O Tabuleiro Virado

7 2 0
                                    

**O Tabuleiro Virado**

As semanas que se seguiram foram um turbilhão. Minho tentava se concentrar nos negócios da família, mas cada reunião, cada nova negociação era permeada pelos ecos de suas conversas com Jisung. As palavras dele — "você pode escolher ser o jogador" — martelavam em sua mente sem cessar. E enquanto Minho continuava a desempenhar o papel do filho obediente, ele sentia que o controle, que ele sempre acreditou ser absoluto, estava cada vez mais frágil.

Sua família intensificou os esforços para arrumar um casamento. A pressão se tornava cada vez mais palpável, especialmente durante os jantares com seus pais. A mãe de Minho, sempre elegante e discreta, começou a mencionar "possíveis candidatas" com mais frequência, tentando tornar a ideia de um casamento arranjado algo inevitável. Seu pai, por outro lado, era mais direto, deixando claro que o casamento seria um movimento estratégico para a empresa, consolidando alianças e garantindo que a família Lee continuasse no topo.

Uma noite, durante mais uma dessas conversas sufocantes, Minho explodiu.

— Eu não quero me casar, pai! — A voz dele saiu mais alta do que pretendia, ecoando pelo salão de jantar luxuoso. Seus pais pararam, atordoados pela súbita demonstração de resistência.

Lee Jungwoo, seu pai, estreitou os olhos, o tom de voz tão frio quanto seu olhar.

— Isso não é sobre o que você quer, Minho. É sobre o que você deve fazer. Você é um Lee, e os Lee não seguem desejos pessoais. Seguem deveres.

Minho sentiu o peito apertar. Era a mesma lição que ouvira durante toda sua vida. Sempre havia sido assim, desde criança, moldado para ser a extensão dos interesses da família, o herdeiro perfeito. Ele sabia que questionar a autoridade do pai era como desafiar o próprio destino. Mas algo em seu interior, uma faísca que ele nunca havia sentido antes de conhecer Jisung, começou a queimar. Uma chama de insatisfação, de desejo por algo diferente.

— E se eu não quiser seguir esse caminho? — Minho rebateu, o olhar fixo no do pai, desafiando-o pela primeira vez.

O silêncio que se seguiu foi pesado, quase insuportável. Sua mãe olhou para ele com olhos arregalados, como se ele tivesse dito algo incompreensível. Seu pai ficou em silêncio por alguns segundos, os dedos tamborilando a mesa de mármore.

— Então você será um traidor da família — a voz de seu pai era tão fria quanto a lâmina de uma faca. — Um traidor de tudo o que construímos.

As palavras de seu pai perfuraram Minho como um golpe, mas ele permaneceu firme. O que antes o assustaria, agora parecia diferente. Ele sabia que algo estava mudando dentro de si, mas ainda não estava pronto para admitir.

Sem dizer mais nada, Minho se levantou da mesa e saiu de casa, os passos ecoando pelo chão de mármore. Ele sabia que aquilo não terminaria bem, mas pela primeira vez em sua vida, não se importava com as consequências.

### **Encontro Decisivo**

Naquela noite, Minho dirigiu sem rumo pelas ruas iluminadas de Seul. O tráfego fluía como um rio de luzes, mas sua mente estava em outro lugar. Ele parou o carro em uma área tranquila, uma pequena praça que ele costumava visitar quando precisava de silêncio. Era tarde, e a cidade parecia distante, apesar de todo o movimento.

Sentado em um banco, Minho encarava o vazio, tentando processar tudo. O peso das expectativas de sua família parecia insuportável. Como ele poderia escolher um caminho diferente quando toda a sua vida havia sido moldada para seguir aquele que estava traçado?

Enquanto estava perdido em seus pensamentos, uma voz conhecida o tirou de seu transe.

— Achei que te encontraria aqui. — Jisung apareceu, como sempre, sem aviso, mas dessa vez, havia algo diferente em sua postura. Ele estava sério, o sorriso provocador que geralmente carregava nos lábios, ausente.

Minho suspirou, sem forças para resistir à presença de Jisung. Na verdade, ele não queria resistir.

— Tive uma briga com meu pai — disse Minho, sem rodeios.

Jisung se sentou ao lado dele, deixando um breve silêncio se acomodar entre eles antes de falar.

— Sobre o casamento?

Minho assentiu, seus olhos ainda fixos no horizonte.

— Ele disse que se eu não seguir o caminho deles, vou ser um traidor. Que tudo o que construímos vai desmoronar por minha causa.

Jisung ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando as palavras. Quando finalmente falou, sua voz estava cheia de uma sinceridade que Minho não estava acostumado a ouvir.

— E o que você pensa sobre isso? — Jisung perguntou, o encarando com intensidade.

Minho o olhou de volta, sentindo um nó se formar em sua garganta. Pela primeira vez, ele se permitiu ser honesto.

— Eu não sei... Eu cresci achando que devia tudo a eles. Que devia ser o herdeiro perfeito, seguir o caminho, proteger o nome da família. Mas agora... agora sinto que estou preso em uma vida que não escolhi.

Jisung se aproximou um pouco mais, seus olhos suavizando enquanto ele colocava uma mão no ombro de Minho.

— A vida que você não escolheu... ainda pode ser deixada para trás. Você tem o poder de mudar isso.

Minho riu amargamente.

— E para onde eu iria? Não sou ninguém sem o nome Lee. Sou apenas uma peça no jogo deles.

— Não, você não é só uma peça, Minho — Jisung retrucou com firmeza. — Você é o único que pode virar o tabuleiro. Só você pode decidir como jogar.

As palavras de Jisung bateram forte. Algo dentro de Minho finalmente começou a se quebrar. Ele se levantou abruptamente, sentindo o peso de anos de conformidade e pressão se erodendo. Pela primeira vez, ele se permitiu considerar a possibilidade de que Jisung estivesse certo.

— Se eu fizer isso, vou perder tudo — Minho murmurou, quase como uma confissão.

Jisung se levantou, ficando ao lado dele.

— Talvez perca. Mas você ganhará algo muito mais valioso: a chance de ser quem você realmente é.

Minho o olhou nos olhos, e pela primeira vez, ele sentiu que a decisão estava ao seu alcance. Ele poderia continuar jogando o jogo sujo de sua família, ou poderia ser o jogador, virar o tabuleiro e seguir seu próprio caminho. Não havia garantias, e o medo ainda estava ali, mas a ideia de liberdade, de viver sem máscaras, era tentadora demais para ser ignorada.

Minho deu um passo em direção a Jisung, olhando diretamente em seus olhos.

— E você? — Minho perguntou, a voz baixa. — O que você quer de tudo isso?

Jisung sorriu, dessa vez sem a habitual provocação, mas com algo mais sincero, mais profundo.

— Quero te ver escolher a si mesmo, Minho. Só isso.

A tempestade dentro de Minho finalmente encontrou direção. O jogo estava prestes a mudar, e pela primeira vez, ele estava pronto para jogar suas próprias regras.

𝕾𝖆𝖌𝖗𝖆𝖉𝖔 𝕻𝖗𝖔𝖋𝖆𝖓𝖔 - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora