#13 - Qual a Direção?

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 "Como mais bolas de fogo poderiam chegar a qualquer momento, achei que seria mais prudente recuar com Haseid para voltar à cena depois de estar pelo menos sem risco de morte súbita. Quando o arrastava dali, um gelo espiritual me atingiu e tudo ficou confuso. É como se eu fosse incapaz de me mover ou, ainda mais, incapaz de pensar em me mover. Só depois eu soube que naquele momento nosso grupo havia sido quase inteiramente afetado. Apenas o novato estava em condições de lutar. Tudo ficou confuso depois daquele ataque. Era como se estivéssemos sob uma névoa intensa. Sons estranhos e cansaço como se minha alma tivesse sido tocada por alguma entidade perversa. Não sei quanto tempo passou, mas quando acordei estava presa em correntes."


A batalha não durou muito. Bastou mais um dos lagartos cair e os outros perceberam o risco e correram dali.

– Por aui. – Tim Gladus chama para um túnel novo.

– Tem certeza? – Sharon pergunta. – Vamos retomar o caminho por onde viemos se seguirmos por aí? – Sharon pergunta.

– Penso que sim.

– Então vamos.

– Espera! E esses lagartos? – Haseid pergunta ao chegar.

– Atacaram a gente. Eram mais. Eles fugiram.

– Vamos aproveitar a carne deles! Talvez sirva pra gente comer mais tarde. – Ele diz, deixando Neriom no chão e indo em direção aos corpos dos inimigos derrotados.

– Eu estava pensando uma coisa... – Ezelius se aproxima de Tim Gladus e Sharon. – Dizem que tritões são um povo que gosta de guerras, de violência. Você nem usa arma. Tem certeza que é tritão mesmo?

– Cla'ro que sou!

– Isso lá é pergunta que se faça? – Sharon questiona.

– Hmmm... Será que ele não lançou um encantamento em você, Sharon? Pra você defendê-lo assim.

– Entendo você. – O tritão se encosta em uma parede da caverna, pensativo, enquanto Ild e All Thorn se aproximam também. – Na verdade, eu nunca gostei de guerras, mas entendo que não há como fugir delas. Não gosto de armas, p'refi'ro guerrear do meu jeito.

– Isso nem faz sentido.

– Por isso que deixei meu povo.

Faz-se silêncio por um tempo, com todos pensando nessas palavras, até que Ezelius volta a falar.

– Tem outra coisa que me preocupa, caro Tim Gladus: o pagamento que você pediu a All Thorn. Ele é humano, pouco vivido e ingênuo, mas eu ainda estou lembrado disso.

All Thorn olha espantado, mas não o corrige. A conversa tomou esse rumo, que ele evitaria, mas também considera a questão importante. Ele presta atenção no que o bardo dirá.

– Você está certo. Eu devo mais explicações, mesmo tendo salvo a vida de todos vocês. P'retendia falar disso no p'róximo repouso pa'ra nón atrasarmos nossa ida.

– E para onde está levando a gente afinal de contas?

– Pa'ra onde importa.

– E onde é isso?

– O mais longe possível daquele castelo!

– Quer dizer que tu tá levando a gente na doida? – Haseid grita, levantando-se, perto dos lagartos mortos.

– Eu salvei vocês e me salvei também, mas temos que ir longe daquele lugar se quisermos viver!

Ezelius muda sua expressão, transparecendo mais calma.

– Agora entendo melhor. O que aconteceu com vocês?

– Vocês quem? – Ild pergunta, mas Tim gladus havia entendido.

– É'ramos quat'ro. Fomos pegos na porta do castelo. Eu consegui fugir, mas meus amigos nón.

– E o que aconteceu com eles? – Ild pergunta, surpreso.

– Você deve imaginar. P'rovavelmente o mesmo que acontece'ria com vocês.

– E por que você não salvou eles como fez com a gente?

– Acha que eu nón gosta'ria? Nón pude.

Ezelius se senta, a meia distância, com expressão satisfeita. Diferente de Ild, que segue incomodado.

– Mas você conseguiu salvar a gente! Podia ter salvo eles.

– Eu nón te'ria salvo se pudesse?! – Tim Gladus pergunta, começando a se irritar. All Thorn decide intervir.

– Ild... Esses eventos... Isso que Tim Gladus falou, são muito pesados. Deve ser difícil para ele. Não é momento de acusações, não acha?

– Tudo bem então!

– Podemos prosseguir.

– Pra onde?! Ele não sabe pra onde está indo!

– Deixa ele levar a gente! – Ezelius pede. – Eu sei para onde a gente não está indo e por enquanto basta.

– Você tá doido?

– Depois a gente acampa e pensa melhor na direção certa. Talvez até um deus faça um de vocês sonhar com o caminho certo, como já aconteceu.

All Thorn dá um rápido sorriso e conclui.

– Ele está certo. Haseid? Já terminou? Precisa de ajuda? Vamos, que não adianta perdermos mais tempo aqui. E como vimos, aqui pode ser perigoso.

Após completar a coleta da carne, a formação é refeita e eles entram em um corredor, deixando a arena para trás.

Mal satisfeito, Ild ainda vai falar com Ezelius.

– Você não tava preocupado também? Não entendi porque ficou tão calmo. E olhe que eu é que sou o monge.

– Ele pareceu sincero. Sua história faz sentido.

– E daí? Ele pode ter inventado! Vamos ficar à toa por aí?

– Vamos, mas é por pouco tempo. Não vai ser a primeira vez, de qualquer forma.

– Sei... E aquela história de favor? Esqueceu, foi?

– Olhe para ele, Ild! O favor, provavelmente, é protegê-lo até chegar em alguma cidade minimamente segura.

– E se você estiver errado?

– Aí deve ser pra escoltá-lo até mais longe. Ainda assim, valeu a pena.

As Sementes do Mundo Inferior - Parte IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora