#11 - Relíquias

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 "Balanço geral é que, além das feridas (boa parte já curadas por All Thorn), perdi meus dois punhais, mas levamos mais de cem pedras preciosas e quatro diamantes, ainda a serem divididos. Como não havia nenhuma criatura nas ruínas, All Thorn não teve como ser engolido dessa vez. De volta à cidade, festejamos o sucesso no empreendimento. O líder local mostrou interesse em conhecer a outra cidade, de onde vínhamos, pedindo para que o acompanhássemos até lá. Seria um contratempo, então combinamos que essa visita seria feita depois, já que tínhamos uma missão a cumprir. Foi a contraproposta que fiz e ele terminou concordando, principalmente porque All Thorn apoiou a ideia, garantindo que passaríamos por lá na volta."


O tritão corre por entre a estreita passagem, seguido por Ezelius, All Thorn e Ild, que ainda fica se virando para encarar Haseid. O patrulheiro leva Neriom e atrás vem Sharon e Wolfgar.

– Tim Gladus! – All Thorn grita. – Você por acaso não viu um cavalo perto do castelo?

– Um cavalo... Sim, ele saiu atacado, por si'ridemos.

– Conseguiu fugir?

– De onde vocês estavam, sim, mas não sei como se saiu com os si'ridemos que fo'ram at'rás dele.

– Teraaz...

Lá atrás, Ild fala, indignado.

– Não acredito que você fez isso, Haseid! Tem o que na cabeça?

– Tá reclamando de quê? Vocês não tavam implicando comigo que não era certo eu ficar com a espada? Que era de elfo e tinha que ficar com elfo? Então pronto. Problema resolvido!

– É uma relíquia, Haseid! Não é só que é de elfo, é algo muito importante pra dar pra qualquer um.

– Eu dei pra uma elfa, não foi pra qualquer um!

Ild olha espantado pra Sharon, ainda sem acreditar na situação.

– E tem mais! Nem sei porque vocês estão reclamando tanto. Ela é mais elfa que vocês! Você é filho do coiso de fogo e a Sharon é meio anã.

– Uma elfa musculosa? Deve ser meio-ogro também!

– Ild... – Sharon lhe encara em repreensão. – E você é monge, nem usa arma com frequência. Nem depende de armas.

– É o que eu tou dizendo! – Haseid se empolga.

– Além do mais, a espada vai estar sempre perto dele, de qualquer forma.

– Lógico! ... Como assim?

– O patrulheiro vai deixar de patrulhar e vai se mudar pra cidade flutuante quando a gente voltar. Não é essa a sua ideia?

– Claro que não!

– Ei! – All Thorn fala, lá na frente. – Vamos parar de falar besteira e de fazer barulho.

– Sim, senhor capitão. – Haseid responde, fazendo pose de sentido em ironia e quase derrubando o gnomo. – E ele não vai acordar mais não mesmo?

Lá pra frente, Ezelius segue Tim Gladus com transparente curiosidade.

– Você não está levando a gente pra uma armadilha, está?

– Cla'ro, é minha segunda armadilha! Como o plano de emboscar vocês com os seus pertences largados não deu certo, bolei out'ra armadilha dife'rente.

O feiticeiro o encara por um tempo, sério. Então finalmente fala.

– Muito cuidado, tritão, essas piadinhas não dão certo pra você. Só dariam certo se fosse pra mim.

– Ezelius, não intimide o Tim Gladus. – All Thorn lhe pede e continua. – Você viu quantos diabos foram atrás do cavalo?

– Nón fui capaz de ver. Mas não tinha visto cavalo debaixo do chão também.

– É, ele é meu parceiro. Se chama Teraaz.

– Ou se chamava... – Ezelius fala, mas desvia o olhar ao ver a cara irritada do paladino.

– E sua magia de cura? Funcionou no gnomo?

– Eu sinto que sim, mas não totalmente. Deixa a cu'ra agir. Mais tarde toco novamente a canção.

– Certo, parece uma boa ideia. Espero que dê certo.

Lá atrás, Wolfgar se aproxima da Sharon e pergunta baixinho:

– Como é que você se sente?

– Bem, eu acho. Por quê? Pareço doente?

– Sobre essa história do Haseid. Se ele tivesse dado uma relíquia anã pra primeira doida que aparecesse, eu ia ficar muito brabo.

– Ah, isso... O que me chateia nessa história é que os tesouros que a gente acha são meio nossos, de quem achou, e são meio do grupo como um todo. Se livrar de um tesouro para conseguir algo que vai ser útil até vá lá, mas jogar algo importante fora sem nem consultar os outros é que está muito errado.

– Entendi. E o Ild também tava de olho na espada. Se o Haseid não queria, podia ter dado a ele.

– Ah, o Ild é um acumulador!

O anão dá uma gargalhada de repente e Haseid se vira.

– Ei, tão falando de mim não, né?

– É lógico que estamos! – Wolfgar responde e Sharon ri também.

– Aí é lasca. Tão falando de que agora? O cabra fica pelado e ninguém acha graça, depois ficam mangando eu vestido.

– Você deve saber qual é o assunto. – Sharon responde.

– Tem a ver com a espada, não é? Espero que não seja nenhuma piadinha sacana, seu anão!

– Corram! – Ezelius grita para eles, de lá da frente.

Haseid vê o feiticeiro passando por uma passagem larga com facilidade, mas sabendo que seu corpo e o de Wolfgar são maiores, corre em direção a ela. Parecia ser só parte do corredor, mas raízes enormes já estavam tomando metade do lugar.

As Sementes do Mundo Inferior - Parte IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora