CAPITULO 3 - PARTE 2 - JEFFREY

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JEFFREY

Vi Rachel Turner pela primeira vez há alguns meses, em um momento delicado de minha vida, quando cheguei a propor algo que jamais imaginei fazer à uma mulher. Pedir Carla Mendes em casamento foi um ato de puro desespero, algo insano do qual me arrependo. Não pela mulher que é, tanto física quanto emocionalmente, muito pelo contrario, um belo exemplar de mulher, com olhos encantadores, mas definitivamente não é o tipo de mulher que me vira a cabeça, ou que me faz ter ereções a qualquer momento. O problema foi o que vi em Carla.

Veja bem, venho de uma família tradicional e conhecida internacionalmente. Um herdeiro cobiçado, mas ainda solteiro aos quarenta e dois anos, vira o foco, tanto da família como da imprensa sensacionalista, que se vale de meu status para publicar suposições sobre meus gostos e preferências. Para ser sincero não sinto a menor vontade de me defender. Já fui chamado de gay, brocha e pouco dotado, isso foi dito por supostas ex-namoradas, que alegaram que eu não conseguiria satisfazer uma mulher sexualmente por conta do tamanho de meu pau. Absurdos e historias infundadas constantes. Perdi a conta de quantos processos meus advogados já ganharam por conta dessas notícias, é triste pensar que isso é a indústria da mentira.

O fundo do poço de minha situação ocorreu no último Natal em família, quando minha mãe e minhas irmãs resolveram se meter, literalmente, em minha vida, fazendo com que meu pai determinasse o prazo de um ano para que me casasse.

Um ano para ter uma mulher e a chamar de minha.

Um ano para mudar minha vida ou perder a presidência das empresas para uma de minhas irmãs mais novas.

Jamais aceitaria isso, abrir mão de tudo que trabalhei, tão duro ao lado do meu pai, para construir pela mera formalidade de um casamento.

Esse motivo me levou a propor casamento à Carla. Vi nela a mulher para casar, mas ao mesmo tempo pude perceber o quanto infeliz a faria e ela definitivamente não mereceria tal destino. Ray Turner viu nela o mesmo que eu, com a diferença que ele realmente a amava e a faria feliz.

A mulher à minha frente, no entanto, foi uma surpresa para mim. Rachel é uma mulher curiosa e inteligente, sabe o que quer e está determinada a se descobrir. Nunca fui de me considerar um homem de sorte, acredito realmente em escolhas lógicas e trabalho árduo , mas com Rachel foi diferente. Considero que ambos tivemos sorte, eu, por estar naquela boate, e ela, de ter a mim para protegê-la.

Lembro-me do dia há cerca de dois meses, quando entrou assustada na boate repleta de homens canalhas e sedentos por sexo com uma mulher daquele jeito, com um misto de inocência e determinação. Na ocasião, encontrava-me, como sempre na área especial, lugar em que eu e os poucos amigos e sócios do lugar costumamos ficar. Ela entrou assustada e ao mesmo tempo com um olhar curioso, seguiu diretamente para o bar, onde acreditava que o barman poderia responder suas perguntas impertinentes.

Naquele mesmo instante a reconheci, se há algo de que nunca me esqueço na vida é um rosto, ainda mais um como o dela. Isso me levou a sair da área reservada e ir em sua direção, parando discretamente ao seu lado, no instante em que um idiota tentava agarrá-la. Apenas um olhar e o imbecil saiu de fininho, olhando-me de lado com a cara fechada. Ela me olhou e agradeceu silenciosamente. Tinha nas mãos uma foto e pediu uma dose de whisky ao barman.

— Não prefere começar com algo mais suave, minha senhora? — perguntei, pensando em como uma dose de whisky a deixaria, afinal não parecia uma mulher de aparência tão delicada estivesse acostumada a bebidas fortes.

— Eu literalmente preciso beber, a vida não tem sido muito gentil comigo nos últimos dias. — Seu olhar estava cansado e de maneira geral, ela não me parecia muito bem.

— Se eu puder ajudar, terei prazer em fazê-lo — disse, com a intenção de fazê-la se abrir.

— Só poderia me ajudar se olhasse para essa foto e me dissesse que esse homem não esteve aqui e nem em outras boates como essa, jogando e vivendo uma vida de luxúria e esbórnia, enquanto eu estava em casa sendo a esposa perfeita do marido perfeito em um casamento perfeito. — Ela virou o restante do líquido do copo garganta abaixo de uma só vez.

