Capítulo| 09: Cercada

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Morgana Hallow

— Senhora Hallow?

Abro a porta, sendo recebida por Jones, o técnico contratado por Lucian. Ele me olha de cima a baixo, como se procurasse qualquer sinal estranho que o levasse a dizer tudo ao meu digníssimo marido. Em todas as vezes que ele esteve aqui para arrumar a fiação ou apenas fazer uma verificação de rotina, eu nunca tive do que reclamar. Ele sempre fora gentil, ao ponto de confiar demais. Uma vez, pedi ajuda a ele e mostrei os meus braços cheios de hematomas, quando finalmente tomei coragem de me abrir sobre a situação em casa. Contei tudo, sem omitir partes, na esperança de que ele fosse me ajudar. Estava cansada de apanhar e ser abusada constantemente. Lucian era um monstro comigo, e sempre dormi com medo. Todavia, Jones apenas sorriu e passou pela porta, dizendo como o meu marido era um ótimo delegado, um otimo homem e um ótimo marido, pois o seu salário era até mesmo incomum para alguém que cuidava apenas de fiação e visitas técnicas.

Naquele momento, eu entendi que não havia escapatória daquele inferno no qual eu chamava de vida. Jones nao sorria para mim, não dirigia aquelas piadas ou conselhos para mim. Era tudo para Lucian. Logo mais tarde, ele fora informado, quando Jones finalmente foi embora. E eu já previa o que aconteceria comigo. Ele chegou bêbado, arrancou a minha roupa, enquanto gritava para que ele parasse, e Lucian me usou de todas as maneiras que ele conseguiu antes de cair desmaiado na cama. Fedendo à bebidas e esperma. Naquela noite, escutei tantos insultos que me rotularam da maneira que ele queria, e nunca mais tive coragem o suficiente para dizer.

Jones sorriu com aquele egocentrismo de sempre, pedindo licença enquanto entrava pela casa, com aquele ar de superioridade que sempre me incomodava. Ele caminhava como se tivesse algum tipo de autoridade sobre mim, algo que ele sabia muito bem que possuía por ser um homem de confiança de Lucian. Toda vez que ele vinha aqui, eu me sentia pequena, sufocada pela mesma atmosfera opressiva que dominava minha casa. Não importava o quanto eu tentasse esconder a realidade da minha vida, ele sempre enxergava através das paredes que eu ergui.

— O senhor Hallow informou que as câmeras não estão funcionando. — Informa, seguindo até o painel elétrico, perto da porta que levava ao porão. — Não consigo compreender como o sistema parou de funcionar assim, do nada. — Ele falou enquanto mexia nos fios da fiação, sem me encarar.

Eu sabia que Ghost tinha algo a ver com isso. Ele deve ter desativado tudo logo quando entrou, e por isso Lucian não voltou para me resgatar naquela noite. Talvez fosse uma sorte ou uma maldição. A imagem de Ghost, de como ele tinha tomado o controle da minha vida, pairava na minha mente. Eu me sentia dividida entre o medo e algo mais obscuro que eu não queria admitir. Me concentrei no homem em minha frente, ignorando os pensamentos que custavam em me assombrar.

— A chuva de ontem foi uma das piores. — Comentei, forçando um tom leve, enquanto esfregava a mão pelo rosto, tentando ajeitar a maquiagem e dar alguma aparência de normalidade. Eu precisava manter o controle. — Mas tenho certeza de que você conseguirá resolver esse problema.

Forço um sorriso, Jones se vira e emite uma expressão que ao menos consigo decifrar o que seja.

Sempre resolvo, não é, senhora Hallow? — Ele disse com aquele sorriso egocêntrico, se aproximando devagar enquanto olhava ao redor da casa, como se tentasse captar algo. — Eu já disse que Lucian é um homem de sorte?

Naquele momento, permaneci impassível. Meu sangue gelou e engoli seco ao notar o tom provocativo em sua voz. Jones tinha entre cinquenta e sessenta anos, e eu o considerava como um pai que nunca tive. Triste fora descobrir as suas verdadeiras intenções, há meses atras, e agora, de novo também. Me afastei lentamente.

Dark Redemption [Simon Riley]Onde histórias criam vida. Descubra agora