A Tempestade Anterior

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**A Tempestade Interior**

A manhã seguinte chegou com uma serenidade irônica, enquanto o caos emocional de Minho crescia em intensidade. Ele acordou cedo, como de costume, já que o trabalho na empresa não esperava. A rotina sempre foi sua zona de conforto, onde ele conseguia manter a mente focada em números, contratos e fusões, sem espaço para distrações emocionais. No entanto, dessa vez, mesmo o ruído previsível de e-mails e reuniões não conseguia silenciar o que estava martelando em sua cabeça: Jisung.

Aquele beijo da noite anterior havia deixado uma cicatriz que ele não sabia como tratar. Por mais que tentasse, não conseguia afastar a imagem de Jisung de sua mente. O sabor da dúvida ainda estava ali, corroendo sua convicção de que tudo aquilo não passava de algo casual. E, pior ainda, a pergunta de Jisung ecoava como um mantra: "Não pode ou não quer?"

Minho tentou afogar esse turbilhão emocional em trabalho. A manhã foi cheia de reuniões, discussões sobre a expansão de uma nova linha de produtos e uma conferência com investidores. Ele desempenhou seu papel com a habilidade e precisão esperadas de um herdeiro Lee, mas por dentro, algo estava desmoronando. Sentia-se como se estivesse interpretando uma peça ensaiada milhares de vezes, enquanto o verdadeiro Minho permanecia preso em algum lugar longe dali.

Na hora do almoço, seu telefone vibrou com uma mensagem que ele sabia que viria. Era de seu pai.

_"Precisamos conversar. Sua mãe e eu estamos pensando em algo importante para o futuro da família."_

Minho suspirou, sabendo exatamente o que significava. Eles estavam, mais uma vez, planejando forçá-lo a considerar um casamento arranjado. Nos últimos meses, essa pressão havia se intensificado. Eles já tinham apresentado uma lista de possíveis noivas, mulheres de famílias poderosas e influentes, todas perfeitamente adequadas ao papel de esposa do herdeiro dos Lee. A questão não era se ele se casaria, mas quando e com quem.

No final do dia, quando Minho voltou para seu apartamento, estava exausto, mas sabia que aquela noite não lhe traria descanso. A pressão da família, a incerteza sobre o que sentia por Jisung, tudo estava se acumulando. Quando abriu a porta, não esperava ver ninguém, mas novamente, Jisung estava lá.

— De novo? — Minho falou com um meio sorriso, tentando esconder o desconforto.

— Eu disse que gosto de bagunçar as coisas — Jisung respondeu com uma risada despreocupada, levantando-se do sofá. — E parece que sua vida precisa de um pouco de bagunça, não acha?

Minho não respondeu de imediato. Havia algo na presença de Jisung que o deixava tenso, mas não de forma negativa. Era como se o rapaz o forçasse a encarar partes de si mesmo que ele preferia manter trancadas. Jisung não era apenas uma distração casual; ele era a peça que faltava para que o caos tomasse conta do jogo.

— Minha família... — Minho começou, mas logo parou, sem saber exatamente o que dizer. Ele estava acostumado a ser o mestre das palavras, das negociações, mas com Jisung, tudo era diferente.

— Sua família quer te empurrar para o casamento? — Jisung completou a frase, com um olhar que era uma mistura de provocação e empatia. — Achei que você já sabia como eles jogavam.

Minho fechou os olhos por um segundo, tentando organizar os pensamentos.

— Eles querem me casar com alguém... adequado. Para manter o legado da família intacto. — Minho abriu os olhos e encarou Jisung. — E você... você só complica isso.

— Eu? — Jisung deu um passo à frente, ficando próximo de Minho. — Eu não estou complicando nada. Só estou mostrando que existe uma outra maneira de viver, uma maneira que não envolve seguir regras que você nunca escolheu.

Minho riu, uma risada amarga.

— Você não entende o que é ser parte disso, Jisung. Existe um caminho que já foi traçado para mim desde antes de eu nascer. Eu sou uma peça no tabuleiro da minha família. Não posso simplesmente sair do jogo.

Jisung o encarou por alguns segundos, em silêncio. Então, com um movimento rápido e inesperado, ele pegou a mão de Minho, entrelaçando os dedos aos dele.

— Você pode não ter escolhido esse jogo, Minho, mas pode escolher como quer jogá-lo. Pode continuar sendo o peão que sua família move, ou pode ser algo mais. Pode ser o jogador.

Minho sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Era uma ideia que ele nunca havia considerado de verdade. Ser o jogador, e não apenas a peça. Mas a questão era: ele teria coragem para isso?

— E se eu escolher errado? — Minho sussurrou, quase sem perceber.

— Não existe escolha errada quando você faz o que quer. — Jisung apertou a mão de Minho de leve. — Eu não estou aqui para bagunçar sua vida de propósito. Só estou te mostrando que, às vezes, a bagunça é necessária para que algo novo nasça.

O olhar de Jisung era intenso, penetrante, como se ele pudesse enxergar além de todas as camadas que Minho tinha construído ao longo dos anos. Por um instante, Minho se sentiu vulnerável, exposto de uma maneira que jamais havia experimentado.

Ele puxou sua mão, com uma mistura de nervosismo e confusão, e se afastou, virando as costas para Jisung. As palavras do rapaz ecoavam em sua mente, mas ele ainda não sabia como processá-las.

— Eu não posso... — Minho começou, mas antes que pudesse terminar, sentiu as mãos de Jisung em seus ombros.

— Não agora. — Jisung sussurrou. — Mas um dia, você vai parar de dizer "não posso" e vai começar a se perguntar "o que eu realmente quero?"

Minho sentiu o peso dessas palavras, mas o medo de agir era maior. Ele sabia que estava em uma encruzilhada. Um caminho o levaria para uma vida que sua família havia planejado. O outro era incerto, confuso, mas oferecia algo que ele nunca soubera que precisava: liberdade.

A tempestade dentro de Minho continuava a crescer. E, mais do que nunca, ele sabia que, em breve, teria que fazer sua escolha.

𝕾𝖆𝖌𝖗𝖆𝖉𝖔 𝕻𝖗𝖔𝖋𝖆𝖓𝖔 - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora