Capítulo| 08: Só se vive uma vez

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Morgana Hallow

Era cedo. O sol da manhã já começava a penetrar pelas cortinas mal fechadas, espalhando pequenos feixes de luz pelo quarto. O calor suave da luz me fez despertar com uma carranca no rosto. Tudo dentro de mim estava tenso, mas, de longe, havia sido a melhor noite de sono em anos, que eu já tive. Meus olhos se abriram devagar, ainda ajustando-se à claridade. O primeiro pensamento que tive foi que, de alguma forma, aquilo tudo tinha sido um pesadelo. Mas a realidade logo me atingiu com força quando percebi onde estava. Ou melhor, com quem estava.

Meu corpo estava deitado sobre o peito de Ghost. Podia sentir a respiração dele, lenta e ritmada, enquanto ele ainda dormia profundamente ao meu lado. Meu coração parou por um momento, e a repulsa me atingiu de forma avassaladora. Não era só o fato de estar ali, tão próxima dele, mas o contraste brutal de ter cedido ao cansaço, ter deixado meu corpo se aconchegar sem perceber. Meu rosto estava quente, as bochechas queimando de vergonha, enquanto minhas pernas estavam parcialmente entrelaçadas nas dele. Eu deveria me afastar imediatamente. Mas, por algum motivo inexplicável, não consegui. Sentia o peito dele subir e descer sob meu rosto, o calor de seu corpo irradiando para o meu. Havia uma estranha sensação de segurança naquele momento, algo que me revoltou ainda mais. Como podia meu corpo reagir assim, quando tudo nele gritava perigo? Eu queria me levantar, correr, mas o peso da situação me mantinha presa.

Seu cheiro estava ali, impregnando o ar ao meu redor. Era uma mistura de suor, couro e algo mais, algo puramente masculino que me fazia perder a linha de pensamento por breves instantes. Senti minhas mãos contra a pele dele, dura, cheia de cicatrizes, como se cada marca contasse uma história que eu não queria conhecer. Alcancei o seu ombro, e deslizando os dedos levemente, de forma hesitante, percebi elevações da parte inferior do peito, até todo comprimento do seu braço, como se Ghost tivesse queimado toda essa parte e tentasse esconder com as tatuagens. Por um momento, fechei os olhos, tentando controlar a respiração. Nada em mim parecia certo. Meu corpo estava em conflito com minha mente, e a verdade brutal era que eu ainda não sabia como lidar com isso.

Mas ali estava eu. Deitada no peito dele, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Me afastei de repente, o movimento rápido me assustando tanto quanto a ele. Ghost resmungou baixinho, mas não acordou. Fiquei sentada na beira da cama, o coração batendo forte, os olhos fixos no chão enquanto tentava juntar os pedaços do que ainda restava de mim. A vida estava difícil, lenta e perigosa para mim, mas ela continuava de alguma forma. Não era como se eu nunca tivesse lidado com homens perigosos e maus ao meu redor. Meu avô, meu pai e Lucian se mostraram os principais motivos para nunca confiar cegamente em um homem. E eu o fiz, três vezes. Nas três me fodi.

Me levantei, segui até o banheiro da suíte e escovei os dentes, assim como os meus cabelos. Me encarei no reflexo do espelho, e percebi marcas vermelhas pelo meu pescoço, descendo até onde eu não conseguia olhar. Suspirei, voltando para o quarto e percebendo que ele ainda estava dormindo. Maldito preguiçoso. Revirei os olhos, eu poderia matá-lo agora, se realmente quisesse. Mas algo, no fundo do meu coração, me impedia de atacá-lo com tudo o que eu tinha. Como antes dito, eu sou uma covarde e que ainda será morta por isso.

Me troquei, enfiando-me num vestido preto scollo de corte americano. Era grande, seguindo até o meio dos joelhos, com as mangas compridas e um corte retangular no busto. Todas as minhas outras roupas, não eram diferentes disso. Lucian nunca gostou que eu usasse roupas curtas ou que mostrassem além, portanto, não seria agora que eu tentaria mudar o "visual", mesmo querendo. Me encarei pelo espelho, o coração acelerando ao perceber a presença do homem que tanto me intimida ali, me observando de forma intensa. Ghost estava parado na entrada do closet, os braços cruzados sobre o peito, os olhos escuros me devorando com aquele mesmo olhar predador de sempre. Era como se ele estivesse me analisando, cada movimento, cada detalhe da minha roupa, cada parte de mim que ele pudesse acessar com aquele olhar. Por um instante, senti um arrepio subir pela minha espinha. Eu estava tão consciente da presença dele, da forma como ele olhava para mim, que me sentia exposta, mesmo coberta dos pés à cabeça. O vestido preto que escolhi era longo, conservador, como todos os outros que eu tinha. Eu me vestia para o Lucian, para atender às suas expectativas de como uma esposa "perfeita" deveria ser. Mas agora, diante de Ghost, me perguntei por que ainda me importava com isso. Ele era o oposto de tudo o que Lucian representava, e mesmo assim, sua presença me desestabilizava de um jeito que eu não conseguia entender.

Dark Redemption [Simon Riley]Onde histórias criam vida. Descubra agora