um silêncio constrangedor, e todos estavam incertos sobre o que esperar. Dirigi-me para o meu quarto, que agora seria novamente o meu espaço. Entrei e bati a porta, consumida pela raiva.

— Irai-vos, mas não pequeis! Irai-vos, mas não pequeis — repeti para mim mesma, tentando não ser consumida pelo ódio e evitar fazer algo de que me arrependesse depois. Minha voz tremia com a tensão acumulada.

— Como é possível, meu Deus? Ele mal chegou e já está tentando se aproveitar de mim, da honra de meu avô, já está tramando planos sórdidos! Agora entendo o vovô! Ele estava certo! — Falei, andando de um canto a outro do quarto, a frustração evidente em meus gestos e no tom de minha voz.

— Filha? — A voz da minha mãe vinha do outro lado da porta, carregada de preocupação e um toque de gentileza.

— Pode entrar!

— Como pode, mamãe? Ele mal chegou e já está tentando fazer negócios me usando como moeda de troca! — Exclamei, quase em um grito, com a dor e a indignação estampadas no rosto. — Ele não tem coração? O que ele se tornou? Não reconheço meu pai! — Disse, com uma determinação dolorosa e uma profunda decepção.

— Filha, por favor! Não enfrente seu pai! Aceite esse casamento, é o melhor para você... — A súplica de minha mãe era cheia de tristeza e resignação, um desejo de que eu encontrasse uma solução pacífica.

— NÃO! Eu jamais irei me casar com um homem que nem conheço! Não me orgulho de tê-lo desrespeitado, mas a única coisa que peço é que ele pare de me tratar como criança e que ele não se esqueça de que esta casa me pertence. Mais ainda, toda a fortuna do Coronel Cabral está em minhas mãos, e ele não me controlará para usar meu poder aquisitivo em seus planos! — Falei com uma firmeza resoluta, e minha mãe percebeu a profundidade da minha dor, seus olhos se enchendo de compreensão.

Minha mãe me observou com um olhar carinhoso e compreensivo. Isso fez com que toda a minha postura de revolta desmoronasse, e eu me vi apoiando a cabeça em seu colo, enquanto ela acariciava meus cabelos. Aquele gesto simples me fez esquecer as minhas responsabilidades e me entreguei ao conforto e ao amor maternal.

— Agradeço a Deus por ter a senhora como mãe! Eu a amo! — Disse, com a voz embargada pela gratidão e pelo alívio.

— Filha, eu entendo o que sente. Não pense que é agradável para mim as escolhas de seu pai. A única coisa que lhe peço é que não desonere nosso nome. Caso contrário, não poderei protegê-la das garras de seu pai! — Minha mãe falou com um tom de compreensão, mas também de preocupação.

— Tudo bem! Eu vou tentar não bater de frente com ele. — Respondi, com um tom mais calmo e resignado, pronta para enfrentar a situação com uma nova perspectiva.

Corações Em Tempestades ( Concluída ) Onde histórias criam vida. Descubra agora