#03 - Visita

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"Já nas ruínas, fomos surpreendidos. O caminho que tomamos não parecia ter sido usado por criaturas em fuga. Tinha armadilhas de adamante que não fui capaz de desarmar. Ao final, um sarcófago vazio junto a um suporte de armas também vazio. Bem que nos alertaram sobre os perigos dessas ruínas. Voltamos e seguimos por outro caminho. Dois acionadores eu localizei antes, mas o terceiro eu só percebi com o pé. Um martelo de pedra saiu do teto e percorreu todo o corredor, golpeando o grupo inteiro. Foi só isso por ali. Nós nos reunimos uma sala após para fazermos o levantamento do estrago e do que já tínhamos encontrado de tesouro até aquele momento. Foi também um momento de descanso, onde pudemos recuperar nossas energias para seguir pelo que faltava ainda de ruínas."


-- Roll, parece que alguém estava tentando escapar. – A paladina macabra fala, dirigindo-se ao monge cambion. – Poderia prendê-la melhor?

O sujeito sorri, fazendo um sinal afirmativo com a cabeça. Em seguida vai até perto da porta, onde havia uma mesinha baixa. Pega dois objetos pequenos, parecidos com lâminas de adaga.

-- Com licença. – Ele fala, pegando a mão de Sharon e a recolocando na abraçadeira.

Encarando-a como quem espera para assistir com prazer sua reação, ele enfia um dos objetos na mão dela, deixando-o atravessado, impedindo que a mão possa ser puxada novamente. Sharon tenta se segurar, mas grita de dor. Satisfeito, o cambion coloca o outro objeto atravessando a outra mão da elfa e volta para perto da paladina.

-- Estão precisando de mais alguma coisa? – Esta pergunta, com sarcasmo.

-- Já que tocou no assunto, vocês bem que podiam soltar a gente e devolver nossas roupas e tudo o mais. – Haseid responde, com voz um pouco alta.

-- E cerveja anã! – Wolfgar completa. – Cerveja anã nunca é demais!

Os três vilões se olham e sorriem. A cambiona monge é quem fala:

-- Vão ser mesmo um bom sacrifício para Perfídio.

-- Sim, certamente serão, Phebi. – A paladina responde e dá passos lentos em direção a All Thorn. – Principalmente ele. Perfídio adora sacrifícios de seguidores de divindades covardes.

-- Não é momento para brincadeira. – Ele responde – Wolfgar... Haseid... Não percebem o que está acontecendo? Perfídio nada de bom é capaz de trazer.

-- Está enganado, criança. Nós bem que podíamos soltá-los se eles tivessem algo a nos oferecer. Pena que não seja esse o caso.

-- E quem confiaria em seguidores do deus da trapaça? Vocês são três ingênuos! Esse aí é o deus da traição! Vai usar vocês enquanto forem úteis, mas se livrarão de vocês assim que for vantajoso para ele. Isso é o que quer dizer traição, caso não saibam.

-- Agradeço a aula, criança. A lei de Perfídio é mesmo a utilidade. Enquanto formos úteis, seremos abençoados. Vocês tem utilidade também aqui, vejam só. Seu sangue e suas vidas fortalecerão Perfídio. São quase insignificantes, mas uma fortuna é construída por muitas pequenas moedas. Um dia Perfídio estará forte o suficiente para se soltar de sua prisão.

-- Mas ei! Vocês me derrotaram porque eu tava cansado da viagem. – Wolfgar fala, quase gritando. – Por que a gente não resolve de outro jeito? Eu desafio qualquer um de vocês para ganhar de mim eu tando descansado.

A outra cambiona sorri em resposta.

-- E por que você acha que um de nós faria isso? Se enxerga, anão.

-- Podíamos resolver numa disputa de bebedeira também, eu não me importo.

-- Acho que o assunto já deu. – A paladina arremata. – Chega de besteiras. Vamos. Temos o que fazer.

-- Ei ei ei! Espera aí! O que vocês fizeram com o gnomo?

-- Gnomo? Que gnomo? -- Ela responde e sai rapidamente da sala, seguida pelos monges.

-- Acho que ela está escondendo alguma coisa – Wolfgar fala logo que o trio deixa o lugar e tem tempo para se afastar.

-- Ela sabe do Neriom. – All Thorn diz. – Só não viu utilidade em nos dizer, como ela diria.

-- Sei... Mas qual a utilidade em vir falar com a gente?

-- Pra ver se estamos controlados. A Sharon quase consegue escapar, não?

-- Sim, é verdade. Povo sabido. Sabido e sacana. O que acha que fizeram com nossas coisas?

-- Não sei. Guardaram pra vender ou jogaram fora. Não teria pra quê tentarem usar. Temos artefatos de sangue, a maioria conectada com energias boas.

-- Entendi! Até minha caneca é de energia boa?

-- Isso não é importante agora. Precisamos pensar em como sair daqui.

Eles fazem silêncio um instante.

-- Sharon? – All Thorn chama, mas ela não responde.

-- Eita. Desmaiou. Morta sei que ainda não tá, mas a dor dela deve ser maior com esses pregos.

-- É verdade. Ela era a nossa esperança de sair daqui. Não sei o que a gente pode fazer agora. Só orar para Suno, mas a comunicação com ele a partir desse canto maldito deve ser mais difícil também.

-- Sim.

-- Temos que achar uma solução. Acho que a gente não dura um dia completo assim.

-- Se era pra matar a gente, era melhor torrado. – Ezelius solta.

-- E tu queria morrer mesmo, é? – Haseid responde. – Sai daí! Vai simbora sozinho!

-- Melhor sem fogo. – All Thorn diz. – Assim ganhamos algum tempo. Só temos que descobrir como tornar esse tempo útil.

As Sementes do Mundo Inferior - Parte IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora