O Coronel

2 1 0
                                    

No dia seguinte, acordei bem cedo e fui até a cozinha. Percebi que todos já estavam tomando café. Meu pai exibia um semblante péssimo, e o Comandante Benjamin não parava de me observar, o que me deixava desconfortável e inquieto.

— Tenho que ir trabalhar! O hospital me aguarda... — falei, tentando manter a compostura, enquanto meu pai apenas confirmou com um aceno breve, visivelmente distante e aborrecido.

**Alan narrando:**

Tive que retornar para minha cidade natal, onde fiquei hospedado na casa de meu pai. A noite passada foi um tormento; não consegui pregar o olho. Meus pensamentos estavam insistentemente voltados para meus filhos e minha querida esposa. Passei a noite no escritório, lendo um pouco a Bíblia, orando, observando a casa e recordando meu casamento, minha primeira noite com minha amada. Meu corpo ardia de desejo e angústia; eu só queria ter ela de volta, queria que as coisas fossem diferentes.

Observava o jardim pela janela do escritório quando meu irmão mais novo entrou.

— Alan! O que faz aqui tão cedo? E por que está todo bagunçado, parece que brigou com um leão — disse ele, com um sorriso maroto e um tom brincalhão, tentando aliviar a tensão no ar.

— Não consegui dormir essa noite... Eu tive uma ideia! E se nós escrevêssemos cartas com a Palavra de Deus e espalhássemos pelo império? — propus, a voz cheia de esperança e uma pitada de exaustão.

— É uma boa ideia, tantas cartas espalhadas dessa forma... Seria difícil descobrir o remetente! — respondeu ele, animado e aliviado por encontrar um propósito.

**Pausa On:**

Para que você entenda melhor, nosso antigo imperador morreu e seu filho, que assumiu o trono, é um tirano. Ele está arquitetando uma lei para banir a Palavra de Deus de todo o território; aqueles que forem encontrados com uma Bíblia serão mortos. Temos esconderijos com Bíblias armazenadas, mas não será fácil espalhar a Palavra.

**Pausa Off**

— Mas Alan, não é só isso que te preocupa!

— Não, não é! Não é fácil ser quem sou... Penso em me encontrar às escondidas com Naty no bosque, mas sua família acabou de chegar; não é seguro. Preciso esperar um pouco mais para tê-la de volta — respondi, com uma mistura de frustração e desejo, enquanto notava um sorriso malicioso no rosto de David.

— Ainda bem que eu não sou você! — ele disse, rindo, aliviado pela leveza da conversa.

Ficamos conversando por um longo tempo, e depois fui me arrumar para uma reunião sobre assuntos de guerra com o novo Coronel Cabral. A expectativa de conhecer o pai de Naty me deixava intimidado, mas ele ainda não sabia de nada.

Horas mais tarde:

— Você está com medo do Coronel?

— Eu sou o General, não preciso ter medo daquele velho ranzinza. Ele que deve me temer — respondi, tentando soar confiante, mas com uma pitada de apreensão.

— Filho, seja cauteloso. Eu conheço bem Flaury; ele fará de tudo para "recuperar" o cargo de General que acha que deveria ser dele — advertiu meu pai, com um tom preocupado e uma expressão de sabedoria adquirida.

    Flaury achava que se a guerra realmente acontecesse ele seria escolhido pelo Coronel Cabral para ser o General, quando o avô de Natália me escolheu foi uma declaração de guerra entre mim e Flaury.

— Está bem, pai — concordei, com um tom de aceitação, apesar da ansiedade que sentia.

Horas depois, no meu escritório, na sede do império:

— Seja bem-vindo, Senhor Coronel! Acomode-se!

— Obrigado, General. É um grande privilégio estar em sua presença! — respondeu o Coronel, com uma voz cheia de cortesia e uma expressão de respeito forçado.

— Agora deixemos as formalidades, senhores, e falemos de guerra! Precisamos controlar a população para fazê-los querer estar junto do nosso império!

— Por que não fechamos as fronteiras com países inimigos? — sugeriu meu irmão, com um brilho de esperançado no olhar, o que me deixou bastante feliz.

— Ótima ideia, meu irmão! Com isso, precisamos apenas garantir que nenhuma rota comercial fique fechada, Comandante Benjamin! — falei, com uma expressão de aprovação e um toque de autoridade, observando-o fazer continência.

— Sim, senhor!

— Providencie tudo para que as rotas comerciais continuem funcionais e feche as fronteiras. Quanto ao povo, escreva que aqueles homens que se juntarem ao exército receberão recompensas e honras!

Ficamos por horas decidindo assuntos de guerra. Quando finalmente terminamos a reunião e todos se retiraram, eu estava olhando a cidade pela janela quando o Coronel se aproximou.

— Me pergunto, Senhor, como é possível um rapaz com tantas qualidades não ter construído uma família? — afirmou o Coronel, por trás de mim, com um tom malicioso e um olhar penetrante.

— Desculpe-me, Coronel, mas o senhor não está bem informado. Isso é preocupante! Mas eu mesmo o atualizarei. Tenho três filhos pequenos e uma belíssima esposa em reclusão por conta da guerra — afirmei, com um prazer contido e um toque de desafio, observando o furor se formar em seu semblante.

Após esse momento, ele apenas me cumprimentou e se retirou, com uma expressão de frustração e resignação.

Corações Em Tempestades ( Concluída ) Onde histórias criam vida. Descubra agora