Corações Em Tempestades ( Concluída )

O Comandante Benjamin

Acordei cedo naquela manhã, meu coração pulsando com a expectativa e o desconforto que sentia em relação à situação em que me encontrava. Desde minha chegada à casa dos Cabral, percebi que o ambiente estava carregado de tensão. O Coronel, com sua presença imponente, e Natália, com seu olhar distante, pareciam ser peças-chave em um tabuleiro que eu estava tentando entender.

Desci para o café da manhã e encontrei a família Cabral já reunida. Natália estava lá, vestida com um uniforme simples que não escondia seu desdém pelo meu papel. Ao me observar, seu olhar estava cheio de desconfiança e um toque de desafio. Meus pensamentos estavam voltados para a maneira como eu poderia manipular a situação a meu favor, e observei cada detalhe com cautela.

- Tenho uma curiosidade - comecei, com um tom de desdém controlado -, a Srta. Natália já manuseou alguma arma na vida?

- Claramente, senhor. Fiz a academia de cadetes como qualquer um dos senhores aqui presentes. Inclusive, fui responsável pelo resgate de um de nossos colegas no incidente da mata, onde até o temível Comandante Ralph teve que parabenizar a mim e à minha equipe! - respondeu Natália, com um orgulho defensivo que só aumentava minha vontade de a colocar em seu lugar.

Não pude deixar de notar a irritação crescente em seu pai e nas demais pessoas ao redor da mesa. Era claro que Natália não era bem-vinda na conversa e, em parte, isso era minha intenção. Eu precisava testar os limites e ver até onde a lealdade dela a seus princípios e ao pai poderiam ir.

- É verdade, Benjamin, ela é uma boa artilheira e uma - o Comandante Ralph hesitou, mas completou com um tom de relutância - ótima Spinner. No entanto, ela não cresceu no exército e ainda mantém sua patente de cadete.

O Coronel parecia estar se segurando, uma sensação que eu conhecia bem. Sua resistência ao elogio só fazia com que eu a visse com mais desdém. Eu estava aqui para firmar uma aliança e fortalecer minha posição, e para isso, era essencial manter o controle e não mostrar fraquezas.

- Do que adianta tanto talento sem utilidade... - resmungou o Coronel, expressando seu descontentamento com a situação.

- Talvez aos olhos dos senhores meus serviços não tenham utilidade, mas para mim e para as pessoas impactadas pelo meu trabalho como médica, a importância é clara - Natália retorquiu, com uma firmeza que só aumentava minha determinação em desacreditá-la.

Senti um leve desconforto em relação ao tom desafiador de Natália e ao desdém em suas palavras. Era um jogo de poder, e eu precisava estar um passo à frente. Olhei para o Coronel, que parecia frustrado com o rumo da conversa. O ambiente estava carregado e eu sabia que qualquer erro poderia ser fatal.

- Parece que nossos diálogos insistem em seguir um caminho áspero. Por que, meus queridos convidados, não deixamos de abordar tais assuntos, pelo menos por agora? - sugeriu Natália, com um tom de resignação.

Seu pai, que estava claramente exasperado, não tardou a responder com raiva:

- Não. Não pense que com palavras bonitas você vai se safar desses questionamentos - afirmou ele, a voz carregada de revolta.

Observei o desenrolar dos acontecimentos com um sorriso interno. A estratégia estava funcionando. A tensão aumentava, e a divisão familiar só me favorecia.

Com o café da manhã terminado, levantei-me e retirei-me para os meus aposentos. A atmosfera na casa dos Cabral estava pesada, e eu sabia que precisava agir rapidamente para consolidar minha influência. A presença de Natália e seu espírito indomável representavam um obstáculo em meus planos. Uma ideia começou a tomar forma em minha mente.

A noite estava caindo quando decidi que era hora de uma visita estratégica a Natália. O ambiente estaria mais calmo e seria o momento perfeito para avaliar sua vulnerabilidade e estabelecer uma conexão que pudesse ser explorada. Sabia que ela era uma peça valiosa, e eu precisava garantir que estivesse do meu lado, mesmo que fosse à força.