"Antes de partirmos, o monge tinha uma pendência que levaria doze horas: meditar perto daquela fonte de pedra que jorrava água. O grupo foi em massa lhe dar apoio. O que seriam doze horas se tornaram vinte. Deve ter sido muito cansativo: quando concluiu, felizmente com sucesso, ele simplesmente apagou. O bom é que com todo esse tempo livre, consegui avançar um bocado nos meus estudos teóricos de alquimia. Precisamos agora de uma noite de descanso para partirmos logo após. O grupo precisa, não eu. Ao amanhecer, seguimos rumo ao leste, conforme planejado. Enquanto seguíamos, recordei um sonho. Havia um anão gigante e, em sua cabeça, um gnomo estava sentado. Não sei o que isso pode significar, mas achei bom registrar no meu grimório."
Wolfgar teve que ir primeiro e receber Neriom dos braços de Haseid para que este conseguisse se abaixar e passar. Todos conseguiram ir além das raízes, seguindo o corredor por onde vínhamos.
– Isso aqui vai se fechar mesmo? – Ild pergunta à Sharon.
– Espero que sim. Pelo menos a ideia era essa. Tim Gladus deve ter conhecido esse caminho antes e percebido que a raiz está crescendo e fechando esta passagem também. Senão, não tinha pra que aquela pressa dele.
– Ele pode estar enrolando a gente e só queria sair rápido, sem chance de a gente voltar pra lutar contra os cambions e perder de novo.
A elfa pensa um pouco no assunto.
– Tem sentido, mas você mesmo viu a raiz. É da árvore que plantamos e ela cresce rápido, e não se deixa cortar. Você tem um bom argumento, mas acho que o Tim Gladus foi honesto.
– Tá, se você tá dizendo... Mas acho que ele está a fim de você.
– Por quê?
– Pelo jeito como ele te trata, ué!
– Sei...
– Além do mais, se ele estiver interessado em mim, isso é problema dele, não meu.
Um pouco à frente, Wolfgar tem um estalo e fala pra Haseid.
– Sabe o que me ocorreu agora? Será que esse tritão sabe mesmo pra onde está levando a gente?
– Deve saber, ué! Ele não levou a gente até debaixo da árvore?
– Foi, mas ele é um bardo! Não era pra você ou a Sharon ir lá na frente perto dele, olhando o caminho?
– É verdade... Ei, Sharon, quer ir lá na frente ajudar o tritão não?
– Pode ser. Se ele precisar de ajuda. Ele não disse que sabe o caminho?
– Ele é bardo, não é das trilhas. E é de debaixo d'água ainda por cima.
Sharon pensa um pouco olhando ao redor.
– Está bem. Vamos organizar essa bagunça. Wolfgar, você fica no final, protegendo a retaguarda.
– Eu prefiro ir lá na frente.
Ignorando o anão, ela prossegue.
– Ild, fica por perto do Wolfgar, de olho no Haseid e no Neriom. Eu vou passar pelos dois e organizar o restante.
A elfa passa por Haseid e segue, dando instruções aos demais, até acompanhar Tim Gladus.
– Você sabe para onde está nos levando?
– Cla'ro que sei.
– Já passamos pela árvore. Para onde estamos indo agora?
– Pa'ra o mais longe possível daquele castelo infernal.
A elfa segura o ombro do tritão, forçando-o a parar. Respira fundo antes de dizer:
– Nós temos um lugar para onde devemos ir. Tem aquele corredor que nos levou ao castelo, que a entrada hoje está bloqueada. Você consegue nos levar até lá?
– Olhe, tem um espaço grande ali na f'rente.
Eles andam um pouco, à procura dos caminhos possíveis. É Tim Gladus quem primeiro nota e fala pra Sharon:
– Espe're. Há inimigos aqui.
Ele aponta em uma direção e ela vê um lagarto se esgueirando, tentando pegá-los de surpresa.
Talvez percebendo que foi visto, ele corre em direção à elfa. Salta rápido, quase o suficiente para alcançá-la, mas Sharon consegue girar o corpo no último instante, desviando por pouco daquelas garras afiadas.
Outros lagartos começam a se aproximar lentamente. Sharon fica surpresa mais uma vez ao ver Tim Gladus sacar não uma arma, mas sua calimba.
Começa a tocar uma música calma, mas parece não agradar aqueles bichos. Um deles salta sobre o tritão e morde o instrumento, arrancando-o de suas mãos.
– Ei! – Tim grita em protesto, mas dois outros lagartos aparecem, prestes a saltar sobre ele.
– Agora sim! – É a voz de Ezelius, que acaba de chegar ainda sob efeito da magia de voo. Prontamente, dispara uma magia de relâmpago, que acerta uma das criaturas, saltando para atingir a outra em sequência. Depois tenta uma terceira, mas a magia se perde.
Aproveitando o ataque mágico do aliado, Sharon dispara sua flecha de gelo nos mesmos dois alvos que Ezelius acabava de acertar. O primeiro é ferido mortalmente, mas o segundo sequer é atingido.
All Thorn aparece na abertura, olha ao redor e vai para perto dos batedores, com o escudo posto em proteção.
– O que está havendo?
– São só predadores. – Sharon responde. – Pensam que somos a caça deles.
– Não hoje. – O paladino responde.
– Não hoje. – A elfa confirma, tensionando o arco.
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As Sementes do Mundo Inferior - Parte III
FantasyA aventura de Sharon e seu grupo continua. Após serem vencidos diante de um castelo infernal, o que acontece? Os problemas só aumentam e ainda há sementes a se plantar.