"Sentíamo-nos guiados pela presença invisível de Suno. Enfim, chegamos a um maravilhoso vale, que parecia um lugar intocado esquecido no tempo. O que não sabíamos ainda é que o vale abrigava uma enorme serpente, que não apreciou nossa visita. Ela nos atacou com ferocidade e tivemos que nos organizar para enfrentá-la. Em um movimento rápido para um monstro tão grande, a serpente engoliu All Thorn e Teraaz. Todos os nossos ataques pareciam surtir efeito, mas a criatura era bem resistente. Nossos ataques se intensificaram, mesmo porque agora precisávamos libertar nosso aliado antes que fosse digerido. Somente depois que Haseid deu seu golpe final, cortando-a ao meio, é que eu soube que ela já havia vomitado All Thorn e Teraaz mais acima na floresta."
O gnomo sorri como se estivesse em um sonho bonito, rodeado de cogumelos e tranquilidade. All Thorn sorri para ele, mas seu amigo de fato ainda dormia. Senta-se e vê Ild lhe encarando, em alerta.
— Teraaz está bem. — O paladino fala, por fim.
— Que bom! Outro sonho profético?
— Não, ele acabou de passar aqui em cima.
— Como sabe?
— Esqueceu que temos uma ligação mental? Bem curta, o que quer dizer que ele está muito perto.
Duas pancadas ecoam naquela gruta de repouso, acordando todos, exceto Wolfgar e Neriom.
— Que diabo é isso? — Haseid pergunta, encarando o teto da caverna sem perceber nada.
— Calma, é só o Teraaz. Está aí em cima.
— E como ele foi parar lá?
— E eu sei? Podemos tentar descobrir como a gente vai até ele.
— É, acho que sim.
— Vamos, Haseid. — Sharon lhe chama, já de pé. — Isso não foi só um debate de possibilidades, é um pedido de favor.
— Entendi... Mas calma lá, ainda estou acordando.
Ajustando a roupa e pegando o arco, a elfa resmunga:
— Parece que ainda está dormindo...
— Tá, vou assim mesmo. — O patrulheiro pega sua espada e vai acompanhar a colega.
All Thorn fica um pouco na dúvida se seria melhor ir com eles. Enfim, decide-se por ir .
Tim Gladus aproveita o momento, agora que está acordado, e se senta perto de Neriom com sua calimba.
— He he! Acordando com musiquinha agora?! — Wolfgar fala, empolgado, sentando-se.
— Você não acordou com o barulho na pedra e acorda com música!
— Barulho na pedra? E teve isso? Bom, Ild, pedra nem faz barulho, pedra faz música!
Passando por cima das pedras que não foram todas removidas, o trio de busca se vê diante do corredor por onde haviam vindo, com vários túneis em diferentes alturas, levando para diferentes direções.
— E então? Em que direção ele tá?
— Não sei. Perdi contato.
— Aí é lasca. E se ele sair e a gente não achar ele mais?
— Eu pedi que esperasse.
— Vamos deixar de conversa. — Sharon interrompe os dois. — E começar logo a busca. Que acham daquele túnel?
Ela aponta para uma passagem a vinte ou trinta metros, abaixo da entrada do refúgio onde dormiram.
— É mais baixo. — All Thorn opina. — Não deveríamos buscar um mais alto?
— Olha a estrutura da entrada, paladino! — Haseid pede, começando a andar na direção sugerida. — E olha ao redor dele. Ele tem cara que sobe, vê não?
— Sinceramente, não.
— É uma boa sugestão sim. Parece até que tu nunca andou por aqui.
— E nunca andei! Você já veio pra esses lados antes?
— Calma, fala baixo. — Sharon pede, encarando os dois. — Estamos na boca de muitos caminhos. Podemos atrair inimigos.
— ... Ou o Teraaz! — All Thorn conclui, animado.
Lá no acampamento, com o fim da música, Ezelius se aproxima de Tim Gladus.
— Parece que não funcionou.
— Está funcionando, eu sinto, mas aos poucos.
— E o que ele tem que ainda está dormindo?
— A doença mexeu muito com a mente dele. A doença já foi, mas deixou muita coisa errada.
— Mas aí a magia de cura devia resolver.
— Também acho.
A conversa é interrompida pelo som de pedras sendo retiradas da entrada. Wolfgar corre lá para ajudar Haseid e All Thorn e receber Teraaz, que não vinha só.
— E esses dois? — O anão pergunta, surpreso.
— Eram a cavalaria! Estavam vindo salvar a gente, ué! — Haseid responde.
— Teraaz chegou na vila e eles vieram em ajuda. — Sharon tenta explicar melhor. — Gladiane e Riff, embora o Riff tenha dito o tempo todo que estava vindo apenas para entender a situação e porque Abamarim insistiu muito.
— Entendi.
— Agora vamos comer, que tem estrada pra frente.
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As Sementes do Mundo Inferior - Parte III
FantasiA aventura de Sharon e seu grupo continua. Após serem vencidos diante de um castelo infernal, o que acontece? Os problemas só aumentam e ainda há sementes a se plantar.