O vazio... era aonde minha consciência habitava, quando fui acordado com tapinhas de leve em minha bochecha. Reagi em um espasmo de susto, me esquivando inconscientemente de quem tocava meu rosto. Em completa desorientação, não consegui entender o que estava acontecendo a princípio, até sentir uma estranha sensação de imobilidade me impedir de me mover. Quando forcei meus olhos contra a tontura que parecia duplicar minha visão, percebi que meus braços, estavam amarrados em uma cadeira de aço. Droga...
– Olha ele aí... – disse alguém próximo ao meu rosto, em um tom sarcástico.
Mantive meu rosto esquivado para o lado, olhando para baixo. A respiração acelerando a cada segundo em que o pânico me trazia de volta a lucides.
– Seu idiota! Oque pensa que está fazendo...? – alguém sussurrou ao fundo, chamando a atenção. – Não toque nele!
Quem quer que estivesse próximo a mim, se afastou. Logo após, uma pequena discussão silenciosa se seguiu ao fundo. Mas os sons dos cochichos exasperados pareceram se tornar distantes aos meus ouvidos, à medida em que um nevoeiro de pensamentos turvos e fragmentos de memórias rasgadas voltaram a me escurecer a visão. Flashes da perseguição na rodovia, os tiros sobre o teto do carro, a batida de ré, vinham sobre mim como clarões de uma tempestade furiosa. Um último relapso de lembrança, me levou até o momento em que uma van nos atingia de surpresa pela lateral, e em seguida tudo se convertia em imagens destorcidas e alucinações abstratas.
ALEX....
Um aperto no peito quase me sufocou a respiração. Onde ela estava? Tentei olhar para os lados, mas a alta claridade me limitava a enxergar apenas borrões do ambiente, ainda indecifrável por mim. Que lugar era esse... Onde eu estava? Aonde estava Alex?
Voltei a encarar meus próprios pulsos, amarrados aos braços da cadeira. Em uma tentativa corajosa, tentei move-los minimamente, mas era como se estivessem petrificados. Tal sensação elevou meu pânico aos limites de um colapso nervoso, que rapidamente se converteu em um estado de alerta, quando o som abafado de uma porta se abrindo ao fundo ressoou aos meus ouvidos. Estremeci.
Passos pesados preencheram o ambiente, e logo em seguida alguém se apressou em dizer:
– Ele acordou Senhor.
Um silêncio.
– Saiam. – disse uma voz profunda.
A ordem pareceu ser acatada prontamente, pois uma insinuação de movimentos apressados se seguiu com o som da porta se fechando. O silencio novamente recaiu sobre o lugar, mas foi rapidamente dissipado quando passos se destacaram ao fundo e começaram a vir em minha direção.
Minha respiração se tornou turva conforme as passadas se seguiam uma depois da outra, longas e pesadas, ressoando aos meus ouvidos como o prenuncio da morte. Eu estava completamente entregue aquele momento de terror, quando sapatos lustrosos e uma grande sombra negra passaram lentamente pelo canto dos meus olhos, seguindo reto sobre um carpete vermelho sangue com bordados dourados que de repente começaram a se destacar em minha visão. Acompanhei os passos em meu olhar temeroso, até vê-los parar logo à frente do que parecia ser uma grande mesa de madeira rustica aonde ele se apoiou, voltando a ponta dos sapatos em minha direção.
Engoli em seco, ao levantar meus olhos lentamente sobre as longas pernas e o tronco esguio, marcado logo a cima por um peitoral robusto e ombros largos. Quando ergui meus olhos o suficiente para ver o seu rosto... Uma luz intensa que parecia emanar de uma longa janela ao fundo, não me permitia enxergar mas do que um acobreado sombrio da sua face...
– Henry Wilson... Não era um nome que lhe caísse bem no fim das contas. Não e mesmo... William Clarck.
Ouvir aquela voz... Foi como sentir o ar dentro do meu peito entrar em combustão. Uma terrível sensação de asfixia me impediu de conseguir respirar, à medida em que diante dos meus olhos a claridade se dissipava, e aos poucos um par de íris acinzentadas se revelava nas sombras daquele rosto empalecido que se mostrava da escuridão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A arte de ser um ladrão. (Dark romance gay)
ActionWilliam Clark e um jovem rapaz de beleza doce e charme cativante, mas não se engane pelas aparências, desde muito cedo ele foi condicionado a uma realidade difícil que lhe concedeu habilidades extraordinárias na arte do roubo. Em parceria com Alex C...