O Início

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Meu nome é Natália e, embora resida nos arredores de Mayra, a minha batalha transcende o mero conflito físico que assola o mundo.

Minha vida sempre foi uma mescla de contrastes. Aos dezessete anos, deixei minha terra natal para morar com meu avô em Genebra, com o objetivo de realizar meu sonho de me tornar uma médica renomada.

Ao chegar à casa de meu avô, fui recebida calorosamente por ele - um homem de pele clara, cabelos grisalhos, sempre imponente em seu uniforme de gala militar, e um sorriso acolhedor no rosto.

- Minha neta querida! Quase me mata do coração com a notícia de sua chegada! - exclamou ele, abraçando-me efusivamente.

- Ainda bem que o senhor tem uma saúde de ferro - respondi, com um sorriso brincalhão.

A entrada na mansão revelou um salão grandioso, onde diversas empregadas me aguardavam para que eu escolhesse a quem desejava que me acompanhasse. A vista daquele espaço despertou em mim uma onda de nostalgia e alegria, lembranças da minha infância. Contudo, não podia me perder em devaneios; era hora de fazer uma escolha. Entre os rostos familiares, optei por Maria, uma jovem um pouco mais velha que eu, com quem havia brincado quando criança. Ninguém melhor para me ajudar com minhas tarefas do que ela.

Algumas horas depois, preparava-me para o baile de recepção organizado por meu avô. Vestida com um elegante vestido azul e um colar de pérolas, observava Maria ajeitar meu cabelo.

- Lembro-me de quando você era pequena. Dava trabalho para as outras criadas, mas comigo era um anjo - disse Maria, com um tom nostálgico.

- É porque você era a única que realmente me amava, então era fácil ser gentil com você - respondi com um sorriso. - além disso, temos quase a mesma idade.

- Terminei. Já está na hora de você descer; todos estão ansiosos para conhecê-la!

Descemos pela longa escadaria e adentrei o mesmo salão que vira mais cedo, agora repleto de rostos desconhecidos e alguns conhecidos. Apesar das recepções calorosas, sentia-me uma estranha, incomodada pelos olhares de julgamento. Para muitos, a neta de um coronel não era uma promessa de bom casamento, e meus traços fora do comum apenas acentuavam esse julgamento.

Eu era mais corpulenta que as demais jovens, o que, para muitos, era motivo suficiente para o desprezo.

Algumas pessoas vieram me cumprimentar e observei o orgulho no rosto de meu avô. Fui persistente em tentar agradá-lo.

- Faraday! Que prazer vê-lo, meu amigo! - exclamou meu avô ao saudar um senhor mais jovem.

Recordei-me bem da família Faraday: uma família não rica, mas honesta e fiel aos princípios. Seus três filhos, Alan, Eduard e David, eram meus amigos de infância, apesar do desagrado de meu pai com essa amizade.

- Querida Natália, você está deslumbrante! Estamos felizes por tê-la aqui e ansiosos por sua companhia nos estudos com os meninos. - O Senhor Faraday elogiou-me, e suas palavras foram um alívio reconfortante.

A noite seguiu-se com cumprimentos, música e banquete, encerrando por volta das 22:40.

No dia seguinte, Alan e Eduard vieram me buscar para a aula. Meu avô não queria que eu fosse sozinha, e os meninos estudavam na mesma academia que eu.

- Bom dia, Senhorita Cabral - disse Eduard, com um tom de desdém.

- Confesso que senti saudade de vocês! Contem-me tudo o que aconteceu nos últimos anos!

Cavalgamos até a academia, e os meninos desfiaram uma série de novidades e fofocas, incluindo sobre as quedas da temida Senhora Onilda, que furava nossas bolas quando éramos crianças. Ao chegarmos à academia, deparei-me com um ambiente predominantemente masculino, com apenas algumas mulheres para limpeza. Percebi imediatamente o ambiente hostil e a necessidade de me portar com cautela.

Pausa On

A academia era voltada para a formação de jovens cadetes e pesquisadores, uma escola militar com professores todos homens, conhecidos por sua rigidez.

Pausa Off

- Olha só a gatinha que chegou! Se perdeu, minha querida? - disse um rapaz estranho, cercando-me enquanto tentava alcançar a sala de aula. - Não tenha medo! Vamos cuidar bem de você!

Ele tentou tocar meu cabelo, mas, como um golpe de sorte, Alan apareceu e interveio.

- Você está ficando louco, Amnon? Não sabe que esta é a neta do Coronel? Quer morrer? Deixe-a em paz, ou eu mesmo cuidarei de você!

Horas depois, ao voltar para casa, após o incidente, permanecemos em silêncio. Alan, o mais velho entre nós, me acompanhou até a entrada da mansão.

- Naty, amanhã é sábado. Pensei que poderíamos ir ao bosque, como quando éramos crianças... Se você quiser, claro.

- É claro que quero! - respondi, interrompendo-o. - Podemos nos encontrar às 8 da manhã?

- Por mim, tudo bem! - respondeu ele, com um sorriso de canto.

Corações Em Tempestades ( Concluída ) Onde histórias criam vida. Descubra agora