Capítulo VI: Amor e Tormenta

23 3 1
                                    

Baelys deixou o salão de Harrenhal em silêncio, as palavras de seu pai e de seu avô ainda ressoando em sua mente como o eco de um trovão distante. O Conselho havia terminado, e com ele, as esperanças de reivindicar o Trono de Ferro. Seu avô, o Rei Jaehaerys, falara com a autoridade de quem governara por décadas, enquanto Veigon, seu pai, permanecera impassível, insistindo que o destino de Baelys não era governar Westeros.

Com os ombros tensos e o semblante fechado, Baelys caminhou em direção ao pátio onde Lyrax aguardava. O verde-escuro das escamas da dragão se mesclava com a luz fraca do fim da tarde, enquanto ela esticava as asas e balançava a cauda, impaciente. Ele correu os dedos pelos chifres negros que adornavam a cabeça da fera, respirou fundo e montou-a, preparando-se para deixar Harrenhal e o peso daquela decisão para trás, pelo menos por um tempo.

_ _ _

Baelys sentia o peso das palavras de seu pai reverberando em sua mente enquanto montava Lyrax, sua dragão, rumo a Pedra do Dragão. O vento forte batia contra seu rosto, mas não era apenas o frio que o incomodava. A raiva e a frustração pulsavam em suas veias, mas também havia uma nova sensação, algo que ele não estava pronto para aceitar: dúvida.

Lyrax cortava o céu com a mesma fúria que Baelys sentia, mas a cada batida de suas asas poderosas, a distância entre Harrenhal e Pedra do Dragão parecia se estender. Eles voaram por horas, atravessando vastos campos e rios, até que o tempo começou a mudar. Nuvens escuras e espessas surgiram no horizonte, e logo uma tempestade se formou sobre as Terras da Coroa. Relâmpagos rasgavam o céu, seguidos por trovões que pareciam abalar o próprio mundo abaixo deles.

Lyrax rugiu, mas não desacelerou. Baelys segurava firme nas rédeas, sentindo o corpo de sua dragão estremecer sob a força da tempestade. A chuva começou a cair em grandes gotas, encharcando suas roupas e dificultando sua visão. Ele sentiu o vento puxá-lo para os lados, mas Lyrax, acostumada às forças da natureza, avançava com determinação.

Enquanto os trovões ecoavam ao redor, Baelys não pôde evitar o turbilhão de pensamentos que surgiram em sua mente. A voz de seu pai ainda ressoava, fria, mas cheia de convicção. "Seu lugar não é no Trono." Aquelas palavras o haviam ferido, mas agora, enquanto lutava contra a tempestade, ele começava a ver um sentido mais profundo nelas.

Vaegon sempre fora distante e um pouco negligente. Ele nunca ofereceu o afeto que Baelys vira outros pais darem a seus filhos, mas sempre estivera presente de maneira prática, quase metódica. "Eu sei o que o poder faz com os homens," dissera Vaegon. E era verdade. Baelys havia visto o que o Trono de Ferro fizera com muitos homens ao longo dos anos - ganância, traição, loucura.

Enquanto Lyrax lutava contra os ventos violentos, Baelys começou a entender que o pai não estava negando a ele uma oportunidade por desprezo ou indiferença. Talvez fosse o oposto. Talvez Vaegon, com toda sua frieza e racionalidade, estivesse tentando proteger seu filho de algo que ele mesmo compreendia melhor do que ninguém.

Lyrax mergulhou para escapar de um relâmpago próximo, e Baelys segurou com força as escamas da dragão, sentindo o calor que emanava de seu corpo através da tempestade. A adrenalina corria em suas veias, mas em meio ao caos da natureza, ele começou a sentir um estranho senso de calma.

Talvez Vaegon realmente o amasse, do jeito que ele sabia amar. Não com abraços ou palavras gentis, mas com uma frieza calculada, destinada a manter Baelys longe das tentações do poder. Vaegon queria que ele fosse forte, mas sem se perder nos jogos de poder e ambição que corroíam os Targaryen de dentro para fora.

A tempestade começou a se acalmar conforme se aproximavam da costa de Pedra do Dragão. As nuvens negras dissipavam-se lentamente, e a lua começou a despontar no horizonte, lançando um brilho dourado sobre o mar agitado. Baelys respirou fundo, sentindo a calmaria após a fúria dos elementos.

Ao longe, a silhueta de Pedra do Dragão surgiu, sua forma imponente recortada contra o céu. Lyrax soltou um rugido forte, como se saudasse a ilha ancestral dos Targaryen. Baelys sentia-se exausto, mas em paz. A viagem havia sido turbulenta, mas seus pensamentos agora estavam mais claros.

Ele começava a aceitar que seu destino talvez não fosse o Trono de Ferro, mas isso não diminuía quem ele era. Havia força no que seu pai dizia, e, pela primeira vez, Baelys sentiu que talvez Vaegon estivesse certo. Talvez o que ele mais temesse para o filho não fosse o fracasso, mas a corrupção que o poder inevitavelmente trazia. E, de algum modo, essa percepção o aproximou do pai.

Quando pousaram em Pedra do Dragão, Baelys desceu de Lyrax sentindo-se diferente. A tempestade que enfrentara não estava apenas no céu; ela havia sido interna, e agora, após atravessá-la, ele sentia-se mais preparado para o que viria.

O Herdeiro do Fogo: A Saga de Baelys TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora