CAPITULO 3 - PARTE 1 - RACHEL

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RACHEL

A primeira noite em casa não foi exatamente o que eu esperava, mas não foi de todo ruim.

Hoje minha vida volta aos trilhos no trabalho e minha busca pela satisfação pessoal entra em outro patamar. A mensagem de texto logo cedo evidencia isso.

"Se já estiver de volta a LA, apenas me responda com um sim."

Respondo com a pressa de quem tem fome de aprender mais.

"Sim"

Aguardo ansiosa o que vem em resposta.

"Almoço ao meio dia, no lugar de sempre. Por favor não se atrase."

Meu coração palpita em expectativa, imaginando o que dirá quando eu lhe contar o que aconteceu no Brasil.

"Combinado, não me atrasarei."

Saio da cama e me preparo para o dia que promete ser puxado. Katie e seu instinto protetor estão sempre me favorecendo desde que seu irmão nasceu. Das semelhanças comportamentais do pai, essa é a que mais me agrada. Ela já está de pé e arrastando um John sonolento para o banheiro a fim de ajudá-lo a escovar os dentes.

— Pode deixar meu amor, mamãe cuida do John. Pode se arrumar tranquila. — Beijo sua testa e ela retribui com um sorriso genuinamente feliz.

— Obrigada mamãe. A Babi já vai à escola hoje? — A curiosidade dela também afeta John, que parece despertar ao ouvir o nome da priminha.

— Acredito que ainda não, meu amor. Tio Ray e tia Carla tem que procurar a escola e acertar as coisas primeiro, mas espero que eles façam isso logo.

— Poxa, mamãe, pensei que já poderia apresentar a Babi aos meus amigos. — Ela me encara com um olhar pesaroso.

Fico de joelhos e abraço aos dois juntos, enchendo-os de beijos, — Logo, logo meu amor. Sua priminha vai sentir um pouco de dificuldade no início, ela não é muito fluente em nossa língua, mas tenho certeza que vocês vão ajudá-la.

— Claro que vamos, não é John?

— Vamos sim, Katie, a Babi é minha amiguinha e meus amigos vão ajudar também. — Meu menino é um amor. Assim como o pai, também é de poucas palavras, mas às vezes tão sábio que eu suponho haver um velhinho no corpo desse menino de seis anos.

— Então vamos nos arrumar logo porque estamos nos atrasando — digo e os dois saem correndo empolgados para o novo dia.

*******

Saímos um pouquinho atrasados, mas nem considero demora levando em consideração a viagem e o cansaço em que nos encontrávamos.

A empregada que contratei para me ajudar nessa nova fase, que também foi responsável por toda a limpeza e arrumação da casa no fim da reforma, chegou bem cedo, muito animada e disposta para a nova etapa.

Passei com ela nossa rotina diária e as crianças adoraram sua disposição para brincadeiras. Marie, é uma mulher muito dedicada e atenciosa, não deve ter mais do que a minha idade, mas o tempo e as dificuldades que imagino que já tenha passado na vida a fazem parecer um pouco mais velha. Até onde sei, ela foi abandonada pelo namorado, grávida de seu filho, que agora tem vinte anos. Se esforça com sua mãe para manter o rapaz na faculdade de Medicina que sempre sonhou.

Desde o dia em que a entrevistei tenho uma boa impressão dela, sinto que além da relação de patroa e empregada poderemos ser boas amigas. Aliás, não tenho muitas mesmo, a maioria das amigas que tinha eram mulheres solteiras e "à procura" como Louis dizia. Não eram a melhor companhia para uma mulher casada e de respeito como eu. Mais uma das palhaçadas que acabei aceitando com a ideia de que era realmente o melhor para mim. Odeio a ideia de que fui tão idiota e por tanto tempo.

Entro no carro com as crianças e as levo para a escola, solto pesadamente o ar preso em meus pulmões. Em minha mente apenas um pensamento, "De agora em diante mocinha, você vai ser o que quiser e acima de tudo vai ser feliz".