Havia entendido tudo. A foto era de Louis Flaner, um dos mais assíduos clientes, não apenas dessa boate, como das várias outras em que sou sócio. Todos, ou a maioria, sabiam que ele era casado com a irmã de um astro do cinema, eu só não sabia qual, até aquele instante.

Mundo pequeno ou não, a mulher à minha frente tinha sangue nos olhos. Transpirava ódio por todos os poros.

— Mantenha a calma sim? Para tudo nessa vida tem um jeito. — Acho que o sujeito na foto está em maus lençóis nesse momento, porém não sou eu quem vai tripudiar sobre a burrice alheia.

Veja bem, por meu ponto de vista. Quando sugeri e propus casamento à Carla Mendes, deixei bem claro que não a amava, por conseguinte, caso ela mostrasse interesse no acordo, deixaria claro e evidente meu estilo de vida a ela, as coisas que gosto e que não gosto. Acredito que no momento que encontrar uma mulher pré-disposta a aceitar minhas inclinações sexuais, terei encontrado a esposa perfeita. Se ela irá querer me acompanhar em meu estilo de vida, serão outros quinhentos, mas penso que nesse caso a sinceridade é a alma do negócio, ou não haveriam mulheres como Rachel Turner, arriscando-se em uma boate cheia de homens, sedentos por sexo, em busca de informações sobre o marido traidor.

— Meu caro senhor, calma é uma palavra que não faz parte do meu vocabulário há mais de um mês. — Ela exala um ar pesado de seus pulmões, chego a sentir o hálito carregado de whisky, mesmo não estando tão próxima a ela. — Barman, mais uma dose, por favor!

— Ei, ei, vamos com calma, ok? — digo segurando a garrafa na mão do barman quando ele vai colocar mais uma dose em seu copo. — Sirva com bastante gelo, não queremos uma bela senhora saindo daqui sem poder manter-se em suas próprias pernas.

— Não mesmo, sirva assim, puro. — Ela me olha em desafio, não sei por que, mas gostei disso. — Nada de homens mandando em mim Sr... como é mesmo o seu nome?

— Williams, minha senhora. Meu nome é Jeffrey Williams — digo estendendo-lhe a mão, que ela prontamente pega e aperta firme.

— Rachel Turner. Pois muito bem, Sr. Williams, nada de homens mandando em mim, ok? Minha cota se esgotou há um mês, no momento em que joguei a ultima pá de terra em cima daquele desgraçado.

Como assim, o homem está morto? Agora realmente lembro-me de não o ter nos últimos dias. Mas morto? Que loucura.

— Está me dizendo que o homem nessa foto, está morto?

-— Exatamente, Sr. Williams e dou graças a Deus por isso, porque depois de tudo que já descobri, ele ainda estaria morto, mas eu infelizmente estaria na cadeia, pois o teria assassinado com prazer e dá forma mais dolorosa possível. — Ela me olha firme enquanto entorna a dose inteira da bebida de uma só vez.

Aquela mulher não estava brincando, ela foi realmente muito magoada por esse canalha. Não o estou julgando, no mundo em que vivo noventa e nove por cento dos homens é exatamente igual a ele, um bando de canalhas mentirosos, que prefere viver uma vida dupla do que ser sinceros com suas parceiras.

Não sei exatamente quando, nem como senti isso, mas algo dentro de mim dizia claramente que a mulher na minha frente precisaria de mim para passar por isso e superar seus traumas da melhor forma possível. Decido convidá-la a sentar-se comigo na área reservada. Para minha surpresa ela aceita prontamente.

No momento em que seguimos para ali, vejo-a passando os olhos por todos os lados da boate. As mulheres dançando no palco, algumas fazendo danças especiais para os homens e casais, percebo até que caminha mais devagar ao ver um casal gay beijando-se e acariciando-se enquanto olham com tesão para uma linda morena seminua rebolando em sua frente.

Eu esperava ver tudo no olhar dessa mulher, do nojo ao desprezo. Porém não é isso que vejo. Ela estava encantada, admirando tudo. Mesmo sem conhecê-la bem, ou seu finado marido canalha, pude perceber que o idiota perdeu a chance de uma vida. Ele perdeu a oportunidade de ter a vadia que deseja e a esposa perfeita em uma só mulher.

Paixão Impossível (Livro 2 da duologia Paixão) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora