RACHEL
O plano deu mais que certo. Gustavo caiu como um patinho, e eu? Eu caí nas garras, e que garras, do homem que armou toda essa confusão onde meu irmão está metido.
Algumas coisas são difíceis de compreender, para outras não é necessário esforço nenhum.
Homens simplesmente são, homens.
Durante longos anos tive um homem que me amava. Mentira, Louis nunca me amou. Eu era seu porto seguro, a figura com a qual ele sabia que podia contar, era o lugar para onde ele voltaria todas as vezes que se sentisse triste ou frustrado. Fui a esposa troféu de um homem egoísta e insensível.
Não vou me queixar da vida, um dos conselhos de meu pai em sua grande sabedoria, é de que colhemos exatamente aquilo que plantamos. Talvez o que fiz Ray passar todos esses anos achando que eu não o amava, tudo para não deixar meu enorme ego abalado, tivesse um preço. Eu paguei, na verdade ainda estou pagando, afinal não é fácil dormir e acordar com as histórias que acabei descobrindo.
Que eu trepei com o Lucas dentro daquela boate como uma fêmea no cio e o que achei dele vir me pedir perdão pelo que havia feito ao meu irmão, não é mais novidade. Senti uma enorme vontade de perdoa-lo pelo que fez, mas isso nunca será possível. Ray jamais perdoará Lucas, por quase ter posto um fim em seus planos e sonhos. Não posso sucumbir ao desejo e contrariar meu irmão, justo quando estamos nos entendendo tão bem.
O que é inédito, é estar pronta para embarcar para LA, com toda minha família reunida, e ser obrigada a correr rapidamente para o banheiro do aeroporto, super apertada.
Entro bem depressa e quase não dá tempo de tirar a calça. Imagine a vergonha da vida, fazer xixi na calça depois de estar dentro do reservado do banheiro. Tudo perfeito, abro a porta para sair, mas ao invés disso, sou empurrada de volta para dentro do reservado por um homem enorme. Suas mãos correm de encontro ao meu corpo, uma fechando minha boca e outra na parte de trás da minha cabeça, impedindo-a de se chocar com a parede.
Seus olhos escuros semicerrados estão fixos nos meus, que a essa altura devem ter o dobro do tamanho.
— Shhh, não grite — ele sussurra em meu ouvido e não consigo me mexer, não de medo, apenas o susto e também a surpresa por ele estar ali, mesmo sabendo que meu irmão e toda nossa família estão lá fora.
Ele afrouxa a mão dos meus lábios e eu consigo balbuciar algumas palavras.
— Lucas me solte, você ficou louco? — Tento me desvencilhar do paredão à minha frente, mas é simplesmente impossível, ele não se move.
— Estou louco desde aquela maldita noite na boate, Loirinha Devassa. Você tem que aprender uma lição e faço questão de te ensinar.
Seu olhar é faminto, as mãos passando por meu corpo são urgentes. Entretanto, a voz de Carla irrompe o silêncio do banheiro nos assustando.
— Rachel querida, seu irmão está impaciente lá fora, está tudo bem cunhada? — ela pergunta alheia a tudo.
— Si...sim Carla, está...tá tudo bem, já estou saindo — digo, olhando para Lucas, que fecha os olhos e encosta a testa na minha soltando o ar, claramente desgostoso da situação.
— Então vamos, você conhece seu irmão, se demorar mais um minuto ele entra aqui pra te arrastar. — Ouço seus passos para a saída do banheiro.
— Dois minutos e eu estou com vocês, cunhada.
— Tudo bem, eu te espero lá fora.
As palavras de Carla nem são proferidas e Lucas toma meus lábios com uma urgência que me assusta, mal consigo retribuir à altura e acabo me sentindo uma adolescente boba, que nem beijar um homem de forma decente consegue.
— Vá, eu te vejo em LA. Logo estarei lá, irei procurá-la. Temos muito o que conversar mocinha, não pense que não sei o que anda fazendo. — Suas palavras e o sorriso safado que dá deixam-me em dúvida se ele está me repreendendo ou gostando desse jogo. Prefiro acreditar que sejam as duas coisas.
— Não se aproxime de mim, Lucas, meu irmão quer ver o demônio, mas não quer encontrar você na frente dele, não preciso de mais problemas do que já tenho. — Não sei de onde tiro as forças, mas as palavras saem, sem atropelos.
Tento abrir a porta do reservado, mas ele a segura. Abraça-me por trás e sussurra em meu ouvido, — Você não entendeu Rachel Turner, nós não estamos no tribunal, aqui você não é a advogada poderosa que tem a última palavra. Neste jogo, a última palavra é minha e hoje ela é "Eu te vejo em LA".
Não vejo mais nada, a porta é aberta e sou quase que empurrada para fora com um tapa bem firme na bunda. Ele a fecha novamente e penso em voltar lá e discutir, mas ao ver a bagunça que estou no espelho, desisto, afinal, em meio minuto Ray entraria nesse banheiro e me arrastaria pelos cabelos. Tento me organizar rapidamente, mas os lábios borrados e a pele vermelha me denunciam, faço o melhor que posso e já dou de cara com Ray, na entrada do banheiro, sendo puxado por Carla.
— Até que enfim, mulher, eu já estava indo lá te buscar. — Ele me olha firme e passa o olhar por cima de meus ombros.
— O que foi Ray? Quer entrar lá no banheiro e sentir o cheirinho nada agradável da feijoada que comemos no almoço? Ou será que nem uma dor de barriga agora eu vou poder ter? — Ele me olha com desconfiança e Carla corre para o primeiro cesto de lixo disponível. Lá se vai o almoço da minha cunhada.
Estou com pena dela, mas pelo menos enquanto Ray estiver focado no mal-estar dela, poderei respirar e tentar pensar no que acabou de acontecer.
A viagem passa num borrão, porque entre as crianças perturbando por não poderem brincar e Carla passar quase o voo inteiro no banheiro vomitando, sobrevivemos e chegamos em casa.
Agora sim, enfim, minha casa, minha cama, meu lar.
Aproveitei a ida ao Brasil e gastei boa parte das economias e do seguro que Louis deixou, reformando a casa e apagando o máximo de memórias possíveis dele. Louis agora resume-se a um porta-retratos no quarto de cada um de nossos filhos. Pelo menos não foi canalha ao ponto de nos deixar na miséria. Nossa conta conjunta permaneceu intocada, assim como as poupanças das crianças, a escritura da casa e o seguro de vida que apesar de não ser milionário, custeou a mudança dos móveis e a nova pintura.
As crianças estranham a mudança, mas sei que vão curtir as novidades. O que mais as chateia é que Babi não veio para nossa casa, os pequenos imaginavam que ela moraria aqui, por isso não foi fácil, mas os tranquilizei quando disse que se veriam todos os dias na escola.
Esta é minha primeira noite em casa depois da morte dele, mas não é nele que estou pensando.
Continua...
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Paixão Impossível (Livro 2 da duologia Paixão) - DEGUSTAÇÃO
ChickLitPLÁGIO É CRIME. OBRA REGISTRADA! ESSE LIVRO ESTEVE COMPLETO AQUI ATÉ O DIA 08/10/2016. AGORA ESTÁ DISPONÍVEL NO SITE DA AMAZON. Rachel Turner é uma advogada linha dura e muito bem conceituada. Irmã do famoso astro de cinema Ray Turner, Rachel nun...