*******

A manhã passou como um borrão, tantas coisas para assinar e me atualizar, nos processos que deixei em andamento, acabaram me deixando meio tonta, à ponto de olhar para o relógio e ver que faltavam apenas quinze minutos para o meio-dia. Jamais conseguiria chegar ao local do encontro em quinze minutos, mesmo assim, larguei tudo e sai correndo para o carro e na dúvida se mandava um SMS comunicando meu atraso, acabei optando por não enviar.

Quinze minutos atrasada, para alguém que não tolera atrasos, é um absurdo total, nem me admiraria se acabasse almoçando sozinha. De qualquer maneira, paro o carro na porta do restaurante requintado e exclusivo, um manobrista vem em minha direção, entrego as chaves a ele e saio quase correndo em direção à porta, antes de alcançá-la acabo batendo de frente com ele.

— Não corra, Rachel, uma mulher de classe, por mais atrasada que esteja, jamais anda pela rua correndo como uma adolescente desorientada. — Essa eu mereci, nem argumentei.

— Desculpe pelo atraso, minha rotina está um pouco confusa ainda, com o retorno da viagem. — Tento me desculpar.

Desfazendo um pouco a carranca que há segundos atrás toldava em seu rosto e esboça um sutil sorriso de lado. Sinto minhas pernas ficarem bambas, o poder desse homem sobre mim é algo inexplicável. Sinto-me a própria mariposa atraída pela luz, sei que posso me queimar, mas meus instintos me atraem a ele, que toma minha mão e a beija suave e lentamente, arrepios tomam conta do meu corpo. Sou guiada por ele para dentro do restaurante.

— Vou lhe dar um desconto, afinal é a primeira vez que se atrasa e a compreendo com relação à ressaca pós viagem. No início de minhas viagens também sentia isso, com o tempo acostumei com o jet lag. Admito que estava indo embora, mas como chegou antes que me fosse vamos voltar, estou curioso com suas descobertas no Brasil.

Como sempre sua atitude cavalheiresca me deixa encantada, ele puxa a cadeira para que me sente e ajusta sua proximidade à mesa. Senta em minha frente e mantém seu olhar firme no meu. Não me amedronta de maneira nenhuma, estou acostumada a lidar com homens poderosos como ele todos os dias no tribunal. O que me incomoda e ao mesmo tempo causa ansiedade, é o poder que tem de me fazer sentir nua, mesmo estando usando um terninho de caimento impecável.

O garçom aproxima-se e como já o conhece de longa data, conhecendo seus gostos, pelo menos é o que posso deduzir pela maneira como se apresenta, oferece ao meu acompanhante um dos melhores vinhos da casa.

— Sr. Williams, em que posso ajudá-lo nesta visita ao nosso restaurante — ele diz com um falso sotaque francês.

— Minha acompanhante e eu saborearemos o bacalhau, especialidade do Chef Henry. Então para este prato, que vinho nos sugere?

— A safra do Chardonnay, "Louis Corton-Charlemagne", está excelente, senhor. Acredito que tanto o senhor quanto a bela jovem que o acompanha irão ficar satisfeitos com o paladar dessa mistura. — Eu já tinha notado os olhares do garçom sobre mim, mas mesmo assim o admirei, é muita coragem elogiar uma mulher na frente de um homem que é claramente um dominador.

— Confio plenamente em sua sugestão, meu jovem, pode providenciar nosso pedido e peça ao Chef que lembre quem está servindo. — Seu poder de persuasão me deixa em choque.

— Sim, Sr. Williams, farei questão de comunicá-lo. — O garçom sai e ficamos a sós. Rodeados de pessoas em um restaurante tranquilo, mas é como se estivéssemos sozinhos.

— Então, minha linda senhora, conte-me o que aconteceu no Brasil, quero saber a que nível de experiência chegamos.

É incrível como mesmo após esses quase dois meses de convivência, ainda me sinto como se fosse a primeira vez


Paixão Impossível (Livro 2 da duologia Paixão) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora